Uma operação sustentável e com uma pegada ambiental cada vez mais reduzida e a inovação tecnológica aplicada à otimização das operações tanto internas como com parceiros, são áreas em que a makro Portugal está proactivamente atenta.
Com 10 lojas em território nacional (Braga, Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Leiria, Coimbra, Alfragide, Cascais, Palmela, Faro, Albufeira) e cerca de 1300 colaboradores, entre escritórios centrais, lojas, plataformas e força de vendas, as apostas da makro Portugal vão no sentido da sustentabilidade e da inovação tecnológica, no que diz respeito às suas operações logísticas.
Como explica Humberto Gonçalves, Head of Supply Chain and Logistics da makro Portugal: “Temos sempre em mente que a eficácia e a eficiência nas operações de base acabam por refletir-se também no negócio dos nossos clientes. Por isso, trabalhamos diariamente e com máxima exigência para que isso aconteça”.
Logística Moderna – Ao longo dos anos em que a empresa está em Portugal muita coisa mudou. Seria possível detalhar algumas das mudanças chave que foram feitas?
Humberto Gonçalves – A makro está há mais de 30 anos em Portugal e o caminho construído faz com que sejamos uma referência no setor grossista. O nosso modelo de negócio destina-se a clientes profissionais – com grande foco no canal HORECA – e temos um posicionamento muito claro: mais do que fornecedores, somos parceiros dos nossos clientes e, como bem sublinha o nosso claim, o “seu sucesso é o nosso negócio”. Com a longevidade da nossa presença no mercado, há algo que nunca abandonamos e que temos vindo a aperfeiçoar: o nosso modelo de negócio grossista, trabalhando, em simultâneo, para antecipar tendências. Isto traduz-se de múltiplas formas. Continuaremos sempre a inovar as nossas 10 lojas físicas – nas quais recebemos semanalmente milhares de clientes -, mas estamos de igual forma muito focados na implementação e desenvolvimento da nossa estratégia multicanal com expansão para novas áreas de negócio. Entre estas, temos o FSD – Food Service Distribution (serviço de entrega especializado) e o desenvolvimento do canal digital e de plataformas tecnológicas, do qual é exemplo o Marketplace – o terceiro canal de vendas da makro, especializado em produtos não alimentares profissionais, lançado em outubro do ano passado e já muito bem implementado. A par desta estratégia de negócio multicanal, diria que a makro Portugal tem também, hoje, um papel relevante quer no contexto da cadeia de valor através da forte relação com a economia local e valorização da produção nacional, quer no contexto da valorização do setor da restauração, hotelaria e turismo (ativos-chave para o país) com diversas ações de apoio à gastronomia nacional – sendo esta aliás uma missão que é intrínseca à nossa forma de estar no mercado e que tem por base o nosso propósito de “viver a paixão pela gastronomia portuguesa, levando ao mundo a sua diversidade”.
Inicialmente os clientes da makro Portugal eram pequenos retalhistas alimentares e o canal horeca, continua a ser assim?
Sempre tivemos e continuamos a ter um grande foco no canal HORECA e trabalhamos para, cada vez mais, adaptar os nossos serviços e sortido às necessidades e exigências destes formatos de negócios, que hoje têm uma enorme diversidade (desde o pequeno restaurante às grandes cadeias). Recentemente, lançámos a campanha “Leve Mais Pague Menos”, que permite compras em maiores volumes de produto a preços mais reduzidos, adaptada ao perfil destes clientes. Mas, precisamente, por sermos grossistas continuamos a ser um local onde a oferta se adequa a negócios como caterings, cantinas, assim como instituições, associações e fundações (públicas e privadas), empresas e empresários da indústria e serviços.
Lead times de entrega de 24 horas
Como é que o abastecimento é feito às lojas?
Somos muito exigentes com a nossa operação. Abastecemos as nossas lojas com lead times de entrega de 24 horas, a partir das nossas duas plataformas logísticas (que estão organizadas em operação logística ambiente e operação logística de frio), sendo que apenas uma pequena franja de fornecedores faz entregas diretas às lojas (sobretudo, em caso de produtos com especificidades muito características).
