Fluxos globais: a globalização em transformação

Que a globalização está a mudar de rumo, é bastante claro. Mas não se trata de uma retirada, é apenas “reconfiguração”, isto de acordo com um novo estudo da empresa de consultoria McKinsey, “Global flows: The ties that bind in an interconnected world”.

Atualmente, as empresas internacionais confrontam-se com problemas complexos de uma ordem global cada vez mais contestada, onde a guerra, a segurança nacional, as ruturas das cadeias de abastecimento e as mudanças tecnológicas estão a provocar mudanças nos fluxos comerciais globais.

O resultado desta mudança, de acordo com McKinsey, é que algumas cadeias de abastecimento provavelmente vão tornar-se mais curtas, passando a ser mais regionais nos próximos anos.

A Apple por exemplo, que produz a maioria dos seus iPhones na China, está a preparar-se para começar a abastecer-se de chips para os seus dispositivos a partir de uma fábrica que está em construção no estado norte-americano do Arizona. Isto representa um passo importante para reduzir a dependência da empresa em relação à produção asiática. A empresa poderá também expandir o seu abastecimento de chips a partir de fábricas na Europa.

No entanto, estes processos estão mais próximos do início do que do fim das transformações previstas na supply chains internacionais. A evolução das cadeias de valor globais levou anos a estabelecer-se e “reconfigurá-las” pode ainda levar muito mais tempo. Porquê esta lentidão? Porque as cadeias de abastecimento são hoje mais interdependentes do que nunca, de acordo com este estudo.

Ao longo das últimas três décadas, a China emergiu como um centro crítico para as exportações de produtos eletrónicos e têxteis, as Américas tornaram-se um mercado mais concentrado para produtos agrícolas chave e a Europa tornou-se o principal centro de fabrico de produtos médicos e farmacêuticos.

Atualmente, cerca de 60% de todos os fluxos comerciais globais atravessam fronteiras regionais e cada região do planeta está dependente de outras regiões para um quarto das suas importações de pelo menos um recurso crítico ou bem manufaturado. Por outras palavras, será difícil e provavelmente difícil “desatar”os laços comerciais que ligam a economia global.

Veja-se, por exemplo, as cadeias de abastecimento de certos minerais críticos, tais como os necessários para o fabrico de baterias para veículos elétricos. Estas cadeias são particularmente difíceis porque qualquer tentativa de as reconfigurar envolve “não só a exploração mineira, mas também o desenvolvimento de capacidades de processamento em zonas geográficas diferentes”, de acordo com o estudo.

É assim provável que interdependências importantes entre as principais economias continuem a ser uma característica do sistema económico global num futuro previsível, afirma o estudo.

No futuro, as empresas multinacionais, que representam cerca de dois terços das exportações globais, terão de navegar esta nova era de interligação económica, equilibrando o risco de estarem demasiado dependentes de mercados específicos. Isto significa que as empresas internacionais não devem afastar-se do modelo de cadeias de valor interligadas a nível global, diz a McKinsey. Pelo contrário, devem re-imaginar formas de reorganizar a sua capacidade de produção de uma forma que contribua tanto para o crescimento como para a resiliência. “Este não é apenas um lugar de preocupação”, disse a diretora do McKinsey Global Institute, Olivia White. “As empresas devem procurar estabelecer parcerias com outros para garantir que o mundo seja um lugar mais previsível”.

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