Fruto dos tempos, a insígnia Gato Preto tem vindo a apostar no omnicanal, o que tem provocado um impacto forte na operação e na logística. Conseguir corresponder às necessidades das lojas nas entregas semanais e também diariamente aos clientes online é «sempre um desafio grande e exigente».
O Gato Preto, retalhista de referência nas áreas de decoração, têxteis e mobiliário, conta actualmente com 65 lojas, 40 lojas em Portugal e 25 em Espanha. Com uma operação que envolve um manuseamento entre 14.000 a 20.000 paletes, a insígnia trabalha com um operador logístico, que faz toda a sua gestão de armazenagem, inbound e outbound, sendo que a maioria das vezes, o abastecimento às lojas funciona de forma mista.
Também a operação de transporte é feita em regime de outsourcing. Como explica Bruno Jesus, Supply Chain & Logistics Director do Gato Preto: «O abastecimento de lojas depende do seu perfil e necessidade, sendo que existe um modelo para cada loja. Algumas são abastecidas três vezes por semana, outras uma vez.» Em toda a operação logística trabalham cerca de 90 pessoas, entre colaboradores do Grupo e trabalhadores em regime de outsourcing em armazém e distribuição.
Ao nível da digitalização, «o nosso operador logístico fornece todos os meios para o desempenho da operação, onde se incluem WMS, TMS e integração com o nosso ERP. Queremos continuar a evoluir de forma a acompanhar o crescimento da empresa e dar resposta às necessidades do negócio», esclarece o responsável.
Pelo tipo de produto comercializado que «exige uma atenção cuidada e exigente», tanto na manipulação no armazém como na distribuição, é feito um controlo de embalamento, havendo «uma constante adaptação para também sermos mais sustentáveis nos materiais que utilizamos».
Apesar de importar do continente europeu e asiático, «como todos os players do segmento», o Gato Preto tem vindo a crescer e a «apostar bastante» nos fornecedores nacionais. A operação é gerida centralmente desde Portugal, ainda que trabalhe com empresas que localmente fazem o controlo de qualidade aos produtos e fábricas.
«Neste momento as nossas importações não têm consolidação e os envios de mercadoria são directos das fábricas para o nosso centro de distribuição», diz Bruno Jesus que adianta que trabalham com os métodos convencionais de transportes, utilizando mais o terrestre e marítimo. «Vamos adaptando as nossas necessidades com os vários fornecedores, tendo a flexibilidade de trabalhar só com um em alguns períodos ou com mais se assim o exigir.»
Os desafios do omnichannel
O Gato Preto sempre evoluiu, acrescentando novas linhas de produtos. Chegou a vez de um novo posicionamento com a aposta na omnicanalidade. «Todos os recursos humanos estão envolvidos com este novo compromisso e desafio». A estratégia omnichannel consiste na integração dos canais online e físico na estratégia Consumer Centric.
Bruno Jesus explica que «esta aposta tem a ver com o facto de actualmente o perfil de compra dos clientes ser cada vez mais híbrido e nós pretendermos proporcionar-lhes uma experiência com a marca que seja única e diferenciadora. Desta forma, estamos a apostar na transformação digital da insígnia, no e-commerce e na criação de sinergias com as nossas 65 lojas físicas em Portugal e Espanha, proporcionando serviços como o click and collect e integrando tendências como o ropo (research online, purchase offline)».
O responsável assume que a aposta no omnichannel traz um «impacto forte» na operação e na logística. «A necessidade de evoluirmos e estarmos em constante mudança torna a logística uma área fundamental para o negócio, que tem de saber corresponder aos clientes internos e, mais importante, aos externos», conforme explica Bruno Jesus. «Entregar o produto certo, na data certa e na quantidade correcta é um desafio que temos, sempre com foco no cliente e nas suas necessidades e expetactivas».
A omnicanalidade torna a «operação logística ainda mais interessante e complexa», sendo que «o abastecimento é feito centralmente pelo nosso armazém» para toda a operação. Neste sentido, o retalhista encontra-se num processo de restruturação de algumas áreas e de processos logísticos, tanto ao nível operacional como de sistemas, de forma a serem mais eficientes, eficazes e corresponderem às necessidades do negócio.
A necessidade e exigência que o mercado tem, «leva-nos a pensar em novas soluções de forma a rentabilizar os processos e minimizar custos. Darkstores, hub logísticas, dropshipping, são tudo possibilidades que estamos a analisar, entre outras, que nos permitam acrescentar valor e rapidez à operação», acrescenta Bruno Jesus.
Pandemia acelerou as transformações no digital
O retalho tem sofrido, tal como os outros sectores, grandes transformações e desafios nestes últimos anos e décadas. A globalização, o processo de digitalização das empresas, a sustentabilidade e agora a pandemia. A tudo isto as empresas tiveram de se adaptar e transformar para sobreviver e depois prosperar. «Faz parte da evolução do negócio e temos de ter as ferramentas certas para conseguir corresponder e antecipar todas as necessidades dos nossos clientes, tanto na experiência que produzimos nas nossas lojas como nas entregas ao domicílio. São estas mudanças que nos desafiam e permitem-nos continuar a crescer e a reinventar-nos numa constante procura pela excelência em todos os processos que fazemos», diz o responsável de logística.
A par desta evolução natural do mercado, a pandemia veio acelerar o crescimento no e-commerce em todas as empresas e o Gato Preto não foi excepção. «Se algumas empresas ainda não estavam preparadas ou estavam a adiar a entrada no mercado digital, a pandemia transformou este desejo em necessidade», salienta o responsável. «Tivemos de saber reagir e adaptar para dar resposta ao mercado. Nos últimos anos tivemos um crescimento grande nas vendas do online e, em ano de pandemia, obtivemos valores recorde na empresa. Este ano não será diferente e vamos querer superar-nos, apostando cada vez mais neste canal que responde ao perfil de compra dos clientes que pretendemos cada vez mais impactar.»
Ao nível da actividade, a pandemia de Covid-19 afectou o Gato Preto, à semelhança de todas as empresas de retalho em Portugal e no resto do mundo. «A experiência em loja é (ao dia de hoje) uma fatia muito importante do negócio, um canal forte no contacto directo com o consumidor e ficar privado dessa opção tem um impacto forte para qualquer empresa», refere Bruno Jesus. «Isto levou a um ajuste na operação, uma dedicação exclusiva ao nosso canal online com uma logística dedicada e um redesenho de processos.» Também o aumento da procura de espaços no transporte marítimo levou «a valores de contentores no mercado nunca vistos, o que também nos colocou ainda mais desafios».
Bruno Jesus diz que no Gato Preto há um trabalho diário com os seus parceiros logísticos para encontrar novas soluções de formar a minimizar custos e tempos de entrega, para não afectar a disponibilidade de stock. «Mas os desafios vão existir sempre, ainda mais na área da logística. Não precisamos de uma pandemia para sentir esses desafios e dificuldades, exemplo disso foi a situação do navio Ever Given no canal de Suez, cujo impacto se fará sentir nos próximos meses por todo o mundo», remata.
Artigo editado na edição impressa nº 179 da revista Logística Moderna