Em termos de logística upstream, quantos fornecedores é que a makro Portugal tem? Qual a sua origem?
Atualmente temos uma dimensão substancial de fornecedores. A grande maioria são PME portuguesas, sendo que temos também fornecedores europeus, no contexto do grupo em que estamos inseridos.
Como são organizadas as entregas? Quantos camiões são necessários para fazer as entregas num mês?
Podemos falar de uma organização que tem de funcionar de forma tão afinada como uma orquestra. As entregas são centralizadas nas nossas plataformas logísticas e previamente organizadas e calendarizadas, de acordo com os leads times de entrega dos fornecedores e numa conjugação com os lead times da nossa expedição para as lojas. Falamos, por exemplo, de uma média mensal de um fluxo de mais de 1500 camiões. Acima de tudo, com o nosso modelo de negócio bastante exigente, queremos tornar toda esta operação cada vez mais eficiente e sustentável.
Digitalização e automação
Como funciona a comunicação com os fornecedores? Qual o papel e importância da digitalização nesta relação?
As comunicações com os fornecedores para gestão da cadeia de abastecimento são realizadas através de EDI (Electronic Data Interchange). Se esta é uma prova de que as comunicações eletrónicas/informáticas são importantes, concordamos em absoluto que, nos próximos anos, a digitalização – e um dos exemplos são os tão falados Gémeos Digitais (digital twins) – irá assumir um papel determinante para uma gestão eficaz em toda a cadeia de abastecimento end-to-end. Além disso, vai permitir uma maior proximidade com os fornecedores com partilha de forecast com maior fiabilidade e regularidade, redução de lead times de entrega, redução de custos na cadeia logística e no final melhores níveis de serviço dos fornecedores.
Em relação à logística downstream, a Makro faz entregas aos clientes ou o modelo continua a ser o do cliente se deslocar à loja ou misto?
Da nossa estratégia multicanal faz parte precisamente o FSD – já referido – que passa precisamente pelo modelo de entrega especializado. É uma área em que queremos apostar, uma vez que sabemos que traz valor acrescido e maior conveniência para os clientes HORECA. Existem ainda outras opções como os nossos serviços de Click & Collect, que permitem a compra online e recolha em loja, e, claro, os clientes terão sempre as nossas lojas – que continuam a ser o nosso “cartão de visita”.
Com um número tão grande de clientes, que ferramentas utilizam para prever a quantidade de stock necessário? Como é que essas ferramentas evoluíram ao longo do tempo e qual o papel da digitalização?
Utilizamos soluções globais e também alguns sistemas desenvolvidos internamente, que nos permitem uma gestão de stocks com elevados níveis de assertividade. Com a evolução tecnológica, os sistemas tornaram-se mais robustos com maiores capacidades analíticas, tendo por base as tendências das vendas e a comparação com os períodos homólogos. No futuro soluções como AI, Machine Learning and Statistical Forecasting e Gémeos Digitais serão determinantes na evolução na gestão da cadeia de abastecimento e terão de ser integradas no modelo de gestão.
Ao nível da intralogística que inovações têm implementado?
Ao nível da intralogística temos feito uma forte aposta na melhoria contínua, simplificação de processos e otimização de fluxos e, nesta ordem, consideramos essencial não só a implementação de tecnologias, mas acima de tudo a formação contínua dos nossos colaboradores.
Quais as ferramentas/soluções digitais que a Makro utiliza? Têm projetos, nesta área, em desenvolvimento?
Por sermos “irrequietos” por natureza, procuramos otimizar as nossas operações e estamos atentos a novas soluções. No caso da automatização, neste momento estamos satisfeitos com as nossas apostas. No que diz respeito às soluções digitais, neste momento estamos na fase final de implementação de uma nova solução de análise de dados e de gestão logística interna nas nossas lojas, com foco na melhoria da gestão de stocks e picking.
Medidas ao nível do ambiente
Atualmente os clientes diretos e indiretos começam a ter preocupações éticas em relação à origem dos produtos, se as embalagens são amigas do ambiente, à sua pegada de carbono, etc. A makro faz refletir estas preocupações no seu sourcing? Como?
