Covid-19 levou a alguns ajustes na logística a montante da Riberalves

Pioneira no desenvolvimento de novos produtos de cura portuguesa, nomeadamente, o Bacalhau Pronto a Cozinhar (Demolhado Ultracongelado), a Riberalves é uma referência mundial na transformação de bacalhau. O covid-19 obrigou a ajustes na logística, o que levou, por exemplo, a intensificar o procurement de soluções financeiramente viáveis para o transporte internacional de grupagem e carga dedicada, para minimizar custos garantindo um nível de serviço elevado.

Com uma produção de cerca de 25 mil toneladas de produto acabado (cerca de 8% de todo o bacalhau pescado no mundo), a empresa 100% nacional importa a matéria-prima (bacalhau), sobretudo da Islândia, Noruega e Rússia, que chega a Portugal, maioritariamente, através de transporte marítimo ou rodoviário. A actividade de transformação da empresa decorre em três unidades industriais, com forte enfoque na Moita, onde está a «maior fábrica mundial de transformação de bacalhau», e onde foi desenvolvido todo o processo do Bacalhau Pronto a Cozinhar. Nas diversas fases produtivas, desde o corte e salga até à demolha, ultracongelação e embalamento, a Riberalves desenvolveu «processos inovadores». Sobre a logística, dispõe de capacidade própria para efectuar o transporte primário entre as diversas unidades e, por outro lado, actuar no canal Horeca da Grande Lisboa. A restante Distribuição, nacional e internacional, é garantida através de operadores logísticos.
O consumo no lar de Bacalhau Pronto a Cozinhar tem evoluído de forma positiva, nos últimos anos. Fortemente enraizado nas famílias portuguesas, hoje, com a crise do covid-19, os números globais são fortemente impactados pela quebra do canal Horeca, onde as vendas de bacalhau tinham um peso significativo.
Como explica Steven Inácio, responsável de Supply Chain da Riberalves, «o Horeca é um canal muito relevante para a Riberalves, onde temos uma elevada penetração, através de meios próprios na região de Lisboa e com o apoio dos nossos distribuidores no resto do país, incluindo ilhas». Apesar de ser prematuro, o responsável estima um real impacto na actividade e no volume de negócios, até porque o ano fiscal da Riberalves arrancou a 1 de Abril, mas «as primeiras semanas têm registado um decréscimo significativo de vendas deste canal». Antecipa-se mesmo que este será o ano mais desafiante, «exigindo a toda a nossa estrutura muita resiliência, espírito de sacrifício e criatividade».

 

“Alguns constrangimentos”
ao nível da logística a montante

A solução foi só uma: «Tivemos de ser ágeis e adaptarmo-nos rapidamente ao novo contexto». O departamento de Supply Chain teve de reajustar a produção para as referências que estimaram que iriam ter maior procura e, por outro lado, a capacidade de Distribuição aos clientes manteve-se inalterada, dada a estratégia que a empresa possui com a rede de distribuidores, que «permite uma grande capacidade» de adaptação. «Trabalhamos com grandes distribuidores, desde há muito anos, acumulando uma experiência e confiança que nos permite grande capacidade de adaptação, indo ao encontro das necessidades que nos colocam», comenta o responsável. Foram tomadas medidas internas de organização do trabalho, «salvaguardando ao máximo a segurança dos nossos funcionários. «Esse foi o primeiro passo, para que depois pudéssemos cumprir a nossa missão enquanto empresa do sector alimentar, apoiar os nossos parceiros e contribuir para o abastecimento das famílias portuguesas».
Ao nível da logística, a montante, diz que existiram «alguns constrangimentos e custos inesperados», já que muitos contentores foram desviados para o porto de Leixões, obrigando a reajustar a cadeia logística. «Estes ajustes traduziram-se num aumento dos custos para colocar os contentores nos nossos armazéns. Assim, foi necessário intensificar o procurement de soluções financeiramente viáveis para o transporte internacional de grupagem e carga dedicada, para minimizar custos garantindo um nível de serviço elevado», esclarece.
Para além deste contratempo, «até ao momento não se registaram quaisquer constrangimentos neste domínio. As grandes decisões de aquisição de matéria-prima concentram-se no início do ano e foram tomadas antes do início da pandemia. Em sequência, os nossos parceiros continuaram a actividade da pesca e outros a ter solução logística para fazer chegar a matéria-prima a Portugal».
Ao nível das exportações verificaram-se alguns constrangimentos no transporte marítimo, com omissões de escalas nos portos de portuguesas e redução do serviço disponível devido ao covid-19, que afectaram a operação. No transporte rodoviário internacional assistiu-se a um aumento dos custos. «As importações caíram consideravelmente e a obrigatoriedade de retorno vazio obrigou os transportadores a aumentarem os fretes. Neste momento, a situação já começa a normalizar-se.» A exportação tem um peso de 25% nas vendas da Riberalves, e o Brasil, Angola e o chamado “mercado da saudade” estão no topo da lista dos países de destino.

