Um relatório do programa mundial alimentar das Nações Unidas (WFP) concluiu que os mercados básicos de cereais estavam com stocks “bons” e, em regra geral, com preços baixos, mas o açambarcamento motivado pelo pânico pode levar os grandes importadores e Governos «a perderem a confiança no fluxo de produtos alimentares básicos».
As medidas relacionadas com o COVID-19, tais como bloqueios nas rotas de transporte e as restrições da quarentena podem colocar desafios à segurança alimentar. «Não se trata de uma questão da cadeia alimentar, mas de uma mudança comportamental relativamente à segurança alimentar. O que é que acontece se os compradores por grosso pensarem que não vão conseguir entregas de trigo ou arroz em Maio ou Junho? Isso pode levar a uma crise alimentar global», afirmou um analista de mercado na Organização da Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO).
O aumento súbito dos preços dos produtos alimentares pode ter efeitos “devastadores” e repercussões de longo prazo em países de baixos rendimentos, nomeadamente em países de África e no Médio Oriente, devido à sua dependência da exportação de commodities como, o combustível, minérios e metais.
O relatório cita a crise de preços em 2018, quando os preços globais dos alimentos atingiram um pico muito elevado o que levou a que as famílias mais pobres a nível mundial sofressem de forma desproporcional. «Estas tendem a gastar uma parcela grande do seu rendimento em alimentação, mas tipicamente não têm poupanças ou acesso a crédito. Assim, o aumento dos preços dos produtos alimentares tem levado, muitas vezes, a um aumento de pobreza», afirma o relatório.
O relatório acrescenta, que o Covid-19 poderá ter um impacto ao nível global da produção de bens alimentares. «Países em que se aproximam épocas agrícolas chave, como por exemplo no Corno de África, América Central e Caribe, África Ocidental e partes da Ásia, podem ser afectadas por uma redução na força de trabalho provocada pelas medidas de confinamento, ou redução do acesso e inputs na agricultura devido a disrupções na supply chain», diz o relatório.
A disrupção nas rotas de transporte é uma preocupação especial para os produtos frescos, pois pode dificultar a acesso dos agricultores aos mercados.