É provável que em Abril se atinja um record de excesso de produção de petróleo à medida que o Covid-19 reduz a procura e os grandes produtores aumentam a produção. Estão assim criadas as condições para uma possível situação caótica que pode colocar em sobrecarga a capacidade global de armazenamento, forçando a possíveis encerramentos generalizados da indústria.
O petróleo já está a ser armazenado a um ritmo elevado, tanto em terra como em mar, uma vez que os países têm vindo a limitar as compras como consequência da paragem das economias. Os níveis de armazenamento já estavam a subir ainda antes dos aumentos de produção de países como a Arábia Saudita, Rússia e outros produtores envolvidos numa guerra de preços para ganharem quota de mercado.
A quebra na procura de petróleo não estava tão baixa desde a crise económica de 2008. Há vários índices de preços para o petróleo. Os três mais importantes são o West Texas Intermediate (WTI), Brent Blend e Dubai Crude. Outros índices importantes são o OPEC Reference Basket, utilizado pela OPEC, Tapis Crude, transaccionado na bolsa de Singapura, o Bonny Light, utilizado pela Nigéria e o Urals Oil, utilizado pela Rússia. O índice norte-americano atingiu o ponto mais baixo desde 2002, tendo baixado mais de 60% desde o começo do ano. Por sua vez os preços do Brent desceram quase 45% em Março.
À medida que a capacidade de armazenamento se aproxima do limite é possível que os preços desçam aos 10 dólares por barril, o que aconteceu pela última vez na crise de 2008, antes das empresas e dos países produtores terem feito cortes na produção.
Algum petróleo Canadiano já está a ser transaccionado próximo dos 10 dólares, por estar a sofrer descontos acentuados para se manter competitivo face ao índice WTI.
Ainda segundo a Reuters, a IHS Markit empresa que realiza análises destes mercados, estima que o excesso de oferta a nível global se situa entre os quatro milhões de barris por dia (bpd) e os 10 milhões de bpd, o que equivale a 4 a 10% da procura mundial.
EUA e a Índia a aproveitarem para aumentar os stocks
A BofA Global Research, questionada sobre a existência ou não de capacidade para armazenar todo este petróleo respondeu que estima que neste momento «ainda há uma capacidade de armazenamento de 900 milhões de barris».
Por sua vez, a Goldman Sachs estima que ainda há 1000 milhões de barris de capacidade de armazenamento e não espera que haja falta de capacidade de armazenamento. «Provavelmente, haverá uma quebra de capacidade logística, ou seja navios, pipelines, terminais e unidades de processamento».
Perante a falta de acordo entre a OPEC e a Rússia, a líder de facto da OPEC, a Arábia Saudita decidiu aumentar a produção para um recorde de 12.3 milhões bpd e aumentar as exportações para 10 milhões bpd a partir de Maio.
Alguns países estão a tirar partido desta situação, com os EUA e a Índia a aproveitarem para aumentar os stocks. O Presidente dos EUA, Donald Trump, já prometeu aumentar os stocks da reserva estratégica até ao máximo, sendo que esta ainda consegue absorver mais 77 milhões de barris, o que vai demorar algumas semanas a fazer.
Neste momento a nível global, e em terra, estima-se que haja 3.3 mil milhões de barris armazenados, próximo do máximo de 3.4 mil milhões que foi atingido no início de 2017, isto segundo dados da Kpler Data. Havendo ainda 91 milhões de barris em armazenagem flutuante – navios no mar – o que não está longe do pico que foi atingido em 2009.
Este excedente vai aumentar se os produtores continuarem com a guerra. A realidade é que esta poderá mesmo ser intensificada quando outros países da OPEC tentarem aumentar as exportações, à medida que os seus orçamentos fiscais começarem a ser pressionados pela queda dos preços.
A agência Internacional de Energia em Março estimou que a procura de petróleo se situaria em menos 1 milhão de bdp do que a sua previsão inicial para 2020. Isto assinala uma quebra na procura pela primeira vez desde 2009. Segundo esta mesma agência, só no primeiro trimestre de 2020, a pandemia reduziu a procura em 2.5 milhões de bpd.