 

Medidas de prevenção ao covid-19

Desde o início deste surto, foi prioritário implementar um conjunto de medidas de prevenção e de organização do trabalho, baseadas nas recomendações das autoridades de saúde. «A Riberalves procurou proteger e tranquilizar os seus colaboradores, que na generalidade continuaram no activo nas fábricas, com excepção dos que puderam ficar em teletrabalho. Em seguimento, procurámos tentar garantir o normal abastecimento da cadeia de distribuição. Aí, fizemos uma análise aprofundada das nossas cadeias de abastecimento para perceber onde poderiam existir constrangimentos e encontrámos uma ou duas alternativas nas áreas que considerámos mais críticas. No entanto, devemos referir que não tivemos qualquer problema neste aspecto. Aproximámo-nos ainda mais dos nossos parceiros e clientes, tentámos ser criativos, apoiando-os na medida das nossas possibilidades, perante o momento desafiante que enfrentámos», esclarece Steven Inácio.
Também devido ao tipo de indústria e o nível de exigência dos clientes, a Riberalves «sempre pautou a sua actividade por elevados padrões de qualidade». Desta forma, não foram necessárias grandes alterações ao nível do transporte, «apenas alguns ajustes para irmos ao encontro das indicações das autoridades». Adicionalmente, equiparam os colaboradores afetos às operações de transporte e adoptaram as boas práticas de distanciamento social.
A rastreabilidade de todos os nossos produtos já estava implementada, desde a pesca à mais pequena etapa dentro das nossas fábricas. As medidas sanitárias que advêm do surto pandémico são implementadas adicionalmente, facilitadas por todo o processo já existente.
Entrega ao domicílio
na Grande Lisboa

Face às recomendações oficiais, sobre as limitações nas deslocações individuais, para o acesso a bens alimentares, a resposta não tardou com a Riberalves a apostar na entrega ao domicílio.
Esta é uma operação assegurada exclusivamente pela Riberalves, conjugando o envolvimento de diversos departamentos internos e potenciando a capacidade de distribuição própria instalada na região da Grande Lisboa, onde já fazia entregas para o canal Horeca. Por esta razão, este serviço está circunscrito ao Distrito de Lisboa e a alguns concelhos da Margem Sul, onde «podemos garantir toda a agilidade e eficiência logística perante o fluxo de encomendas».
Sobre este serviço, o responsável de supply chain, diz que: «Surgiu para cumprir uma necessidade específica. A Riberalves, enquanto empresa líder do sector, está permanentemente atenta à evolução do mercado e, em nossa opinião, esta situação extraordinária em que vivemos a nível global vai ajudar a acelerar algumas dessas evoluções. Mas o nosso foco é reforçar processos, melhorar ferramentas e fortalecer as relações pessoais que já temos, com colaboradores, consumidores e parceiros.»
Actualmente, a Riberalves está a trabalhar dia-a-dia, «com o planeamento possível e, acima de tudo, com a consciência de que surgem dados novos todos os dias, que implicam grande capacidade de adaptação e inovação». No imediato, volta-se a adaptar a actividade para a reabertura progressiva do canal Horeca. Contudo, Steven Inácio acredita que: «O verdadeiro impacto económico e social desta crise está para chegar. Existem muitas variáveis em cima da mesa pelo que devemos estar preparados para o mais desafiante de todos os anos difíceis que já enfrentámos».
Artigo publicado na edição nº 174 da Logística Moderna (descarregar versão online em www.logisticamoderna.com)

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