Realinhamento geopolítico pode interromper até 30% do comércio global de minerais na próxima década

O atual quadro internacional marcado por tensões tem impulsionado um clima de incerteza global, impactando as cadeias de abastecimento. Consequentemente, o realinhamento geopolítico e das rotas comerciais pode interromper até 30% do comércio global de minerais na próxima década, segundo o estudo “The Mineral Shortage Is a Growing Problem. Hubs Offer a Solution”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG). A procura por minerais críticos, como lítio, níquel, grafite, cobalto e elementos raros deverá aumentar até 10 vezes neste período, atingindo 750 mil milhões de dólares em 2035, o que pressionará as cadeias globais de abastecimento, pelo que os hubs minerais regionais têm emergido como oportunidades de negócio e soluções para assegurar a estabilidade da oferta.

“A crescente necessidade de minerais essenciais exige que empresas e governos adotem estratégias urgentes para garantirem um abastecimento seguro e sustentável”, afirma Carlos Elavai, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa. “A volatilidade dos mercados, as restrições comerciais e as medidas nacionalistas sobre os recursos evidenciam a necessidade de diversificação e reforço das infraestruturas de processamento. A criação de polos minerais regionais surge como modelo para mitigar riscos, reduzir custos e garantir resiliência, enquanto permite maior controlo sobre a cadeia de valor, fomenta a inovação tecnológica e fortalece a competitividade a longo prazo.”

Apesar de os minerais serem recursos cada vez mais vitais para a economia mundial, o setor enfrenta desafios significativos. A procura crescente por estas matérias coincide com restrições geológicas, operacionais e tecnológicas significativas, incluindo o esgotamento das minas existentes, um declínio geral da qualidade dos minérios e uma deslocação das explorações para regiões de maior risco do ponto de vista geopolítico. Além disso, as regulamentações sociais e ambientais mais rigorosas contribuem para o prolongamento dos prazos de licenciamento, conduzindo a que o tempo médio entre a exploração e o início da produção seja atualmente de 16 anos.

Este atraso pode reduzir o valor de um projeto em mais de 60%, diminuindo a sua atratividade para os investidores e prejudicando a sua viabilidade. As restrições comerciais, a adoção de medidas protecionistas sobre os recursos e as tensões geopolíticas ameaçam fragmentar as cadeias de abastecimento

As restrições à exportação, as iniciativas de deslocalização e o aumento da adoção de medidas nacionalistas e protecionistas em matéria de recursos estão também a intensificar a concorrência pelos minerais essenciais e a fragmentar as cadeias de abastecimento mundiais. Ademais, as reservas destes minerais e as infraestruturas de processamento estão fortemente concentradas num número reduzido de países, com a China a ser responsável por 60% do processamento global. Esta realidade complica os esforços das nações consumidoras de diversificar as fontes, aumentando a dependência externa e expondo-as a maiores riscos de fornecimento. Os Estados Unidos e a União Europeia, por exemplo, estão a esforçar-se por garantir um acesso estável e sem restrições aos materiais essenciais para as suas indústrias. Para tal,

iniciativas como Inflation Reduction Act nos EUA e Critical Raw Materials Act da EU ilustram a vontade política dos governos em promover a relocalização da transformação e do fabrico de minerais nestas regiões e nos países com acordos de comércio livre.

O estudo revela ainda que quase 20% do fornecimento total de minerais globais que o mundo precisará até 2035 ainda não foi localizado, o que agrava a escassez destes materiais e a disputa pelo acesso aos mesmos, e coloca em causa a transição energética, o desenvolvimento da indústria tecnológica e setores estratégicos para a economia global no processo de descarbonização.

 

Hubs minerais regionais emergem como solução para garantir resiliência, eficiência e estabilidade 

Face à escassez da oferta e ao realinhamento das cadeias de abastecimentos, os polos minerais regionais estão a emergir como alternativa para minimizar riscos e garantir um acesso estável e eficiente aos minerais essenciais. Países como a Indonésia, Marrocos e Arábia Saudita estão a investir fortemente em infraestruturas de processamento para se posicionarem como centros estratégicos na cadeia de valor dos minerais críticos. Os hubs centralizam os produtos minerais concentrados de vários locais antes de os transformarem e venderem a utilizadores finais e, ao permitirem acordos de compra estáveis com parceiros ou promotores, asseguram a procura a longo prazo. Além dos seus benefícios diretos, estes também criam um ecossistema integrado que promove a inovação, a colaboração e o desenvolvimento sustentável. Neste contexto, a BCG revela sete elementos essenciais para que um polo mineral regional seja bem-sucedido:

  1. Fornecimento estável de minerais, garantido por parcerias estratégicas e acordos com governos de países ricos em recursos.
  2. Acesso a mercados a jusante, mediante integração em cadeias produtivas globais, seja através da procura interna ou de acordos de comércio com grandes mercados como os EUA e a UE.
  3. Elevada capacidade de processamento, alicerçada numa infraestrutura do que permita o processamento em larga escala para garantir eficiência operacional.
  4. Garantia de uma infraestrutura integrada, isto é, com boas redes de transportes, como portos, ferrovias e rodovias, além de acesso a água e matérias-primas essenciais.
  5. Acesso a energia acessível e sustentável, dado o elevado consumo energético do processamento mineral.
  6. Acesso a capital de baixo custo, ou seja, tem de atrair investidores globais para financiar infraestruturas
  7. Apoio governamental, através de regulamentação eficiente, incentivos fiscais e investimentos em qualificação de mão de obra e inovação.

 

A consolidação de hubs minerais exige cooperação entre governos, indústria e investidores para criar um ambiente regulatório favorável e impulsionar o desenvolvimento de infraestruturas, assegurando o acesso generalizado e justo a estas matérias-primas essenciais.

Carlos Elavai acrescenta ainda que “Portugal deve posicionar-se como um hub de minerais, capitalizando nos seus jazigos de lítio e na energia renovável. A instalação de refinarias e a simplificação dos processos de licenciamento podem atrair investimentos e fortalecer a cadeia de abastecimento europeia. Com políticas adequadas e o incentivo à economia verde, Portugal pode liderar na transição para um mercado de minerais mais resiliente e sustentável.”

 

Fonte: BCG

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