Cadeias de abastecimento de alta tecnologia começam a estabilizar

O choque na cadeia de abastecimento de componentes eletrónicos, incluindo os semicondutores, foi abrupto e a disrupção causada teve grande impacto porque se seguiu a décadas de relativa estabilidade e previsibilidade dos prazos de entrega e preços das matérias-primas. Além disso, estratégias como o inventário just-in-time e a produção otimizada proporcionaram uma pressão persistente no sentido da baixa dos preços das matérias-primas e dos produtos acabados. No entanto, a pandemia virou de pernas para o ar este ecossistema bem estabelecido.

Após três anos de caos sem precedentes, a cadeia de abastecimento de produtos eletrónicos não só recuperou como está agora numa posição ainda mais forte do que antes. Uma miríade de fatores contribuiu para esta situação.

No início de 2020, à medida que o Ano Novo Lunar se aproximava do fim, a maioria dos fornecedores de componentes eletrónicos e contract manufacturers na Ásia não reabriu como estava previsto. Aqueles que reabriram fizeram-no com uma capacidade muito reduzida. Na Primavera de 2020, com muitas pessoas a operar a partir de casa (trabalho remoto, aprendizagem remota, cuidados de saúde remotos), a procura de dispositivos eletrónicos (computadores, dispositivos 4G e 5G) disparou. Mas a procura de microchips foi generalizada mesmo fora do sector da eletrónica e a disrupção causada pela pandemia afetou todos os sectores da economia.

A pressão sobre a oferta de componentes eletrónicos fez com que os prazos de entrega aumentassem para níveis sem precedentes devido a uma capacidade de produção muito reduzida e a uma maior procura. Por exemplo, os prazos de entrega dos semicondutores, que durante décadas variaram normalmente entre 12 e 16 semanas, aumentaram subitamente para 26, 30 e mesmo 52 semanas. Nalguns casos, os fornecedores tiraram partido das restrições de materiais e aumentaram ainda mais os preços. Verificou-se uma dinâmica semelhante em quase todos os produtos de base da eletrónica.

Após três anos difíceis, num ambiente de longos prazos de entrega e preços crescentes, chegámos finalmente a um momento em que a oferta da maioria dos materiais é abundante e a pressão é no sentido da descida dos preços. Os fornecedores do sector da eletrónica responderam aos desafios enfrentados durante a pandemia e, em muitos casos, excederam a rotação, produzindo em excesso assim que a matéria-prima voltou a ficar disponível. Este facto é evidenciado pelos recentes relatórios de resultados de empresas como a Samsung, a Micron e outros fornecedores de semicondutores, que apontam para níveis de existências elevados com resultados mais baixos.

Muitos compradores de grande volume de componentes eletrónicos, nos últimos meses dão conta que estão a experienciar prazos de entrega mais curtos do que os níveis anteriores à pandemia e a usufruir do fornecimento sem problemas por parte de vários vendedores e distribuidores, o que resultou numa pressão descendente sobre os preços devido ao aumento da concorrência. Mesmo muitos fornecedores de primeira linha, que estão a indicar prazos de entrega de 12 a 16 semanas, são frequentemente capazes de responder a pedidos urgentes e de efetuar entregas no prazo de 1 a 2 semanas.

 

Os custos de transporte estão a diminuir
Outra situação que tem contribuído para a melhoria da supply chain de componentes eletrónicos são os prazos de entrega por via aérea ou marítima da Ásia para a América do Norte ou para a Europa, que tinham duplicado durante o auge da pandemia, estão agora de volta aos níveis anteriores à pandemia. Os custos logísticos por via aérea da Ásia para os EUA, que tinham mais do que triplicado durante a pandemia, estão agora quase de volta aos níveis anteriores à pandemia.
Também os custos de transporte por via marítima, que mais do que quintuplicaram no auge da pandemia, são agora mais baixos do que antes da pandemia e tudo indica que está iminente uma guerra de preços.

 

A diversidade de fornecedores está a expandir-se para além da China
A guerra comercial entre os EUA e a China que se iniciou antes da pandemia – e acelerou à medida que a pandemia do Covid-19 se espalhava por todo o mundo, levou a que muitos fornecedores e contract manufacturers expandissem a sua presença fabril para além da China. As capacidades de produção em países como o Vietname e a Índia expandiram-se consideravelmente nos últimos anos, diversificando as possibilidades de abastecimento para além da China.

Esta situação foi facilitada pelo facto de nem sempre serem necessários semicondutores avançados. Se tivermos em conta por exemplo o sector automotive e neste caso vamos dividir o consumo de microchips com base na tecnologia mais utilizada neste sector, vemos que o sector automotive utiliza: 54% de microchips de tecnologia madura; 18.5% de microchips designados de mainstream; 17.5% de microchips de tecnologia avançada. Ou seja, a maioria dos semicondutores utilizados na indústria automóvel são de tecnologia antiga, 40 nanometros ou mais antiga ainda. Isto pode ser comprovado se virmos o consumo de semicondutores em vários sectores económicos, dividindo agora o seu consumo por valor. Segundo números da IDC a utilização de semicondutores, por valor (US dolars) divide-se da seguinte forma ao longo de vários sectores económicos: comunicações e infraestruturas – 36.3 mil milhões; automotive – 39.5 mil milhões; sector industrial – 41.6 mil milhões; bens de grande consumo – 60.1 mil milhões; wireless – 126.7 mil milhões; computação – 160.2 mil milhões.

Assim, e mesmo assumindo que pode haver interrupções ocasionais no fornecimento, essas interrupções podem resultar de uma série de causas, incluindo catástrofes naturais, aumentos súbitos da procura, problemas que afetam uma fábrica específica que produz peças personalizadas ou que são a única fonte, como é o caso da TSCM (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company). Embora o risco de ruturas pontuais nunca desapareça completamente, saímos da pandemia com uma cadeia de abastecimento global de produtos eletrónicos mais diversificada geograficamente, bem abastecida e mais competitiva do que em qualquer outro momento antes da pandemia.

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