Feira dos Sofás: 21 lojas e a somar

Fundada há quase 30 anos, a Feira dos Sofás detém 21 lojas e está no processo de abertura de mais seis, que já estão projectadas e em fase de licenciamento. O próximo grande investimento será na automatização de alguns processos de logística e armazenagem, de forma a colmatar, em grande parte, a falta de recursos humanos. A Logística Moderna esteve à conversa com Luis Teixeira, Director Geral da Feira dos Sofás, no decorrer do Deliver, conferência internacional dedicada ao e-logistics.

Inicialmente concebida como uma cadeia especializada na venda de sofás, a Feira dos Sofás é neste momento muito mais do que isso. As lojas foram recentemente remodeladas, algumas tiveram inclusive de mudar para instalações maiores, para se fazer frente ao alargamento da oferta disponível (mobiliário, artigos de decoração, electrodomésticos, etc).
Como explica Luis Teixeira, «o crescimento da empresa foi orgânico, nunca comprámos qualquer outra empresa como forma de crescermos rapidamente. O crescimento foi uma consequência do que sentíamos que o mercado estava a pedir. Essa já era a política da empresa quando eu entrei há 10 anos, embora nessa altura a empresa ainda só comercializasse sofás. Hoje temos uma cadeia de lojas bastante sustentável, com lojas que têm entre 1500 m2 a 2000 m2 com um leque de produtos muito abrangente».
Para este ano, a empresa tinha como objectivo facturar perto dos 30 milhões de euros, valor este poderá não ser atingível devido à crise pandémica.

 

Operações contam com 5 armazéns de Norte a Sul

 

Para a sua operação logística, a Feira dos Sofás conta com cinco armazéns: três no centro; um no norte e outro no sul do país. «Temos um armazém na zona da Maia onde fica a sede da empresa, um armazém em Castanheira do Ribatejo que cobre a zona centro e outro em Faro. Temos um armazém satélite na zona da Maia e temos um novo que estamos a abrir em Aveiras de Cima, que irá substituir o de Castanheira do Ribatejo. Este novo armazém é necessário pois o de Castanheira está muito limitado em termos de espaço. Por isso vamos abrir este novo armazém que quando estiver pronto terá 8.000 m2 de área coberta. Este vai ser o maior armazém da empresa, que será um pouco maior que o da Maia que já tem quase 7.000 m2», explica Luís Teixeira. «Os armazéns embora sejam grandes não levam muitos produtos, uma vez que os artigos que comercializamos são na generalidade de grandes dimensões. Devido ao grande volume as lojas têm poucos produtos para entrega imediata. Os artigos das lojas destinam-se, regra geral, apenas a exposição. Para as lojas terem stock teriam de ter mais 1.000 ou 2.000 m2.»

 

Retalhista aposta na implementação de novo ERP
No que se refere à sua transformação tecnológica a empresa acaba de instalar um novo ERP, substituindo a solução anterior que apesar de ter sido desenhada à medida já estava ultrapassada. A sua implementação ficou a cargo de uma empresa espanhola, cujo software Expowin, desenvolvido especificamente para lojas de mobiliário e decoração, já estava instalado em algumas empresas do mesmo sector no país vizinho. «Este novo ERP faz a gestão de toda a empresa de ponta a ponta, com módulos de gestão logística, rotas, armazém e facturação. Este software faz a gestão de todo o processo, desde que o cliente faz a encomenda na loja até que o sofá chega à porta do cliente. A implementação foi um pouco demorada porque o software teve de ser certificado junto da Autoridade Tributária, o que é sempre demorado», conforme explica o responsável da cadeia de lojas.
A empresa ainda está em fase de implementação dos vários módulos. O módulo de gestão de armazém, por exemplo, vai começar a ser implementado agora, enquanto no caso da gestão dos transportes ainda não está a ser utilizado.
Por outro lado, foi criado um módulo específico para gerir as fábricas que produzem para o retalhista. «Apesar de não serem nossas, este módulo vai permitir às fábricas acederem a todas as encomendas e verem se há falta de tecido, de uma ferragem, etc. As faltas nesta altura são normais por causa das perturbações no comércio internacional, pelo que este módulo é importante porque a fábrica pode indicar que o sofá está em fabricação, que determinado material foi encomendado, mas está atrasado, indicar datas de entrega etc. Por outro lado, numa perspectiva de e-commerce, vai permitir que um cliente faça uma encomenda e possa ver no sistema todas as informações relacionadas com a produção do sofá. Saber a data da encomenda, que a fábrica encomendou o material, a produção está agendada para a próxima quinta-feira, o sofá foi hoje embalado, vai seguir para expedição, entrou hoje no armazém do norte, será entregue no dia x. Enfim um conjunto de informações necessárias», explica Luís Teixeira.
Todos estes dados vão ser documentados e os clientes vão ter acesso aos mesmos. Apesar de se tratar de um processo demorado e de a pandemia «não ter ajudado», o responsável afirma que quando o sistema estiver a funcionar plenamente, «a Feira dos Sofás vai ter uma visibilidade total da sua cadeia de abastecimento».

