O mercado imobiliário português sofreu com o impacto do Covid-19, resultando em quebras do número de transacções e do volume de investimento em vários sectores da área. Esta análise é apresentada pela Savills, consultora imobiliária internacional, que realiza um balanço da realidade portuguesa nos primeiros meses do ano, procurando também prever algumas tendências do mercado para os últimos meses de 2020.
Segundo a consultora, no mercado português de investimento, o 1º semestre de 2020 somou um total aproximado de 1.7 mil milhões de euros, sendo que 94% desse valor dizem respeito a transacções fechadas ao longo do 1º trimestre.
«Só no 1º trimestre foi registado um montante de investimento total excepcional de aproximadamente 1.5 mil milhões de euros, perto de metade do montante total do volume de investimento registado nos anos de 2018 e 2019, através do fecho de grandes transacções nos segmentos de retalho, escritórios e hotéis. Comparativamente ao 1º trimestre de 2020, o mercado registou uma quebra muito acentuada de 87% e face ao período homólogo de 2019 a descida cifrou-se nos 16%», diz a Savills.
Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal, explica que: «A pandemia do Covid-19 teve um impacto significativo no mercado imobiliário, sendo que os sectores de retalho e hotelaria foram claramente os mais afectados». Apesar da incerteza quanto a uma potencial segunda vaga, o responsável refere que «há uma dinâmica importante a nível dos activos de promoção que sublinham a confiança dos investidores com o médio/longo prazo».
O sector do retalho foi o sector mais afectado devido à pandemia Covid-19. As actividades comerciais viram-se obrigadas a fechar as portas no mês de Março, estando apenas disponíveis ao público os supermercados e hipermercados, e alguns serviços de primeira necessidade, como farmácias e postos de combustível, entre outras. «A oferta e a procura foram substancialmente afectadas pela crise actual causando uma descida significativa nos preços», comenta a consultora.
No entanto, a fase de confinamento levou a um aumento das vendas no comércio online, denotando uma maior apetência pela digitalização do processo de consumo e uma maior preocupação por parte dos consumidores na questão dos preços, qualidade dos produtos e valorização de marcas e produtos nacionais.
«O aumento do consumo de produtos pela via digital veio a testar a capacidade de adaptação e resposta das empresas e operadores logísticos a esta nova realidade, obrigando retalhistas e fabricantes a fazer ajustamentos ao negócio ao nível de cadeias de distribuição, preços, produto, reforço e preparação de equipas no atendimento telefónico, condições de segurança nas entregas e devoluções, etc… Esta capacidade de adaptação será fundamental para a recuperação do sector,” explica Cristina Cristóvão, Retail Director da Savills Portugal.
Segundo a Savills, o impacto crescente do comércio online poderá conduzir a uma redução das áreas de lojas físicas e consequentemente levar a um aumento da procura por áreas maiores de armazenamento, mais próximas possíveis do centro das cidades.
Ainda que o cenário actual tenha incitado a uma diminuição na actividade na generalidade dos sectores económicos, o segmento industrial e logístico tem demonstrado uma forte resistência, suscitando cada vez mais interesse nos investidores.
Em Janeiro, Fevereiro e Março, este segmento imobiliário contabilizou um volume de absorção total de 139.519 m2, dos quais 81% correspondem a renovações de contratos e 16% a novos contratos. O eixo logístico da Azambuja foi a zona de mercado com «melhor prestação», tendo recebido duas das maiores transacções do semestre com um total de 71.447 m2 conduzidas por operadores de distribuição de alimentar.