O iPhone 14 é o modelo do iPhone que a Apple irá introduzir no Outono de 2022. O parceiro principal da Apple, a Foxconn tem linhas de produção do iPhone noutros lugares do mundo para lá da China, como o Brasil e a Índia. Mas a sua operação na China continua a ser a mais importante no que toca ao fornecimento de iPhones a nível mundial.
Desta vez, porém, parece que a Apple vai começar a produção do iPhone 14 na Índia e na China, simultaneamente. A ser verdade, esta será a primeira vez que a produção de uma nova geração do iPhone começará em simultâneo na China e noutro país.
Estas informações têm por base declarações do analista Ming-Chi Kuo do TF International Securities Group, que prevê que a Apple expedirá o próximo iPhone de ambos os países, aproximadamente ao mesmo tempo, o que seria uma vitória significativa nos esforços da Apple para diversificar a sua supply chain e acrescentar a esta alguma redundância.
Como Ming-Chi Kuo salienta, em situação normal, a produção de um novo iPhone fora da China leva normalmente alguns meses a começar. Por exemplo, a Foxconn começou a montar o iPhone 13 na Índia em abril deste ano, enquanto a produção no Brasil só começou algumas semanas mais tarde.
Geopolítica interfere na supply chain
O analista sublinha que a decisão da Apple de acelerar a produção do iPhone 14 na Índia deve-se ao impacto geopolítico na supply chain da empresa. Segundo o que foi divulgado pela Reuters, citando o site de informações Nikkei Asia, a Apple, no início de agosto, pediu aos fornecedores que garantissem que as remessas de Taiwan para a China obedecessem aos regulamentos alfandegários chineses para evitar que estas fossem paradas para verificação.
O receio deve-se às tensões comerciais sino-americanas que aumentaram na sequência da visita da Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, e de uma delegação do Congresso a Taiwan.
A Apple disse aos fornecedores que a China tinha começado a aplicar uma regra antiga, segundo a qual as peças e componentes fabricados em Taiwan devem ser rotuladas como feitas em “Taiwan, China” ou “Chinese Taipei”.
Até agora, a regra tem sido pouco cumprida, mas isso mudou, com a China a insistir no cumprimento rigoroso da mesma. Neste momento existem informações contraditórias sobre se os atrasos nas expedições estão a afetar tanto as importações como as exportações de e para a China, ou apenas os movimentos de peças entre Taiwan e a China.
Aquando da visita a Taiwan, Nancy Pelosi encontrou-se com o fabricante de chips da Apple, a TSMC, e também com quem monta o iPhone, a Pegatron. Fontes próximas destes temas presumem que a reunião de Pelosi com a TSMC está provavelmente relacionada com o CHIPS Act, e as implicações destes para a fábrica que a TSMC está a construir no Arizona. A empresa de Taiwan estaria preocupada com os rumores de que a Intel poderia ficar com grande parte dos subsídios a ser atribuído pelo governo dos EUA.
Supply chain com problemas
Ao mesmo tempo, as linhas de produção do iPhone 14 também têm enfrentado atrasos devido à escassez de componentes. A China, fonte de muitos componentes do iPhone, tem passado por sucessivas ondas de confinamentos, complicando o processo de envio de componentes dentro do país, mas também devido a algumas questões menores de qualidade. Ao aumentar a produção do iPhone na Índia e potencialmente também no Brasil, a Apple poderá ser capaz de reduzir lentamente a sua dependência da China – embora isto seja bastante difícil de conseguir.
Segundo a Bloomberg, embora a Apple tivesse realmente esperado que tal fosse possível, decidiu que não é viável. Em vez disso, o seu objetivo é reduzir o atraso entre o lançamento da produção na China e a posterior produção na Índia.
Adequar o ritmo de produção do iPhone ao da China seria um marco importante para a Índia, que tem vindo a tentar afirmar a sua atratividade como uma alternativa numa altura em que a imposição de confinamentos por causa do Covid e as sanções dos EUA põem em risco a posição da China como “fábrica para o mundo”. Mas a montagem de iPhones implica frequentemente a coordenação entre centenas de fornecedores e o cumprimento dos prazos e controlos de qualidade extremamente apertados da Apple.
Os parceiros da Apple, a Foxcom e Wistron, começaram a produzir iPhones na Índia em 2017, o início de um esforço de anos para criar capacidades de fabrico no país. Além de oferecer apoio às operações existentes, a India, um país de 1,4 mil milhões de pessoas é um mercado consumidor promissor e o governo Modi ofereceu incentivos financeiros para a produção de tecnologia no âmbito do seu programa Made in Índia.
Isto representaria ainda uma aceleração substancial face passado, mas um início simultâneo foi considerado demasiado ambicioso por duas razões. Primeiro, existe uma enorme rede de apoio à supply chain na China, que não existe na Índia. Em segundo lugar, a Apple receia que haja um maior risco de segurança na Índia. Até agora, os drásticos controlos de segurança e o isolamento rigoroso das suas instalações na China seriam um desafio para replicar na Índia, disse uma fonte.
A Apple também tem estado preocupada com os funcionários aduaneiros indianos, que normalmente abrem as embalagens para verificar se os materiais importados correspondem ao que está declarado, o que constitui outra potencial vulnerabilidade para o sigilo que a empresa gosta de manter.
Este artigo foi publicado na edição nº 185 da revista Logística Moderna