 

Toda a produção de sofás é comprada a fornecedores externos
Relativamente à sua supply chain a montante, Luís Teixeira lembra que a Feira dos Sofás cresceu a produzir os seus próprios sofás. Actualmente isso já não acontece. Nos últimos dez anos a empresa abandonou esse modelo, deixou de ter fábrica e passou a comprar a fornecedores externos. «Neste momento temos fornecedores locais que produzem quase em exclusivo para nós ou para quem representamos – 70% das vendas», diz o responsável. «Não exigimos que produzam em exclusivo para a Feira dos Sofás, apenas exigimos exclusividade dos modelos que comercializamos. Exigimos ainda que os fornecedores tenham capacidade alocada para as quantidades estimadas de vendas, sendo que neste momento a Feira dos Sofás vende quase 40.000 sofás por ano. A verdade é que algumas trabalham quase em exclusivamente para nós, estando a maioria localizadas na zona de Passos de Ferreira. 80% dos sofás que vendemos é comprado nessa zona. Mais recentemente começámos a trabalhar com um novo parceiro, que é provavelmente a maior fábrica de sofás do país.» No total a Feira dos Sofás tem em Portugal a trabalhar para si oito fábricas de sofás e três de colchões. Residualmente a empresa compra alguns produtos em Espanha e na Ásia. «Na Ásia comprámos apenas produtos de gamas superiores, produtos que são difíceis de fabricar e que ficariam mais caros se fossem produzidos localmente», acrescenta Luís Teixeira.
Ao nível de mobiliário, a Feira dos Sofás já «compra bastante mais» em outros países, nomeadamente em Espanha, Turquia Polónia, França, Servia, Grécia e na Ásia. Neste caso as percentagens invertem-se, sendo que as compras nos mercados externos representam cerca de 80% e 20% no mercado nacional.
De referir que a empresa vendia 80% de sofás e neste momento vende 50% de sofás e 50% de outros segmentos como mobiliário, colchões, decoração e electrodomésticos. «Os sofás ainda têm uma predominância grande, sendo que o nosso objectivo não é vender menos sofás, mas vender mais da restante gama» comenta.
Ao nível do design, embora alguns modelos sejam desenhados pela empresa, que depois pedem às fábricas para produzirem protótipos, o objectivo é estimular as fábricas a apresentarem novos produtos. A Feira dos Sofás interfere, por exemplo, na escolha dos tecidos, pelo que cabe a si negociar com as empresas fornecedoras de tecidos um preço para todos os seus fabricantes de sofás. «Este preço é bastante mais económico e tem a vantagem de ter uma garantia mínima definida. Os nossos fornecedores de tecidos estão localizados maioritariamente em Espanha. A nossa interferência é apenas ao nível do sourcing. É ao fabricante que compete comprar os tecidos e encomendar as quantidades necessárias. Por as quantidades serem maiores com este modelo, o fornecedor optou por ter um armazém na zona, o que torna o processo mais célere e fácil. Quando não têm stock localmente o produto é entregue directamente ao fabricante por Espanha».
Em relação ao fornecimento de sofás pelos fabricantes à Feira do Sofás, o processo pode funcionar de duas maneiras, ou são encomendados uma grande quantidade de modelos em cores escolhidas ou então o cliente na loja pode escolher um modelo e personalizá-lo a gosto. A Feira dos Sofás tem cerca de 30 catálogos de tecidos.

 

Entrega ao cliente final é feita por um único operador
Já a jusante, depois de uma fábrica ter terminado uma encomenda o produto é sempre entregue num dos armazéns. Se o produto for destinado ao armazém da Maia é o próprio fabricante que o entrega, se for destinado a um dos outros armazéns, a empresa coloca lá um camião para recolher o mesmo e o encaminhar para o armazém indicado. O transporte é sub- contratado a empresas de transportes, que neste momento são três. A preferência recai em camiões com contentor rígido e não com lona, pois evita incidentes nas cargas.
Como as lojas têm pouco stock, sendo feita uma venda o normal é o sofá ter de ser entregue a partir do armazém mais próximo. Caso não exista em stock nesse armazém, o artigo terá de vir de outro armazém para o armazém mais próximo, para ser depois entregue ao cliente. A entrega no armazém e em casa do cliente é feita por empresas diferentes e pode ser feita dentro de casa ou à porta de casa que é uma entrega mais económica.
A entrega à porta de casa é toda feita por um operador único que é a Logic. Neste caso a Logic carrega todas as encomendas no armazém da Maia, distribui as mesmas pelos seus armazéns e faz as entregas.
Em termos de prazos, entre a venda e a entrega em casa do cliente, na maioria do território continental o prazo é de 48 horas e nos locais mais afastados e isolados 72 horas. Neste momento específico devido à implantação do novo ERP e também dos problemas nas fábricas por falta de matérias primas e constrangimentos nos transportes internacionais, está a haver problemas em cumprir estes prazos. «Esses eram os prazos e vão ter de voltar a ser», garante Luís Teixeira.
«Na implementação de um novo ERP estes problemas na prática verificam-se sempre, são complexos e por vezes são responsabilidade da empresa fornecedora do software. No nosso caso estava a duplicar as existências, mas noutros estes têm origem na própria empresa, por exemplo na exportação dos dados. São processos em que primeiro as coisas pioram muito, para depois melhoraram», segundo o responsável.
Mas para além destes problemas de origem informática e das consequências da pandemia, «o tipo de produtos vendidos gera muitos incidentes porque são volumosos, sensíveis e pesados e não é qualquer transportador que o consegue fazer. É próprio deste negócio gerarem-se muitos incidentes que criam mal-estar com os clientes».
Situações em que quando o sofá é entregue não cabe na porta e não entra. A solução passa por desmontar uma parte do sofá. «O que por vezes acontece é que um operador que tem 300 camiões, quando uma das equipas nunca entregou um sofá nosso, o que por vezes acontece, essa equipa não sabe como resolver o problema. Um sofá que foi danificado no transporte, gera muita frustração, pois o cliente estava à espera de ter o sofá nesse dia e não tem. Mesmo nos casos em que a responsabilidade é do cliente, são situações que geram sempre frustração».

