Há algum tempo, o Prémio Nobel da Economia 2020, disse que “O melhor de nós está para chegar.”, entretanto com a pandemia fomos ouvindo que “tudo vai ficar bem” ou até “… o novo normal…”. Eu sempre vim referindo, que nem tudo ia ficar bem e muito menos teríamos um novo normal. Isto porque acho que cada um de nós tem agora uma nova responsabilidade. É mesmo verdade que nada vai ficar igual, mas é igualmente verdade que podemos saber o que queremos ser/fazer, se soubermos para onde vamos e utilizarmos as novas ferramentas que, entretanto, de desenvolveram para apoiar a nossa actividade.
Algum dia das nossas vidas pensámos que um vírus poderia paralisar-nos desta forma? Ao gerar tantas mortes e disseminar-se tão rapidamente por todo o mundo? Afectando todas as classes sociais, todas as empresas, todas as pessoas? Julgo que não.
Mas está a acontecer.
Covid-19, confinamento, Brexit, economia, pessoas, vida, saúde, sustentabilidade e futuro, têm estado na agenda das empresas que em circunstâncias inéditas, responderam e apostaram tudo na reinvenção para se manterem activas.
Qual o papel dos Transitários na gestão e da gestão eficaz das cadeias de abastecimento para acelerar a mudança necessária?
Diria que estamos perante uma “gestão de catástrofe da cadeia logística” Por um lado queremos perceber onde estamos, por outro lado queremos perceber para onde queremos ir e como vamos? E ao mesmo tempo perceber o que precisam de nós, de que forma, como e onde?
O que achamos que é relevante e fundamental reter, é o que tivemos de aprender.
Vamos olhar para trás e perceber o que a Covid-19 nos ensinou, porque há que retirar da tragédia o melhor dela. Com esta tragédia é suposto ficarmos mais bem preparados para qualquer “ameaça” futura”. Os impactos nos factores sociais e económicos, nos rendimentos e nas famílias, nas pessoas e na nossa vida comum, vão alterar seguramente todo o nosso futuro.
Como, onde e o que vamos consumir?
Como, onde e o que vamos comprar?
Como, onde e o que vamos produzir?
Como, onde e o que vamos transportar?
Ou seja, não vai ficar tudo bem. Vai é ficar tudo diferente.
Quando se fala em pandemias e crises nacionais, estas são igualmente, para Portugal, crises europeias, pelo que é importante ter uma resposta internacional e não apenas nacional. São questões que temos de avaliar como se não existissem fronteiras.
Sem dúvida que cada uma das componentes mais importantes desta nossa nova vida é tentar promover a colaboração transfronteiriça entre todos os players envolvidos. Implicitamente, está a ideia de que conseguimos dar uma melhor resposta a toda esta nova metodologia enquanto “equipa” internacional. Basta colocarmos os olhos nas empresas, em que não foi o indivíduo, mas a equipa, que sem “estrelas”, contra tudo e contra todos, souberam lá chegar.
Temos alguns exemplos em que os recursos das empresas Transitárias Nacionais, foram partilhados entre fronteiras, como por exemplo: a procura conjunta de EPI’s ventiladores, equipamentos de protecção individual, vacinas ou medicamentos e bens de primeira necessidade com muito sucesso, pois nada faltou aos “guerreiros” Portugueses no calor da guerra.
Verificou-se assim que há benefícios nesta colaboração entre empresas parceiras e esperamos que haja um maior mapeamento dessas mesmas parcerias, de tal forma que podem a vir ter ainda uma utilidade maior numa futura crise. Um levantamento minucioso das mesmas permitiria melhorar ainda mais esta partilha.
Actualmente já todos percebemos que ainda estamos a aprender e não há ninguém que o tenha feito na perfeição. É verdade que vemos alguns usarem o seu “data” e conhecimento de forma mais eficaz, mas outros houve/há que conseguiram responder em tempo recorde. Resumindo, não há uma resposta completamente correta e não há uma resposta que não possa ser melhorada.
Verdade que é muito difícil tentar detectar o que não se sabe ainda ser uma ameaça e qual a sua dimensão? Mas com esta partilha de informação procura-se ter mais capacidades para melhorar a eficiência da resposta. Isto requer realmente um investimento entre os parceiros.
Finalmente, para responder à questão principal – Queríamos abordar os impactos na Cadeia de Abastecimento, Logística? Eu diria que, concluindo, o segredo será procurar, procurar, procurar, questionar, questionar, questionar e alterar, mudar e transformar.
Procurar, questionar e transformar/mudar as melhores soluções e parceiros, preço e condições, diferentes metodologias e procedimentos, hábitos e costumes, qualidade e eficiência
De uma forma mais concreta, questionar toda a “arquitetura” funcional existente nos vários departamentos. Maior racionalização dos custos, maior promoção dos RH, melhorar a visão estratégica – ver mais a médio longo prazo, investir em marketing e comunicação, promover a imagem da empresa e, sobretudo, uma “reorganização do ambiente de trabalho interno”
Hoje enfrentam-se forças e pressões diferentes, internas ou externas, mas que impactam muito seriamente no comércio internacional. É expectável que os mercados “naturais” se alterem, vejamos o Brexit e até a globalização como a vemos atualmente, em que as “fábricas do mundo” poderão deixar de ser apenas no Oriente, as novas relações entre os utilizadores do transporte marítimo, assim como as performances das economias nacionais, ainda o confinamento das pessoas, que por via da Covid-19 desenvolveram capacidades individuais, em que cada um se tornou facilmente num comprador on-line, condicionando e alterando assim o paradigma desta indústria.
Fundamentalmente não nos podemos esquecer que todas estas mudanças estão a promover a criação de outro tipo de empregos, com mais futuro, mais especializados, com vantagens mais adequadas, que geram mais economia e que produzem mais e diferentes (digitais) novos empregos. Estamos a assistir à criação de novos cenários, novos produtos, em que todos querem fazer parte deste novo tecido logístico mundial e convergir naquelas que são as melhores condições.
Fornecedores, transportadores, fabricantes, exportadores, importadores, distribuidores, autoridades tributárias e fiscalizadoras, todos envolvidos nesta sucessão de mudanças são assim, dependentes de um novo desempenho logístico que é essencial para todos.
Sendo a questão principal – Queríamos abordar os impactos na Cadeia de Abastecimento, Logística? responderia com uma outra questão que é: Como estão as empresas nacionais a perspetivar as novas realidades e a preparar-se para o que ainda está para vir? Sendo que o melhor de nós está para chegar.
Nabo Martins
Presidente Executivo APAT