Embora o Brexit seja algo do “passado” a verdade é que continua a impactar a economia europeia. Para a UE os últimos problemas relacionam-se com o facto do Reino Unido não estar a cumprir o Protocolo para a Irlanda do Norte, que integra o acordo comercial celebrado com a UE.
Não tem cumprido até agora invocando problemas relacionados com a pandemia, estando esta a chegar ao fim e perante a insistência do UE, ameaça invocar o artigo 16º do mesmo, que permite suspender algumas obrigações, facto que a União Europeia não aceita, ameaçando retaliar. Perante a guerra comercial à vista, as duas partes têm realizado negociações nas últimas quatro semanas, mas estão longe de uma solução.
Depois de quatro semanas de tensão nas negociações entre a UE e o Reino Unido, finalmente parece haver alguma esperança de se encontrar uma solução para a disputa sobre os acordos do Brexit (Protocolo para a Irlanda do Norte).
Após uma semana de recriminações e da ameaça de uma guerra comercial, o vice-presidente da Comissão Europeia, Maroš Šefčovič, disse que tinha havido uma mudança de tom por parte do ministro britânico responsável pela pasta do Brexit, David Frost, confirmando que o Reino Unido se tinha afastado do limiar de desencadeamento do artigo 16º do protocolo da Irlanda do Norte.
Maroš Šefčovič confirmou que as conversações continuariam durante mais uma semana, mas disse que ainda era necessário um avanço sério por causa da linha vermelha estabelecida pelo Reino Unido em relação ao Tribunal Europeu de Justiça. “Reconheço e saúdo a mudança no tom da discussão com David Frost, e espero que isto conduza a resultados tangíveis para a população da Irlanda do Norte”, afirmou aos jornalistas na conferência de imprensa em Londres, após as conversações.
Maroš Šefčovič reconheceu “que a garantia de um fornecimento ininterrupto a longo prazo de medicamentos da Grã-Bretanha para a Irlanda do Norte é a questão do protocolo que está na mente de todos”.
Numa declaração, o gabinete de Lord Frost disse que “ainda havia lacunas significativas a colmatar” e que a ameaça do artigo 16 permanecia sobre a mesa. Mas confirmou que a preferência de Frost era “encontrar uma forma consensual de avançar”.
Segundo muitos analistas a mudança de tom do Reino Unido talvez esteja relacionada com o facto dos EUA aparentemente darem razão à UE, segundo afirmações da Presidente da Comissão Europeia.
Empregadores britânicos oferecem bónus para época natalícia
Mas os problemas do Reino Unido com o Brexit são muitos, a começar por problemas graves e estruturais nas suas supply chains. Empregadores britânicos estão a oferecer bónus de até £2,000 para recrutar trabalhadores para o período de Natal devido a receios de que a escassez de pessoal perturbe a época festiva.
Segundo um estudo do site de empregos Adzuna, existem actualmente 26.307 vagas de emprego sazonais em vésperas do período crucial de compras de Natal, quase o dobro das 13.668 no mesmo período há um ano atrás.
De acordo com a análise de mais de 1,2 milhões de anúncios de emprego no site Adzuna, que é uma das fontes dos departamentos de estatística governamentais para recolherem os primeiros sinais do mercado de emprego, os empregadores estão a preparar-se para contratar um exército de mais de 130.000 efectivos adicionais este Inverno para dar resposta ao aumento de procura de bens e serviços.
Segundo a Adzuna houve mais de 1.300 vagas de emprego a anunciar um bónus de Natal, incluindo recompensas de até £2.000 para trabalhadores de armazém sazonais na Amazon, bónus de £1.000 para sorters nocturnos nos centros de distribuição da DPD e prémios de recrutamento de £500 para novos trabalhadores nos Hotéis Ocado, na AO.com e Hand Picked.
A empresa de entregas Hermes ainda tem 740 vagas por preencher, e a Royal Mail 200, para tratar das entregas após um boom nas compras online durante a pandemia.
Tom Southall, director da Cold Chain Federation, que representa o sector da logística refrigerada, disse que a escassez de camionistas e de pessoal de armazém estava a afectar as entregas e poderia levar à escassez nas prateleiras dos supermercados. “Natal como sempre? Provavelmente não. Como é que isso se irá manifestar, pode haver lacunas nas prateleiras como vimos nos últimos meses”, disse ele.
Os problemas de escassez de mão de obra e os problemas que veem associados começam a contribuir para a inflacção. Ben Broadbent, um dos vice-governadores do Banco de Inglaterra, afirmou que a escassez de trabalhadores faria subir os salários em alguns sectores, podendo potencialmente contribuir para níveis de inflação mais elevados.
Embora não se possa afirmar de forma categórica que a escassez de trabalhadores, que já se fazia sentir antes do Brexit, e que alguns atribuem brexiters atribuem apenas à Covid, a verdade é que enquanto no Reino Unido tem havido perturbações no fornecimento a bombas de gasolina e prateleiras de supermercados vazias, a Irlanda do Norte que se mantém no mercado único de bens, não tem sofrido das mesmas perturbações.