 

Pandemia dá lugar a problemas nos transportes
Os tempos da pandemia foram tempos de desafios atípicos. Se por um lado limitou por outro lado possibilitou que a empresa tivesse vendido mais. «Esta última fase que foi boa em termos de vendas, deu para compensar o que perdemos quando estivemos parados na primeira vaga», refere Luís Teixeira.
«Agora que parece que a pandemia está a chegar ao fim, somos atingidos por problemas de transporte, que a nível mundial estão caóticos, principalmente o transporte marítimo. Neste caso nem se pode falar em aumentos, a situação é completamente absurda, estamos a falar de aumentos de 10 vezes. Falo do período que vai de Dezembro de 2020 até agora e ainda não estabilizou. Há muitas opiniões, muitas projecções mas até agora têm falhado e é difícil prever o que vai acontecer num futuro próximo», diz mesmo o responsável.
«Embora como já foi dito não trabalhamos muito com sofás que vêm da Ásia, a verdade é que quase tudo é construído com materiais que veem da Ásia. Assim, o aumento de preços do transporte tem impacto no preço das matérias primas, como ferragens, tecidos, ferro, etc. Tudo junto tem um impacto grande no preço final dos produtos. Os derivados do petróleo têm aumentado muito, as espumas têm aumentado imenso. Os produtos químicos para produzir as espumas têm sido alvo de uma cartelização a nível mundial. Neste momento parece a bolsa, temos dois barris para vender a quem dá mais. Tudo isto tem levado a um aumento grande. Nós temos conseguido não aumentar o preço na mesma proporção que nos estão a aumentar, mas a continuar assim, vai ser inevitável que os preços no mercado venham a ter uma subida bastante grande» lamenta.
Luís Teixeira fala ainda do aumento verificado no transporte rodoviário em Portugal, «o que é normal pois o combustível tem subido imenso e isso tem de se reflectir no preço do transporte. Agora a verdade é que a maior parte das empresas estão como nós. Não aumentamos quase nada os nossos produtos e esses para nós já aumentaram quase 17% desde Dezembro do ano passado e poucos ajustes fizemos. Penso que no transporte rodoviário ainda está um pouco assim. Ainda ninguém aumentou verdadeiramente na proporção dos aumentos que sofreram. Estamos todos à espera de ver se as coisas normalizam, mas se tal não acontecer é inevitável que os preços subam a partir do próximo ano», garante.

 

Futuro passa pela automatização

 

Em matéria de recursos humanos, a Feira dos Sofás conta neste momento com 210 colaboradores permanentes, mas à semelhança de muitas outras empresas tem «muita dificuldade em conseguir trabalhadores, em Portugal». Ao ponto de Luís Teixeira afirmar que «é difícil encontrar pessoas para todas as funções, não só para os armazéns. Para os escritórios e lojas também. Não somos só nós, penso que o problema é transversal a todos os sectores».
De forma a ultrapassar esta questão, o responsável diz já terem pensado em recrutar trabalhadores fora de Portugal, bem como em automatizar os armazéns. «Neste último caso falamos de investimentos muito grandes que exigem grande planeamento financeiro. Na realidade a nossa ida ao Deliver em Amsterdão, foi exactamente para ver se conseguíamos ver algumas ideias. É certo que a tipologia dos nossos produtos torna a solução difícil, mas temos a certeza de virmos a conseguir fazer um projecto para um investimento desses. Não está nos nossos planos para o imediato, mas acabando esta fase de implementação do novo ERP, o nosso próximo grande investimento será na automatização de alguns processos de logística e armazenagem», garante Luís Teixeira.

 

O artigo foi publicado na edição nº 181 da Logística Moderna.

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