Retalho alimentar: Investimentos e aumento de vendas online são principais motores do crescimento

O comércio alimentar está a tornar-se no novo centro nevrálgico do investimento em propriedades para retalho na Europa. Esta conclusão parte de um estudo recente da Savills, consultora imobiliária internacional, que analisou o desenvolvimento do sector alimentar e de retalho na Europa.

Em 2020, pela primeira vez, os investimentos em supermercados, hipermercados e lojas de comércio alimentar de baixo custo representaram 21% do total da actividade retalhista na Europa, significativamente acima da média de 7% dos últimos cinco anos. Apesar do declínio verificado nas vendas a retalho em 2020 (de 3,9% em 2019 para 1,7% em 2020), as vendas de produtos alimentares subiram 7,5%. Espera-se que esse número continue a aumentar a um ritmo de 2,2%/ ano ao longo dos próximos cinco anos.

 

Confinamento fez crescer comércio online

Em 2020, observou-se um expectável declínio nas vendas totais no sector do retalho, devido ao encerramento prolongado de muitas lojas físicas. Contudo, em contraciclo, o comércio online observou um crescimento expressivo, de 16,2% em 2019, para 32% em 2020. Apesar de se terem registado subidas em vários segmentos de e-commerce, foi o ramo dos produtos alimentares que se destacou, crescendo de 19,5% em 2019, para 56,1% em 2020.

Em todos os países europeus assistiu-se a uma subida da taxa de penetração do comércio online de produtos alimentares, com especial destaque para os Países Baixos, Noruega, Suécia, Turquia e Reino Unido, que ultrapassaram a média europeia. Também se verificou que até os países que detinham mercados pouco desenvolvidos de comércio online de produtos alimentares conseguiram adaptar-se rapidamente às novas necessidades, investindo na aquisição e/ou melhoria dos seus serviços online de pedidos e entregas de produtos.

Ao que tudo indica o comércio de produtos alimentares apoiar-se-á, cada vez mais, na dimensão online. A Forrester prevê que, em 2025, cerca de 2% de todas as vendas de alimentos e bebidas na Europa ocidental serão feitas através da internet.

No caso português, foi possível observar um aumento considerável da força da dimensão online no comércio de produtos alimentares. Em 2020, observou-se um crescimento de cerca de 50 por cento das vendas online de produtos alimentares, face aos menos de 10 por cento de 2019. No entanto, esse crescimento ficou aquém da média europeia.

 

O futuro do comércio de lojas físicas passa pela reinvenção dos espaços

O crescimento das vendas online apresenta aos comerciantes uma multiplicidade de desafios de adaptação. A resposta passa pela adaptação e reinvenção dos espaços, com a transformação das lojas tradicionais em plataformas de promoção da marca e em locais que ofereçam experiências de consumo diferentes, mais personalizadas e direccionadas, com base em tecnologias como a Inteligência Artificial ou a Realidade Aumentada.

Por outro lado, com o aumento das compras online, os retalhistas terão pela frente o desafio da expansão das suas instalações de armazenamento, não apenas para lidarem com o aumento dos seus próprios volumes de encomendas, mas também para conseguirem dar resposta ao aumento do volume de vendas dos seus parceiros e ao aumento correspondente do volume de devoluções. Num outro estudo divulgado pela Savills em Maio, até 2025, serão precisos mais 8,6 milhões de metros quadrados de espaço nos armazéns das empresas de entregas na Europa para dar resposta ao crescimento do e-commerce.

«Por isso, mesmo com a clara ascensão do online, a dimensão física do comércio alimentar não tem, para já, os dias contados», diz a consultora.

Comércio alimentar na Europa: um investimento seguro
Apesar da evidência do crescimento do comércio online, não se prevê que as lojas físicas venham a desaparecer. Em 2020, e contrariando a tendência observada no mercado imobiliário em geral, registou-se um aumento dos investimentos em superfícies de comércio alimentar, «fruto da confiança dos investidores na resiliência do sector».

A Alemanha surge como o maior mercado de investimento no retalho alimentar, totalizando 3,1 mil milhões de euros, seguido do Reino Unido com 1,7 mil milhões de euros e Espanha com 675 milhões de euros. Os países em que se registaram os maiores crescimentos face à sua média dos últimos cinco anos foram a Polónia (327%), Alemanha (184%) e Espanha (122%). A Savills indica que a competição entre investidores gerou a compressão de yields, com uma média de yield prime de supermercados na Europa a descer de 5,7 por cento para 5,45 por cento no primeiro trimestre de 2021.

George Coleman, Savills Regional Investment Advisory EMEA Associate, afirma que: «As características defensivas e a resiliência operacional do sector continuarão a atrair um cada vez maior número de compradores. Alguns produtos poderão surgir no mercado fruto de vendas e relocações, mas a oferta em geral poderá não ser capaz de acompanhar a procura. Antevendo-se uma intensificação das guerras de licitações, esperamos que os prime yields venham avançar durante este ano».

Já Eri Mitsostergiou, Director European Research da Savills, avança que: «Ao contrário da maioria do restante retalho, os pedidos online de bens alimentares são tipicamente realizados pelas próprias lojas, tornando o verdadeiro valor da loja bastante maior ao que inicialmente se poderia pensar. Durante a pandemia, grandes retalhistas de produtos alimentares só foram capazes de dar resposta ao aumento da procura online por causa da sua rede de lojas.»

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