AIRBUS: Uma cadeia de abastecimento com valor

Durante a 7.ª Edição do AED Days (evento anual da indústria aeroespacial portuguesa), que decorreu no passado dia 6 de Outubro, Cesar Sanchez Lopez, vice-presidente para a Europa do Sul e Israel da lembrou que a AIRBUS é o maior fabricante europeu e um dos líderes mundiais da indústria aeroespacial e da aviação (juntamente com a Boeing). Sendo reconhecida pelos aviões comerciais que produz e que equipam a TAP, tem ainda as Divisões de Defesa e Aeroespacial e a de Helicópteros.

Em 2019 facturou mais de 70.000 milhões de Euros e apesar de um EBIT sólido, decidiram retirar o dividendo de 2019, a fim de manter liquidez na empresa. Tem 134.934 funcionários (de 142 nacionalidades) em todo o mundo, principalmente na Europa (França, Alemanha, Espanha e Reino Unido), na América e Ásia (China) e conta com uma presença mundial em 180 locais (em 35 países). Da sua cadeia de abastecimento fazem parte mais de 12.000 fornecedores directos a nível global,e detém fábricas e linhas de montagem final de aeronaves na Ásia, Europa e América.

Cerca de 70% das vendas da AIRBUS são internacionais e fora dos países de origem. «Há uma tendência crescente nos últimos anos, com um aumento de entregas e com pedidos em carteira de mais de 7.000 aeronaves comerciais, o que garante a produção por muitos anos».

A aviação é um motor da economia global. Em 2019 houve mais de 3,6 mil milhões de passageiros a nível global. Quase 63 milhões de empregos em todo o mundo dependem do sector e a contribuição para o PIB global é de 2,7 biliões de dólares (escala longa, Europeia).

«No longo prazo a indústria está sólida, não só por causa dos pedidos em carteira referidos, mas porque nos últimos 15 anos, a aviação teve um crescimento médio anual do tráfego de passageiros de 4,4%. Claro que o COVID-19 mudou tudo, mas devemos considerar que em 50 anos, a aviação tem sido muito resiliente às crises. Se considerarmos alguns exemplos como a Crise do Petróleo, a Crise do Golfo, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), o 11 de Setembro ou a Crise Financeira em 2008, a aviação manteve sempre uma tendência clara de crescimento», disse o responsável.

«Esta crise irá além de 2021 e não sabemos quando regressaremos ao nível de tráfego de 2019, mas a nossa suposição é que não será antes de 2023 e no pior cenário 2025.
Os dados oficiais da IATA dizem que devido ao COVID, o número de passageiros diminuiu 80%, em relação ao ano passado e a capacidade do sistema da infra-estrutura de aeronaves, foi reduzida em cerca de 70%, o que é uma crise muito, muito séria. Estamos longe dos níveis de 2019 e esperamos um longo período de retracção no tráfego internacional, por isso, cortámos 40% da produção em relação ao ano passado.»

Nem tudo são más notícias e em Outubro de 2020 já se experimenta alguma recuperação em alguns mercados domésticos. É o caso da China, por exemplo, onde o tráfego doméstico está quase ao nível pré-crise. No entanto, as viagens internacionais permanecerão em baixa por um período mais longo.

 

Foco em Portugal

Apesar de não ser um país de origem, Portugal é um parceiro importante, não só porque é um país da União Europeia, mas porque a indústria portuguesa e o sector têm muitos parâmetros e indicadores, que são muito positivos.

Em termos de clientes, a Força Aérea opera 12 C-295. Foi implementado, há alguns anos, o Coastal Vessel Traffic Management System (CVTS) e também o Terra-SAR Imagery em Portugal. Na área dos helicópteros há uma relação com a Força Aérea Portuguesa e também com operadores privados. «A AIRBUS é o parceiro de referência para a aviação comercial em Portugal. A TAP é uma companhia aérea quase 100% AIRBUS, mas também há uma presença e parcerias significativas na Hifly, Sata, Omni Aviation”.

Na indústria, cerca de 10 grandes empresas portuguesas estão integradas na cadeia de abastecimento global da companhia (e.g. OGMA, Caetano Aeronautic, VITROHM, LAUAK, AUNDE, KEMET).

A cooperação irá ser muito importante depois do período do COVID. Cerca de 50% dos fornecedores portugueses de aeronáutica e defesa, já estão na cadeia de valor da AIRBUS, que desenvolveu uma cadeia de abastecimento activa em Portugal. «Em 2019 tínhamos um volume de 66 milhões de euros, mas o aumento nos últimos anos ascendeu a quase 200 milhões de euros entre 2013 e 2018. A companhia suporta mais de 1.000 empregos portugueses e está a crescer rapidamente, pois estamos a fazer alguns investimentos importantes», por exemplo, a nova fábrica da STELIA em Santo Tirso, que foi anunciada no ano passado, «onde pretendemos ter um investimento muito sério no país».

A STELIA é uma subsidiária 100% detida pela AIRBUS. No ano passado, em parceria com o Governo de Portugal, implementou parte de uma estratégia, fora de França, através da instalação de uma nova fábrica de montagem em Santo Tirso. «Este é considerado o maior investimento na indústria aeroespacial em Portugal desde 2008, não só pelo volume, mas também pela qualidade do trabalho a realizar em Santo Tirso». A nova entidade que foi criada no ano passado, será significativa no plano industrial da STELIA para a globalização. «Estamos muito confiantes de que irá melhorar a cooperação com os parceiros portugueses», adiantou Cesar Sanchez Lopez.

«A AIRBUS tem vindo a cooperar e a apoiar as empresas e indústrias portuguesas do ‘cluster’ aeronáutico, em muitos projectos europeus na área da inovação da União Europeia (PASSARO, Horizon 2020 SATIE) e está disponível para continuar a contribuir para o desenvolvimento do ecossistema português através de parcerias com as empresas, universidades e instituições portuguesas», assegurou o responsável, garantindo que a AIRBUS está «a identificar novas áreas de cooperação em Portugal».

Na semana passada ficou a saber-se que a TAP chegou a acordo com a Airbus para adiar, até 2027, a entrega de 15 aviões, que estava inicialmente prevista até 2025, o que lhe permitirá poupar cerca de 856 milhões de euros de investimento entre 2020 e 2022. A informação foi avançada pela Lusa que refere que: “Foi renegociada com a AIRBUS o diferimento das datas de entrega de 13 aeronaves A320neo de 2012-2022 para 2025-2027 e do diferimento da data de entrega dos [dois] A330neo de 2022 para 2024».

A transportadora aérea portuguesa justificou esta medida com a necessidade de controlar e reduzir custos, que inclui a suspensão ou adiamento de investimentos não críticos e a renegociação de contratos, face aos efeitos da pandemia de covid-19 na sua actividade.

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