Reino Unido: Covid-19 + Brexit “mistura explosiva”

Apesar das declarações do primeiro ministro Boris Johnson, segundo o qual o fecho da fronteira entre a França e o Reino Unido não teria um impacto significativo no abastecimento ao país, pois só afectaria 20% das importações, tal parece não ser verdade quando se verifica o que se passa no terreno.

A cadeia de supermercados Sainsbury sossegou os clientes de que o típico jantar de Natal não estaria em risco porque os produtos necessários já se encontram em Inglaterra. No entanto, o retalhista já não está tão optimista em relação ao futuro imediato e prevê que possam começar a faltar produtos nas secções de frutas e vegetais dentro de dias, devido à imposição da França num encerramento da fronteira por 48 horas. A Sainsbury prevê que comecem a faltar produtos como couve flor, brócolos, alface e citrinos se o tráfego fronteiriço não for reposto rapidamente. Isto apesar de ter garantido que está neste momento a fazer o sourcing de tudo o que é possível no Reino Unido e a estudar todas as alternativas possíveis de transporte para os produtos cujo sourcing tem de ser feito na UE.

Segundo declarações de uma porta voz da empresa à revista especializada The Grocer, “se nada mudar entre a França e o Reino Unido, vamos começar a ter falhas nas prateleiras de alface, saladas embaladas, couve flor, brócolos, alface e citrinos que nesta época do ano são todos importados do continente.”

Estas declarações da Sainsbury, vêm confirmar as preocupações da FDF (Food and Drink Federation) segundo a qual o abastecimento de produtos frescos enfrenta “um risco sério de disrupção” no período festivo.

O encerramento da fronteira a 20 de Dezembro, causou problemas de congestionamento, mas no final de 21 de Dezembro as filas de trânsito já tinham sido engrossadas por mais 6000 camiões.

Numa tentativa para minorar os problemas, várias associações comerciais fizeram um apelo aos consumidores para não entrarem em pânico e começarem a açambarcar alimentos, pois estes ainda conseguiam entrar no país.

Segundo Shane Brennan, CEO of the Cold Chain Federation «apelamos aos consumidores para confiarem que os profissionais que trabalham na cadeia de abastecimento de frio vão conseguir fazer o seu trabalho. Estes já provaram que conseguem fazer isso todos os dias durante a pandemia do Covid-19».

Mas há esperança de que a situação se resolva rapidamente, uma vez que o Ministro Francês dos Transportes Jean-Baptiste Djebbari declarou que esperava que se conseguissem montar sistemas que permitissem a reposição das travessias.

Espera-se que tal seja de facto possível rapidamente, pois numa cadeia de abastecimento a falha de qualquer elo causa problemas. Os transportadores europeus começam a recusar-se a fazer serviços para o Reino Unido pois não querem ficar presos nas longas filas.

O The Grocer falou com vários motoristas “presos” em estações de serviço, e viu pouca disponibilidade, “vir para quê” afirmou um motorista Polaco “para ficar retido”. Aliás muitas empresas no Reino Unido queixam-se que neste momento ninguém quer vir, nas palavras de um responsável “neste momento é um pesadelo.” Os pesadelos por vezes ficam caros. O abastecimento do norte de Itália que ficava por 2000 libras, neste momento consegue-se por 7000. A razão não é apenas de aproveitamento da situação, muitos transportadores são pagos ao quilómetro, se estão parados não estão a ganhar.

Embora ultrapassar o problema do encerramento da fronteira em Calis seja importante, a realidade é que os portos do Reino Unido, como a Logística Moderna já noticiou não estão a conseguir dar conta do recado, abrir a fronteira vai ajudar, mas muitas empresas ainda querem constituir stocks antes do Brexit, o que vai causar problemas.

A verdade é que muitos especialistas acham que mesmo com um acordo, os problemas vão manter-se pelo menos durante seis meses. Assim apesar de se pensar que o encerramento da fronteira pode ser levantado à meia noite de hoje, segundo tudo indica, o primeiro ministro Britânico mostra-se «muito optimista».

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