No seguimento da presença de Frank Arendt, Chief Procurement Officer da Migros Industrie, em Lisboa (para a conferência internacional World Ocean Summit, do Economist), a Logística Moderna Moderna aproveitou para conhecer melhor o braço industrial do maior retalhista Suíço, a Migros. A Migros Industrie produz 20.000 produtos diferentes e é responsável por grande parte dos produtos vendidos pelo retalhista.
Logística Moderna – Há muito tempo, alguém que lecionou na IMD Business School disse que a Migros, no início, teve alguns problemas de compras com fornecedores, o que foi decisivo para que se aventurasse nas marcas próprias. Isso é real?
Frank Arendt – Isso está correto, como pode encontrar ainda no nosso Site, a relutância de fornecedores estabelecidos levou o fundador da Migros a investir em fábricas próprias.
A Migros AG foi fundada em 1925. As fundações da Migros Industrie foram lançadas em 1928 pelo fundador da Migros, Gottlieb Duttweiler, quando a Migros (a nossa empresa-mãe) foi forçada a estabelecer a sua própria rede de fábricas e a adquirir empresas de produção, na sequência de um boicote à entrega, por parte de vários fornecedores bem estabelecidos à época.
Com a aquisição da Alkoholfreie Weine AG (actualmente Midor AG), em 1928, a Migros compra a sua primeira fábrica e entra assim na produção. A partir desse ponto, a Migros Industrie tornou-se um grupo industrial de alto desempenho, o que se tem mantido ao longo deste quase um século. Na Suíça, concentrou-se consistentemente em explorar ao máximo o potencial na gastronomia e no negócio de conveniência, dentro do Grupo Migros, bem como em proteínas alternativas e nas tecnologias alimentares do futuro.
Ao longo da sua história, a Migros Industrie expandiu continuamente a sua presença internacional e agora está representada com as suas estruturas de marketing e as suas próprias subsidiárias na Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Holanda, Espanha, Canadá, EUA e Ásia. Aquisições estratégicas no exterior também fortaleceram a sua posição e presença no mercado.
A Migros Industrie, emprega hoje em dia 14.000 pessoas e produz 20.000 produtos diferentes principalmente na Suíça, exportando ainda para 50 países.
Quantas pessoas trabalham no departamento de Procurement da Migros Industrie?
Na Migros Industrie, somos aproximadamente 150 pessoas envolvidas em compras, 50 das quais são compradores estratégicos (da origem ao contrato) e mais de 100 compradores operacionais (do pedido ao recebimento de mercadorias).
Como é que o departamento está organizado?
O departamento está organizado como uma matriz, servindo as unidades de negócios verticais enquanto combina os volumes entre elas em departamentos horizontais, por exemplo, o comprador de embalagens trabalha para todas as unidades de negócios, agregando todas as necessidades de embalagens.
Consumidores preferem produtos locais
Qual a importância da gestão do relacionamento com os fornecedores da Migros Industrie?
Os fornecedores são o foco do nosso trabalho: vinculamos as necessidades internas aos recursos e à capacidade do fornecedor; garantimos que os requisitos de qualidade e conformidade sejam atendidos; garantimos a disponibilidade e trabalhamos com fornecedores seleccionados na próxima geração de materiais e serviços, suportados no nosso “pipeline” de inovação.
A Migros produz algumas das suas marcas próprias? Em que categorias? Sim, a Migros Industrie é responsável pelo fabrico de uma vasta gama de produtos, dos lacticínios aos detergentes. Manuseamos cuidadosamente produtos frescos e inovadores provenientes quase exclusivamente da agricultura Suíça sustentável. Na Migros Industrie, beneficiamos do mais alto nível de confiança da população e dos nossos parceiros na agricultura suíça, graças às nossas Cadeias de Abastecimentos transparentes e fechadas.
Temos pão e produtos de panificação; produtos de conveniência (consumo imediato), prontos a consumir e prontos a cozinhar; ovos; peixe, na gama de mariscos, sendo que o Grupo Micarna oferece uma vasta gama de peixes e mariscos de grande qualidade. Como membro do WWF Seafood Group, há um comprometimento no uso de matérias-primas de pesca de conservação e pesca sustentável. Mais de dois milhões de consumidores apreciam os produtos de carne ou aves do Grupo Micarna todos os dias.