Aqui importa referir que estamos empenhados em construir um futuro onde a sustentabilidade ambiental seja, de facto, uma realidade não só na nossa operação, mas também, na dos nossos clientes, fornecedores e toda a nossa esfera de atuação.
Nestas dimensões temos diversos exemplos. Por um lado, no nosso sortido temos, desde 2014, alternativas ao plástico provenientes de fontes renováveis, compostáveis e biodegradáveis, que não interferem na cadeia de abastecimento alimentar. Fomos dos primeiros a disponibilizar, no nosso sortido, produtos sustentáveis, amigos do ambiente, colocando à disposição dos nossos clientes, sobretudo os do setor HORECA uma oferta que permite que eles próprios possam também optar por soluções sustentáveis nos seus negócios. A gama Eco Friendly é exemplo disso mesmo.
Escolhemos também trabalhar com produtores que têm uma visão sustentável e apostamos fortemente na produção nacional, com altos padrões. Por exemplo, no caso do Peixe Fresco, 54% dos fornecedores makro são portugueses; na carne, temos o exemplo da Carne Açores IGP que é produzida de forma 100% natural; a Carne Vitela Mirandesa e Vitela Barrosã são ambas de Denominação de Origem Protegida, contribuindo significativamente para a preservação da paisagem, para a biodiversidade e para a sustentabilidade da economia rural da região. Muitas das nossas marcas próprias são constituídas por produtos exclusivamente portugueses. Não esquecemos claro os nossos clientes para os quais desenvolvemos projetos de consultoria gastronómica em que se destacam temas como a promoção de práticas de sustentabilidade numa cozinha profissional.
Ao nível das preocupações ambientais têm algum projeto em andamento? E no que diz respeito à gestão energética adotaram algumas soluções, como por exemplo painéis solares?
Naturalmente. Por exemplo, o ano passado assinámos um contrato a 10 anos para o fornecimento de eletricidade a partir de fontes renováveis. Este contrato permite-nos a compra de 62,5% da nossa necessidade de eletricidade a partir de fontes livres de CO2, a preços competitivos e estáveis. A base da compra de eletricidade é exclusivamente energia renovável com foco na fotovoltaica.
Adicionalmente, a makro Portugal irá instalar os primeiros sistemas de refrigeração, com recurso a refrigeradores naturais, sendo que o primeiro sistema fotovoltaico vai ser instalado, em breve, na cobertura da loja makro de Coimbra. Por outro lado, todas as nossas 10 lojas estão já equipadas com postos de carregamento para veículos elétricos. Além disso, estamos também a apostar na área da mobilidade elétrica, em linha com o objetivo do grupo Metro, para que conseguirmos ter, em 2030, perto de 100% da frota com veículos elétricos ou híbridos.
Todas estas medidas fazem parte dos objetivos e compromissos que estabelecemos no que à descarbonização diz respeito. Temos metas muito claras no que se refere a este tema, tendo vindo a traçar um caminho que nos permita ser neutros do ponto de vista climático até 2040.
Enquanto associados da APED – Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, integrámos, o ano passado, o Roteiro para a Descarbonização do Setor da Distribuição e encontramo-nos comprometidos com a redução da pegada de carbono, não apenas da empresa, como também do setor, estando empenhados em encontrar formas que permitam reduzir o consumo de eletricidade, investir na produção de energia renovável, fomentar a mobilidade sustentável e adotar modelos circulares de produção.
Que políticas têm em relação ao bem-estar dos vossos colaboradores?
Referimo-nos aos nossos colaboradores como o nosso maior ativo e, por isso, temos como foco apoiá-los em diversos aspetos. Do ponto de vista financeiro, face ao atual contexto económico, atribuímos bónus extraordinários à totalidade dos nossos colaboradores, aumentámos o vencimento base de entrada na makro e o proporcional de 3,3% para restantes categorias, assim como o subsídio de refeição. Garantimos seguros de saúde para colaboradores e dependentes diretos, mantemos descontos adicionais em compras na makro e, entre outras iniciativas e benefícios, mantemos o regime de trabalho híbrido em funções que o permitem e temos, por exemplo, protocolos com ginásios.
Entrevista publicada na edição nº 188 da revista Logística Moderna