Crise dos semicondutores ainda não atingiu o seu máximo

A crise global de falta de semicondutores, que tem afectado principalmente a indústria automóvel, tem levado muitos fabricantes a suspenderem a produção. Os fabricantes automóveis que dependem de dúzias de semicondutores para incorporar num único veículo têm sido particularmente afectados, tendo sido forçados a fazer paragens na produção enquanto esperam por chips.

É estimado que estas paragens tenham um custo global à indústria automóvel de 450 mil milhões de dólares em vendas, desde o seu início até ao termo da crise que se estima só venha a acontecer no final de 2022. Nos EUA, a Ford e a General Motors tiveram recentemente de suspender a produção durante semanas em mais de uma dúzia de fábricas, tendo a Ford declarado que por esse motivo as suas vendas baixaram 33% em Agosto deste ano, comparativamente ao ano passado.

À semelhança do que acontece no sector automotive, o aumento de procura de computadores e consolas de jogos nos períodos de confinamento, também deu origem a uma indisponibilidade deste tipo de produtos. Alguns economistas prevêem que a falta de semicondutores possa até a vir, em alguns países, a afectar o preço da alimentação à medida que os produtores agrícolas possam ter de deixar de utilizar smart tech e passarem a realizar algumas operações de forma manual. Por outro lado, produtos tecnológicos que ainda não atingiram picos de procura podem ver os seus preços aumentarem à medida que a falta de semicondutores se alargue a todos os sectores.

Por outro lado, à medida que a procura por veículos eléctricos aumenta, também aumenta a procura de semicondutores, pois estes usam mais semicondutores de que os motores de combustão. Se tivermos em conta que a indústria automóvel absorve apenas 15% da produção global de semicondutores consegue-se perceber que estamos perante um recurso limitado.

Perante esta crise, globalmente as empresas produtoras de semicondutores aumentaram a sua capacidade em 8% desde o início de 2020 e tencionam aumentar a produção mais 16% até ao fim de 2022, de acordo com a Semiconductor Industry Association.

Os gastos globais em equipamentos para fabricar semicondutores é estimado aumentar em mais de 30% e atingir os 85 mil milhões de dólares, o que mostra que de facto os fabricantes estão a aumentar a produção.

 

Intel arranca com duas fábricas nos EUA

A Intel arrancou com as obras para duas novas fábricas de semicondutores no Arizona onde tenciona investir 20 mil milhões de dólares. Embora nos EUA, o sector esteja a marcar passo à espera que a administração Biden aprove a legislação que vai atribuir subsídios ao sector.

A razão porque o problema tem aparentemente afectado mais o sector automotive mais do que os outros se deve apenas porque este sector opera tradicionalmente com cadeias de abastecimento muito lean.

Há quem tenha sugerido, que uma das soluções é o sector automotive afastar-se de um modelo de produção just-in-time que ultimamente tem sido colocado em causa. O problema é que é este modelo permite ao sector automotive manter-se competitivo, mantendo os preços baixos, pelo que é pouco provável que se venham a afastar do actual modelo. Acresce que muitas fábricas automóveis não têm capacidade para receber e armazenar grandes quantidades de materiais, pelo que o modelo lean deve continuar a ser o modelo normal. Por estas razões no sector automotive a crise dos semicondutores deve continuar para lá de 2022.

Devemos ter em conta que as primeiras fábricas tiveram de suspender a produção à aproximadamente 18 meses. Este é exactamente o lead time necessário para produzir semicondutores a partir do zero, pelo que se poderia supor que o problema estaria a aproximar-se do fim. Mas na realidade os fabricantes de chips em circunstâncias normais utilizariam o transporte marítimo, que embora tenha lead times maiores é mais barato, mas devido à falta a maioria está a optar pelo transporte aéreo para tentar ser mais expedito. Este facto vai colocar sob pressão o sector da carga aérea que já está com dificuldades devido a falta de espaço nos porões.

Mas neste momento não é apenas o sector da carga aérea que enfrenta dificuldades. A congestão de portos e falta a nível global de motoristas afecta o transporte marítimo e rodoviário. Todos estes factores podem ser benéficos para o sector dos transportes pois vão provocar uma subida de preços, mas a falta de disponibilidade de oferta vai criar tensões, embora o impacto vá ser diferente em diferentes países.

Todos estes factores conflituosos e imprevisíveis, conjugados com a falta de capacidade e a enorme procura que é expectável na altura do Natal, vão afectar o sector da logística e supply chain. Neste momento trata-se mais de limitar estes efeitos do que tentar evitá-los.

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