Devido ao fraco desempenho operacional ou à instabilidade financeira, cerca de um sexto (16%) das empresas em Portugal, Espanha e Itália estão a sofrer fortes pressões de transformação e 6% necessita de reestruturar as suas operações para se manter viável, segundo o relatório “BCG Transform and Special Situations Index: Why One in Five European Companies Needs to Transform”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG).
“A instabilidade económica e geopolítica, a inflação e as disrupções tecnológicas têm forçado as empresas europeias a tornarem-se cada vez mais resilientes, exigindo que se transformem e que se reestruturem para acompanhar as constantes mudanças”, afirma Pedro Pereira, Managing Director e Senior Partner da BCG em Lisboa. “Os dados do sul da Europa, onde Portugal se inclui, são um alerta para os líderes empresariais, nomeadamente nos setores das Telecomunicações, Media & Tecnologias, Saúde e Retalho, que contam com grande parte das empresas pressionadas para se transformar, evidenciando a importância da proatividade na definição de estratégias”.
Apesar de 16% das empresas do sul europeu necessitar de se transformar para manter a viabilidade, este valor é inferior à média europeia (21%), e a frequência de tópicos relacionados com transformação nas declarações destas empresas e nos arquivos públicos diminuiu 9 pontos percentuais (pp.) entre o primeiro trimestre de 2023 e o período homólogo de 2024, contrariando o valor médio europeu, que registou um aumento significativo de 24 pp. no mesmo período. Relativamente às menções de tópicos associados à reestruturação, as empresas em Portugal, Espanha e Itália verificaram um decréscimo de 21 pp. no primeiro trimestre de 2024 face ao mesmo período em 2023, realidade que contrasta com o aumento de 16 pp. registado pela média da Europa no mesmo período.
Setor das TMT é o mais pressionado, seguido da Saúde, do Retalho e da Indústria
No Sul da Europa, o setor das Telecomunicações, Media e Tecnologia (TMT) é o mais crítico, sendo que 69% das empresas afirmam enfrentar pressões de transformação para se manterem operacionais, um aumento de 51 pp. face aos 18% registados em 2023, e 52 pp. acima da média europeia (17%) registada este ano. Já a frequência de referências a transformação e reestruturação na narrativa das empresas do setor aumentou 18 pp. entre o primeiro trimestre de 2023 e o mesmo período de 2024. Esta pressão é explicada pelo aumento das pressões de custo no setor, pela inflação, pela diminuição da procura por parte dos consumidores e pela entrada de novos concorrentes digitais no mercado que enfraquecem as empresas tradicionais.
Além das TMT, também o setor da Saúde, do Retalho e da Indústria se destacam como setores em risco de inviabilidade, contando com 21% e 13% das empresas, respetivamente, a admitir fortes pressões de transformação, devido à necessidade de modernização, a dificuldades na cadeia de abastecimento, à inflação, às disrupções tecnológicas e à adoção de novas regulamentações mais restritivas a nível ambiental.
O índice é baseado na análise do desempenho operacional e da estabilidade financeira de mais de 2.000 empresas públicas na Áustria, França, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Reino Unido, Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia.
Cinco estratégias para as empresas enfrentarem pressões de transformação
Outro estudo recente da BCG, intitulado “Five Truths (and One Lie) About Corporate Transformation”, evidencia que após reconhecerem a necessidade de se transformar, as empresas precisam de traçar um plano estruturado e exequível que lhes permita avaliar a situação e implementar medidas para se adaptarem ao mercado atual e se manterem viáveis. Nesta linha, a consultora recomenda cinco estratégias para as empresas terem sucesso nesse processo:
- Adotar medidas preventivas. É importante que as organizações adotem mecanismos de transformação antes que haja um fraco desempenho, de forma a garantir agilização de processos para se poderem focar na obtenção de vantagens a longo prazo, ao invés de precisarem de adotar estratégias puramente defensivas, como desinvestimentos.
- Garantir uma liderança forte. A estabilidade das equipas de liderança impulsiona o potencial de crescimento a longo prazo de uma empresa. Assim, é fundamental que a predisposição para transformar o modelo operacional parta da liderança, incentivando a restante organização a adaptar-se.
- Não se focar exclusivamente na redução de custos. Para se manterem operacionais é crucial que as empresas elaborem um plano de transformação viável. Além de reduzir custos, estas organizações devem apostar na eficiência operacional e inovação para promover o aumento dos lucros e ir ao encontro das expectativas dos acionistas para que estes continuem a ser investidores ativos e a confiar no projeto.
- Pensar a longo prazo. As empresas precisam de delinear estratégias de negócio a longo prazo para garantir a sua viabilidade e adaptação às necessidades de transformação. Estas estratégias devem assentar numa cultura empreendedora, onde novas ideias são desenvolvidas e os líderes estão dispostos a arriscar, investindo sobretudo em investigação e desenvolvimento tecnológico.
- Desenvolver uma estratégia de transformação formal. As transformações são complexas e exigem a entrega simultânea de vários objetivos, sendo imperativo que as organizações tracem planos de governança claros e mobilizem equipas para coordenar e acompanhar o progresso nas iniciativas de mudança, articulando os processos com base numa comunicação coesa entre as diversas partes.