Dissociação das economias “afecta o desenvolvimento” do comércio na Ásia

A gradual desvinculação das economias com a China terá consequências positivas e negativas para a evolução do comércio externo na Ásia. A análise é do mais recente relatório da Crédito y Caución, que diz que a recuperação económica começou na maioria dos países asiáticos.

A recessão das suas economias em 2020 foi curta e não tão profunda como no resto do mundo. «Com excepção da Índia e das Filipinas, a recuperação foi clara a partir do terceiro trimestre e a região terá um retrocesso de apenas 1,3% em 2020, com uma recuperação esperada de 6,5% em 2021». O crescimento mais forte registar-se-á no Vietname e na China, adianta o relatório.

«O novo plano quinquenal da China privilegia, por um lado, a auto-suficiência tecnológica e, por outro, a dupla circulação, conceito que implica o fortalecimento do mercado interno sem descuidar o pilar externo.» A economia chinesa procura fortalecer a sua resiliência face a choques externos e adaptar-se à tendência internacional de desvinculação das economias. Após as restrições impostas pelos EUA aos investimentos e à alta tecnologia chinesa, o Reino Unido, a Austrália, a Índia, o Japão e vários países da União Europeia tomaram medidas semelhantes. Depois de um longo período de globalização em que a transferência de tecnologia e de conhecimento através do comércio e do investimento foi benéfica para a produtividade e o crescimento do PIB chinês, a desvinculação das economias reduzirá, provavelmente, as suas taxas de crescimento, conforme adianta o relatório.

«Espera-se que o novo governo norte-americano mantenha uma abordagem firme em relação à China, embora reduzindo o uso de tarifas punitivas», diz o relatório. Além disso, «é previsível que retome uma abordagem multilateral para trabalhar com a União Europeia e o Japão no sentido de persuadir a China a introduzir mudanças no comércio e na concorrência. A curto prazo, o fim das guerras comerciais será favorável para o comércio internacional e asiático. Mais importante ainda será os EUA retomarem os acordos de livre comércio na Ásia. No entanto, a desvinculação comercial e tecnológica das economias dos Estados Unidos e da China continuará gradualmente nos próximos anos.»

Esta tendência terá consequências para o resto da região. A principal é que as empresas irão reajustar as suas cadeias de fornecimento realocando a sua produção. As situações vividas durante a pandemia e o rápido aumento dos custos salariais na China «vão provavelmente acelerar o processo». O Vietname é o destino mais frequente para as empresas que deslocam parte da sua cadeia de fornecimentos para fora da China. Além dos baixos custos salariais, o país tem a seu favor a participação em diversos acordos comerciais. «A Malásia também está a beneficiar deste ajustamento. Embora os seus níveis salariais sejam comparáveis aos da China, a sua força de trabalho está mais capacitada para fabricar produtos electrónicos especializados. Por outro lado, a situação problemática vivida em Hong Kong leva a que Singapura se afirme como o maior recetor de investimento estrangeiro directo na região», conclui o relatório.

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