KPMG: Perspectivas para a indústria a seguir ao Covid-19

A 19.º edição do estudo da KPMG, “Global Manufacturing Outlook 2020: COVID-19 Special Edition”, inquiriu 300 gestores de topo do sector industrial para perceber o que mudou e vai mudar no Pós-Covid-19. A resiliência tornou-se uma competência básica na nova realidade. No emergir da pandemia, para se continuar a ter sucesso é necessário ser capaz de responder rapidamente a um ambiente incerto e em constante mudança. As perspectivas do estudo sugerem que o mundo vai ter de ser re-imaginado no pós-pandemia.

A economia e o local de trabalho vão ser diferentes do que eram anteriormente e as empresas estão a ouvir os seus clientes, fornecedores e forças de trabalho à medida que avançam. Deste estudo emergiram algumas questões como reduzir o risco e reequilibrar as supply chains; a tecnologia e inovação; o talento e uma nova realidade laboral.

Sendo a mais séria ameaça à saúde publica global dos últimos 100 anos, a Covid-19 mudou e afectou muitas vidas, bem como muitas empresas industriais globais, de uma forma que “provavelmente se vai repercutir no futuro,” afirma a KPMG.

Entre as principais conclusões do estudo, está o facto que os gestores responsáveis por empresas industriais globais estão a tentar tão depressa quanto possível tornarem-se mais resilientes adaptando-se a alterações drásticas nas cadeias de valor.
“Agilidade quando confrontados com adversidades extremas, muitas vezes leva a oportunidades,” acrescenta a KPMG. Nesse sentido os CEOs estão constantemente em busca de vantagens competitivas, aumentando a procura de soluções quando confrontados com disrupções generalizadas súbitas.

Os CEOs tiveram de se adaptar rapidamente aos desafios da Covid-19 para proteger os seus colaboradores, aprofundarem as relações com fornecedores e clientes e redefinir em que consiste o sucesso. É expectável que o sector industrial continue a mudar depois da pandemia ter terminado.

“Os fabricantes estão a ser testados como nunca. As empresas que tenham um melhor desempenho nesta fase de grande adversidade, serão provavelmente as que serão mais ágeis a lidar com várias situações: novas maneiras de trabalhar, digitalização acelerada, cadeias de abastecimento mais fortes, fusões e aquisições e a desinvestir em áreas de negócio não essenciais” afirmou Stéphane Souchet, Global Head de Industrial Manufacturing na KPMG International.

 

Supply chains flexíveis
Dos resultados do estudo, a KPMG detectou que “o maior risco ao crescimento dos fabricantes nos próximos três anos, para lá da pandemia, é o risco colocado pela supply chain.” Em resposta à mudança no risco, 66% dos CEOs afirmaram que tiveram de repensar a sua abordagem à supply chain para se tornarem mais ágeis, trazer a produção para mais perto de casa e tornar as suas supply chains mais robustas.

A Covid-19 também alterou a perspectiva que a indústria tinha dos seus fornecedores. Antes alguns fabricantes sabiam muito pouco da localização dos seus fornecedores para lá dos de primeira linha (Tier 1). Hoje as empresas estão a considerar diversificarem o seu sourcing e também em recorrer a fornecedores mais próximos de casa.

“Apesar do risco de capitalismo nacionalista no curto prazo, é pouco provável que esta tendência leve a um resultado longo prazo de ‘compre onde produz’ na supply chain” afirma a KPMG.

“As empresas vão continuar a monitorizar os custos de forma apertada, vão por isso depender de fornecedores que sejam competitivos a nível dos custos. Mas a redução do risco vai tornar-se um factor importante, resultando num reequilibrar da supply chain para criar uma estrutura que leve em consideração fornecedores alternativos e a simplificação de canais,” acrescentou Grant McDonald, Global Sector Leader, Aerospace & Defense, na KPMG International.

Para aumentar a visibilidade e a responsabilização na cadeia de abastecimento, os fabricantes estão a usar ferramentas tecnológicas avançadas como a blockchain e a analítica.

 

Transformação digital
A indústria não só está a utilizar a tecnologia para tornar as suas supply chains mais flexíveis, mas também estão a investir para fazer avançar a quarta revolução industrial (Industry 4.0). 96% dos CEOs no sector industrial declararam que os seus esforços para digitalizar as suas operações acelerou a seguir à pandemia.

“Uma das mensagens do estudo é que para se manterem competitivas, muitas empresas tiveram de acelerar a sua transformação digital, movendo-se mais rapidamente. Aqueles que não o fizeram têm de recuperar terreno rapidamente ou correm o risco de ser deixados para trás,” afirmou Grant McDonald.

O estudo identifica especificamente as redes wireless 5G, que vão permitir melhorar: a velocidade na transmissão de dados, latência, eficiência, confiabilidade, capacidade e segurança. A tecnologia vai poder suportar uma grande panóplia de soluções incluindo o IoT, IA, operações autónomas, realidade virtual e drones. Outra tecnologia emergente é a impressão 3D, mais especificamente no sector aeroespacial, mas também na realização de protótipos e produção em baixa escala.

 

Novas maneiras de trabalhar
“O foco na digitalização está claramente reflectido nas escolhas estratégicas dos CEOs”, diz a KPMG. 72% dos CEOs na indústria estão a priorizar os investimentos em nova tecnologia e 28% estão a dar prioridade ao investimento nas competências dos colaboradores.

Para a indústria, o risco na captação de talento é uma das principais ameaças ao crescimento nos próximos três anos, com o trabalho à distância a tornar mais difícil lidar com o risco no que toca a atrair talento (que muitas vezes não está disponível).

“É difícil avaliar candidatos através de vídeos online e formar pessoas de forma remota. Para a maioria dos fabricantes, há limites quanto à possibilidade de se trabalhar remotamente a partir de casa, porque um operário fabril necessita de estar na linha de produção na fábrica e as equipas de investigação e desenvolvimento necessitam de ter acesso aos equipamentos e laboratórios para desenvolver novos produtos. Por outro lado, é difícil instilar nestes os valores da empresa,” comentou a KPMG.
86% dos CEOs comentaram que o trabalho à distância levou a alterações significativas nas políticas da empresa.

 

O futuro
A Covid-19 têm levado os CEOs da indústria a reavaliarem os riscos que afectam a gestão das suas forças de trabalho, a supply chain, os clientes e a estratégia operacional. Eventos como esta pandemia tendem a abrir as mentes dos gestores e a levá-los a considerarem novas abordagens aos problemas da empresa.
“A covid-19 não é a única ameaça que os fabricantes enfrentam em relação à sua posição no mercado. Na realidade, foi algo que os forçou a considerar que as ameaças estão interconectadas e os levou a adoptar uma estratégia mais ampla para melhorar as suas vantagens competitivas. Isto engloba a supply chain, as operações, finanças e os stakeholders. A tecnologia é apenas uma ferramenta, apesar de ser uma muito importante, para fortalecer a resiliência. Ao adoptarem uma abordagem ágil e flexível estarão mais preparados para futuras disrupções. As implicações são claras. Uma organização mais forte, mais bem preparada e mais resiliente tem mais probabilidades de florescer, assim que a pandemia passar,” concluiu Stéphane Souchet.

 

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