O relatório do Eurofound, publicado recentemente que contempla os 28 países da União Europeia, vem alertar para a prevalência do burnout na Europa. Trata-se de um conceito que tem vindo a evoluir desde 1974, definido por Herbert Freudenberger como o “queimar-se”, o “desgastar-se” ou o “esgotar-se” por exigências excessivas no que toca a dispêndio de energia, força ou recursos pessoais que se tem de empregar. Para este autor é exatamente isso que acontece quando um trabalhador, ou uma equipa, “queima” por qualquer razão e se torna inoperante para cumprir as suas finalidades e/ou as da organização. A Organização Mundial de Saúde chama também a atenção para o fato de poderem surgir elevados níveis de stress profissional e, por consequência, estados de vulnerabilidade na saúde mental, quando as exigências do trabalho são superiores aos recursos que os trabalhadores possuem. Em 1996 Maslach define como dimensões do burnout: de exaustão emocional; cinismo e ineficácia profissional. E se no início do estudo do burnout esta síndrome estava sobretudo relacionada com os trabalhadores cujo foco era o lidar com pessoas (trabalhadores na área de recursos humanos ou na área da saúde, por exemplo), a partir dos anos 80, do século passado torna-se um estado de exaustão transversal a trabalhadores de “colarinho branco” gestores, empresários ou técnicos, e igualmente “aos colarinhos azuis”, operários, motoristas etc. Ou seja, independentemente da natureza da ocupação, este fenómeno vem num crescendo, afetando, de modo generalizado, a capacidade de execução e, sobretudo, a saúde, de um número cada vez maior de trabalhadores.
Mas afinal quem estará em burnout em Portugal? Será realmente transversal a todas as áreas de atividade? Colaboradores e as chefias sofrerão, de modo idêntico com este fenómeno? O que tem sido feito para diminuir o seu impacto? Ainda recentemente, numa ação desenvolvida zona industrial do país que um trabalhador duma área indistrial, era de opinião que a prevalência de burnout era comum a todos os colaboradores. Talvez seja uma perceção catastrófica e exagerada, mas se considerarmos alguns estudos efetuados em Portugal sobre trabalhadores fabris ou industriais, profissionais de saúde, operadores de contact center, empregados de lojas e/ou supermercados, ou sobre profissões ligadas ao ensino, por exemplo, constatamos que a prevalência e a incidência de algumas dimensões do burnout são deveras preocupantes, chegando a atingir, nalguns casos, 2/3 dos trabalhadores.
Identificadas estão várias razões para esta proporção alarmante. Carga de trabalho elevada, longas horas de trabalho e trabalho por turnos, falta de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal mas sobretudo um modelo de supervisão pouco apoiante, são apontados como as principais causas para o aparecimento e agravamento deste fenómeno.
A um outro nível e consubstanciando duas faces do mesmo problema, estão o absentismo – contabilizando-se, em cada vez maior número, as faltas ao trabalho, ultrapassando por vezes a dezena devido a esta síndrome – mas também o presentismo – fenómeno cada vez mais evidente nas organizações, em que o trabalhador apesar de comparecer no local de trabalho não tem uma produtividade ajustada.
Apesar desta evidência, ao contrário de outros países onde existem políticas e ações concertadas entre governos, sindicatos, associações profissionais e empresas, em Portugal para além do interesse de investigadores que fazem levantamentos sobre a prevalência desta síndrome em vários grupos profissionais e dos alertas de sindicatos e da comunicação social, pouco se tem feito em prol da diminuição deste fenómeno.
Tanto mais surpreendente se torna se olharmos para a expressiva informação científica e a clara evidência empírica disponibilizada que coexiste com a aparente apatia, em relação ao tema “riscos psicossociais”, por parte de grande parte dos agentes organizacionais.
Estaremos, porventura, na presença do efeito “not in my back yard”, neste caso entendido como “sim o burnout existe, mas isso é nas outras organizações, na minha? Claro que não! As nossas equipas são todas fortes e saudáveis”.