A covid-19 provocou uma “onda de choque” global em toda a cadeia da indústria farmacêutica, com impactos significativos na disponibilização de medicamentos para doenças não transmissíveis, segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), avançado pela Lusa.
“A pandemia de covid-19 foi o primeiro evento global a enviar uma onda de choque a todas as partes da cadeia da indústria farmacêutica quase simultaneamente”, refere o documento hoje divulgado sobre o acesso a medicamentos para várias doenças como as cardíacas, respiratórias crónicas, cancro e diabetes.
Segundo a OMS, a escassez e os atrasos no fornecimento de matérias-primas, os confinamentos e as quarentenas, que provocaram constrangimentos na mão-de-obra disponível, assim como os atrasos nas inspeções para aprovação regulatória ou comercialização, foram alguns dos fatores que influenciaram as interrupções na fabricação destes medicamentos.
A covid-19 “exacerbou as desigualdades pré-existentes no tratamento de doenças não transmissíveis”, adianta o relatório, que refere também que “poucos distribuidores ou fabricantes anteciparam a dimensão das perturbações” provocadas no transporte e nas proibições de exportação ditadas pela pandemia.
“A escala das proibições de exportação não é sistematicamente comunicada, mas a Organização Mundial do Comércio (OMC) estimou que, em abril de 2020, 20 países e territórios aduaneiros tinham introduzido restrições à exportação de medicamentos”, indica o relatório.
A OMS sublinha ainda que a “forte contração da capacidade de transporte marítimo mundial” durante a fase inicial da pandemia levou a um aumento dos custos dos fretes de entre duas e seis vezes, em relação aos anos anteriores.
Além disso, o volume, a disponibilidade e a previsibilidade das rotas aéreas de carga “foram gravemente perturbadas, sendo as rotas dependentes dos voos de ligação e as rotas com margens de lucro mais baixas para as transportadoras particularmente afetadas”, adiantou a organização.
De acordo com o documento, os países já desfavorecidos nos mercados globais de medicamentos, incluindo os de baixo rendimento e com menos recursos e os países sem litoral dependentes de carga aérea, foram os mais afetados ao nível do fornecimento de medicamentos.
“À medida que o mundo recupera dos efeitos da pandemia de covid-19, há necessidade de refletir sobre sucessos e fracassos na cadeia de fornecimento global de medicamentos para doenças não transmissíveis”, alerta o documento da OMS.
Segundo a organização, a existência de dados sólidos e sistematicamente recolhidos sobre os mercados de medicamentos é, assim, “essencial para a criação de sistemas de alerta precoce e de atenuação da escassez”.
A OMS lembra ainda que, mesmo antes da pandemia, já existiam “preocupações globais crescentes sobre a escassez de medicamentos” para uma série de áreas terapêuticas, incluindo oncologia, antibióticos e vacinas.