Para além dos problemas de saúde pública, a actual pandemia tem provocado uma cascata de consequências que se vão sucedendo umas às outras. Com origem na China esta pandemia não foi “instantânea” e demorou meses a instalar-se na Europa e nos EUA. Enquanto isso, algumas supply chains tiveram graves problemas de abastecimento, devido ao encerramento das unidades de produção por parte dos fornecedores chineses, durante o período de confinamento.
Agora a situação inverteu-se. A China retomou a sua actividade económica e os países europeus e os EUA estão ainda, pelo menos parcialmente com medidas de confinamento. Ao produzir, a China já está a expedir os seus produtos. Considerando que as lojas estão fechadas, as empresas importadoras não têm para onde os enviar.
Como forma de tentar resolver o problema, muitas empresas estão a tentar cancelar as encomendas, mas tal nem sempre é possível e é necessário arranjar um local onde armazenar esses produtos. Isto, em alguns mercados, está a criar uma situação invulgar. Em regra geral, as empresas têm os armazéns cheios quando o mercado está em expansão, o que não é o caso. À medida que muitos retalhistas e fabricantes de produtos de grande consumo ficam com os armazéns cheios e não conseguem escoar as mercadorias para o ponto de venda, estes começam a virar-se para os 3PL na busca de serviços de armazenagem.
Em mercados como o norte-americano empresas, empresas como a XPO Logistics, afirmam não ter mãos a medir na tentativa de ajudar as empresas a resolver o problema da falta de armazenagem. Também a Prologis diz haver uma grande procura de armazéns. A falta começa a ser tanta que até as empresas que alugam micro armazéns, mais direccionados ao mercado pessoal, têm tido uma grande procura.
Ganhar a confiança dos colaboradores
Outro problema da retoma pós COVID-19, prende-se com a segurança da força de trabalho. Muitas empresas deparam-se com um absentismo elevado, em muitos casos os colaboradores não querem regressar ao trabalho pois têm medo de ser contaminados, principalmente em países em que o número de mortes é elevado.
Algumas empresas em sectores que foram considerados essenciais e que nunca pararam de laborar, adiantam o que se pode fazer para minorar este problema. A solução passa por as empresas terem uma política de segurança clara e visível e fazerem com que os colaboradores acreditem que estas estão de facto preocupadas com o seu bem-estar.
Por exemplo, a XPO Logistics, nos EUA, quando surge um problema com um trabalhador infectado a instalação logística é imediatamente encerrada e todos os colaboradores vão para casa. De seguida as instalações são desinfectadas, o que demora em média três dias. Só depois é que essa instalação logística pode voltar a laborar. Segundo informações da imprensa internacional, isto já foi feito 160 vezes.
Mas antes de se ter de recorrer a medidas tão drásticas, muitas empresas estão a optar por barreiras físicas de forma a separar os trabalhadores. Fazem modificações nos edifícios, como retirar torniquetes ou instalar portas automáticas para evitar o contacto com superfícies. Outra solução é a introdução de mais turnos para reduzir o número de trabalhadores presentes ao mesmo tempo nas instalações, sendo que a mudança de turnos é feita sem que os diferentes turnos tenham qualquer interacção. Claro que medidas como a da temperatura corporal e a disponibilidade de equipamentos de protecção pessoal também são muito importantes nesta questão da confiança.
A verdade é que empresas que adoptaram estas medidas têm tido poucos problemas de absentismo, ao contrário, por exemplo, das empresas processadoras de carne nos EUA, que por terem níveis muito elevados de infectados, muitas tiveram que suspender a produção, o que levou à ruptura de carne de vaca no mercado norte-americano.
Em Portugal uma empresa transformadora de aves, na zona da grande Lisboa, teve um problema de um número elevado de trabalhadores infectados, embora segundo algumas fontes o problema não ter origem na fábrica, mas sim nos transportes públicos utilizados. Segundo informações a que tivemos acesso, com a redução dos passageiros por causa do confinamento, havia menos oferta de transporte, o que levava a que estes circulassem “apinhados” o que inviabilizava qualquer tentativa de distanciamento social.
Um problema de custos
Todas estas medidas têm algo em comum. O aumento dos custos. Uma limpeza em profundidade para desinfectar e higienizar uma instalação logística tem um custo elevado, e deve ser feita por pessoal especializado. Neste caso, o Estado Português tanto quanto sabemos não oferece nenhum apoio. Mesmo pequenas alterações nas instalações para minimizar o contacto com as superfícies que podem ser tocadas por muitas pessoas têm um preço.
O custo das quebras de produtividade e das paragens na produção motivadas pelas mudanças de turno, que são inevitáveis se se quiser evitar qualquer contacto entre as pessoas de um turno e de outro, e mesmo entre equipas diferentes do mesmo turno, também não podem ser negligenciadas.