Vários sectores económicos no Reino Unido têm vindo a queixar-se de problemas (disrupção nos fornecimentos) cuja origem atribuem aos portos britânicos. As razões para esta situação prendem-se com as limitações impostas aos portos pela pandemia, que destruiu o equilíbrio nas supply chains marítimas, à retoma após a reabertura da economia britânica e a necessidade que muitas empresas sentem de constituir stocks de segurança por causa do Brexit.
Este aumento de procura resultou numa disputa por espaço nos porta contentores que servem linhas de hubs de manufactura de baixo custo como a China aos seus principais mercados na Europa e EUA. No Reino Unido muitas empresas queixam-se de grandes aumentos de custos (300%) no transporte marítimo.
A última “vítima” foi a fábrica da Honda em Swindon, no sudoeste de Inglaterra. A fábrica opera num sistema de just in time e just in sequence e está em risco de encerrar por causa de problemas no fornecimento atempado das peças necessárias. A empresa declarou que está a avaliar a situação e equacionar importar as peças por via aérea.
Mas a situação não se esgota na Honda. O sector da construção civil mostra-se descontente pois não conseguem as quantidades necessárias de matérias-primas, isto depois de os consumidores britânicos terem decidido aproveitar o confinamento para fazerem obras em casa. Neste momento falta um pouco de tudo: madeira que sofreu um aumento que varia entre os 20 % e os 40%, telhas, parafusos, sistemas de fixação, ferramentas eléctricas, mas também produtos de linha branca como máquinas de lavar e frigoríficos.
O problema é que muitos portos britânicos, apanhados nesta ”tempestade perfeita”, não estão a conseguir dar conta do recado. O maior porto para carga contentorizada, Felixstowe, responsável pela entrada de 40% de todos os contentores no Reino Unido, está assoberbado com um aumento de movimento de mais de 30%. Mas o problema já se estendeu aos portos de Suffolk, Southampton e London Gateway.
Estes atrasos estão a levar os navios de linhas regulares a não escalarem o porto de Felixstowe e outros (cut and run) pura e simplesmente, optando noutros casos por descarregar parte da carga e depois a descarregarem a restante em portos no continente Europeu como Rotterdam, Antwerpia e Zeebrugge. Como a situação está a complicar-se há armadores a equacionar deixarem de escalar Felixstowe até Fevereiro.
A pressão do Brexit também não tem ajudado. As estradas no Kent têm sido palco de enormes engarrafamentos, devido à combinação da constituição de stocks pelas empresas devido ao Brexit e à redução no número de ferries gerado pelas restrições do Covid-19.