O Grupo ELSA-Mifroma é especialista em produtos lácteos e processamento de leite, também é especializado na refinação, acondicionamento e embalagem de queijo. São imensos produtos e temos outros produtos alimentares mais gerais como Biscoitos, Frutas, Legumes, Bebidas, Café, Arroz, Massas, Chocolate, Congelados, etc., mas também outros produtos como de higiene pessoal e do lar.
De que áreas geográficas é que fazem o sourcing das vossas marcas próprias?
Os nossos consumidores têm preferência por produtos locais, sejam lácteos ou carnes. Portanto, procuramos obter da Suíça sempre que possível, mas usamos importações para produtos como café ou frutas no início ou em final de época.
Sustentabilidade no topo da agenda
A Migros Industrie tem um programa de sustentabilidade?
A sustentabilidade está no topo da agenda dos nossos consumidores e, portanto, na nossa. Quando se trata de sustentabilidade, nós concentramo-nos em metas de longo prazo e avaliamos regularmente as nossas metas. A Visão 2040 orienta o nosso compromisso com a sustentabilidade. Para alcançar a Visão 2040, dividimos o caminho em etapas de cinco anos e estabelecemos metas ambiciosas, mas realistas e viáveis. Todos os segmentos e empresas da Migros Industrie procuram atingir as mesmas metas juntos. Para garantir que estamos sempre no caminho certo com as nossas metas, revemos as metas alcançadas todos os anos. Resumimos as nossas conclusões na forma de uma análise de gestão.
As três áreas-chave da nossa estratégia são:
Matéria-prima 100% sustentável, até 2040 estaremos a processar apenas matérias-primas sustentáveis;
100% de energia renovável, até 2040 estaremos a trabalhar apenas com energia renovável;
100% de Reciclagem, até 2040 estaremos a trabalhar apenas com ciclos ecológicos fechados;
Isto mostra o nosso compromisso e os planos definidos.
A nossa empresa também lançou o primeiro sistema do mundo para café em porções sem cápsulas, tendo inventado uma Coffee Ball totalmente compostável (coffeeB). A sustentabilidade é importante para nós, tanto no cultivo do café quanto no produto acabado. É por isso que as nossas Coffee Balls são totalmente compostáveis no seu jardim. Fechamos o círculo onde começou: na terra. No entretanto, fazemos o nosso melhor para garantir o uso cuidadoso dos recursos do nosso planeta.
Levamos as nossas responsabilidades a sério, desde a etapa do cultivo do café. Cada Coffee Ball traz os selos da Rainforest Alliance, Fairtrade ou do nosso selo orgânico. Esses certificados de sustentabilidade garantem que as Coffee Balls não têm apenas um baixo desperdício, mas também são socialmente responsáveis e ecologicamente correctas. Ao comprar o nosso café, evitamos transportá-lo por via aérea. As nossas Coffee Balls não incluem alumínio, nem plástico. E uma vez apreciado o seu café, a Coffee Ball pode ser facilmente e totalmente compostada.
Têm em consideração práticas de trabalho justas ao adquirir as marcas próprias?
Sim, isso faz parte do nosso programa de sustentabilidade.
Que desafios trouxe a pandemia do Covid 19 ao departamento de compras da Migros Industrie?
A disponibilidade foi um desafio fundamental, que – graças aos esforços incríveis de todos as partes, fornecedores e Migros – foi gerido com disponibilidade praticamente total do nosso produto. Uma comunicação próxima entre nós e os nossos fornecedores ajudou.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia está a causar sérios desafios ao vosso procurement?
Lamentamos profundamente o ataque à Ucrânia e as dificuldades causadas, mas não temos nenhum impacto adverso no nosso abastecimento, por exemplo, de óleo de girassol.
Quais são, na sua opinião, as tendências mais importantes em compras hoje?
A disponibilidade do produto continua a ser uma área em foco com o clima seco a impactar algumas colheitas. Garantir que os nossos funcionários continuam a desenvolver as suas capacidades é importante, assim como o uso de novos softwares. E por fim, garantirmos o cumprimento das metas do “triângulo mágico” de custo, sustentabilidade e qualidade.
A entrevista foi publicada na edição nº 188 da revista Logística Moderna