O apelo da última milha

Muitas empresas de transportes estão a equacionar entrar no negócio da última milha. Neste caso falamos apenas de objectos de tamanho grande e pesados (mobílias, electrodomésticos -linha branca) e não em comida ou pacotes.

Trata-se de um segmento de mercado muito diferente do de TL (total load) ou LTL (Less-than-truckload). As diferenças são muitas e há vários níveis: é necessário um nível de serviço maior; a última milha é a parte mais ineficiente do percurso; os custos são mais altos (combustível, não se carrega e descarrega um vez e os percursos não são feitos em auto-estrada); não há rotas estáveis; há sempre múltiplas paragens; por vezes para além de entregar o produto este tem de ser montado; os colaboradores têm de ser formados para tratar os objectos com muito cuidado para evitar danos e ter de reentregar o produto.

Todas estas diferenças fazem com que certas entradas neste segmento tenham corrido mal. É o caso da empresa norte- americana Schneider National, cotada na bolsa de Nova Iorque, que após ter perdido 13 milhões de dólares no primeiro trimestre de 2019, 13.4 milhões no segundo e 9 milhões no terceiro optou por encerrar a sua operação First to Final Mile a 31 de Dezembro de 2019.

Apesar de se tratar de um mercado onde existem alguns players grandes (FedEx, UPS e XPO), a maioria das empresas no mercado norte-americano são regionais e este é muito fragmentado. No entanto, com o acelerar do e-commerce, nomeadamente com a actual pandemia, este segmento começa a ser muito atractivo. Por outro lado, nem todos se dão mal. A transportadora norte-americana J.B. Hunt, que optou por uma política de compra de empresas especializadas neste segmento tem tido bons resultados, tendo declarado ter tido resultados de 182 milhões de dólares no terceiro trimestre.

Para atingir estes resultados a empresa começou por adquirir a “Special Logistics Dedicated”, em Julho de 2017, a que se seguiram a “Cory 1st Choice Home Delivery”, a “RDI Last Mile” e a “Mass Movement” em Novembro de 2020.

A estratégia de crescer através de aquisições tem várias vantagens, pois adquire-se também a experiência da empresa no mercado, carteira de clientes, infra-estrutora tecnológica e recursos humanos com a formação adequada (white-glove deliveries) com capacidade para instalar todo o tipo de produtos.
Na realidade num mercado como o norte-americano, muitas destas empresas são especializadas em entregar certos tipos de produtos: mobiliário, electrodomésticos, equipamentos para ginásios, equipamentos médicos, etc.

Mas apesar de ser um sector difícil, a verdade é que o crescimento sustentado que tem revelado ao longo dos últimos anos tornou-o «muito interessante», pelo que os analistas não preveem que o interesse desapareça tão cedo.

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