O desperdício alimentar no retalho pode ser reduzido em um terço. A conclusão é de um estudo desenvolvido pela consultora BCG (Boston Consulting Group), em parceria com a Sonae e o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). No relatório “A Recipe to Reduce Food Loss and Waste” são propostas cinco medidas para reduzir as perdas ao longo da cadeia de distribuição, que já estão a ser testadas nos supermercados da Sonae.
Estima-se que todos os anos sejam desperdiçados cerca de um terço de todos os alimentos produzidos, o que representa 1,6 mil milhões de toneladas de alimentos a nível global e mais de 1 milhão em Portugal, «com elevados custos a nível ambiental e social».
Neste sentido foram lançados cinco projectos-piloto para reduzir o desperdício de frutas e vegetais (áreas onde se verifica o maior desperdício). «Os resultados iniciais estimam que, alargando a escala, as medidas aplicadas permitiriam diminuir em um terço o desperdício ao longo da cadeia de abastecimento da Sonae. Ou seja, seriam desperdiçadas menos 12 mil toneladas de alimentos por ano. Isto representaria também a geração de um valor de 10 milhões de euros por ano, entre poupanças e novas oportunidades de negócio, para os vários participantes na cadeia de abastecimento. Se aplicadas a todo o sector, podiam ser evitadas mais de 50 mil toneladas de desperdício alimentar todos os anos», segundo o estudo.
Miguel Abecasis, Managing Director & Senior Partner da BCG Lisboa e coautor do estudo, diz que: «O estudo conjunto que fizemos com a Sonae e com o WBCSD prova que a adopção de práticas sustentáveis de redução do desperdício alimentar ao longo da cadeia de abastecimento do retalho são win-win, beneficiando tanto a população em geral, por um acesso gratuito ou a preços reduzidos a alimentos bons e perfeitamente adequados ao consumo em plenas condições de segurança e qualidade, como os próprios participantes na cadeia de valor».
Este estudo, que envolveu cerca de 120 fornecedores da Sonae, identificou 50 melhores práticas já adoptadas ou em estudo noutros países, tendo definidas cinco medidas para aplicar ao contexto nacional.
«Um dos problemas identificados foi que cerca de 40% do desperdício deve-se à rejeição por parte do retalho moderno de frutas e vegetais que não cumprem com os requisitos estéticos e de tamanhos ou calibres definidos, tendo sido proposto rever estes requisitos, tornando mais amplo o leque de produtos considerados aceitáveis, até pela exploração de outros nichos de mercado (como “baby apples” para crianças).» Outra conclusão do documento foi que uma parte significativa dos alimentos «nunca chegam ao consumidor final pelo seu carácter altamente perecível». Uma das soluções passa por criar unidades de desidratação para reaproveitar estes alimentos que podem ser consumidos secos.
A promoção do aumento das doações é também chave, sobretudo num contexto como o actual. A estas medidas junta-se a criação de um marketplace onde os produtores podem mostrar os alimentos perecíveis que têm disponíveis e que, passado o ponto de utilização, podem ser usados para sumos, corantes naturais ou outros produtos processados, e a campanha “Demasiado Bom Para Desperdiçar”, que visa incentivar os consumidores a uma mudança de comportamento, procurando, por exemplo, peças soltas, sobre as quais habitualmente não recai a escolha.