Para 2023 o segmento indústria e logística pode beneficiar das estratégias de relocalização dos hubs de produção e distribuição das empresas para mais perto do consumidor europeu. A conclusão é da consultora imobiliária JLL que alerta para o facto de ser “um mercado que continua marcado pela falta de oferta, com pressão sobre as rendas e emergência de zonas secundárias”. Da parte dos ocupantes, há um maior foco nos custos operacionais, “o que deverá aumentar a procura por ativos novos mais sustentáveis ou por ativos existentes requalificados”.
No ano passado, o volume de absorção estimado foi de 450.000 m2, decrescendo 25% face a 2021 “em reflexo da escassez de oferta e dos constrangimentos no lançamento de novos produtos”. Segundo a JLL, “a procura insatisfeita pretende maioritariamente áreas entre os 3.000 e os 5.000 m2”. Verificou-se uma maior pressão da procura em zonas mais próximas dos consumidores, devido à maior penetração do comércio online. A análise refere ainda que “a saturação das áreas mais consolidadas e a relocalização dos consumidores para a periferia têm feito emergir destinos como a Margem Sul do Tejo e em particular Montijo e Alcochete”.
De referir a entrada de novos players, incluindo internacionais como a Montepino e Panatonni. As rendas registaram um crescimento devido “ao desequilíbrio entre procura e oferta” – (Renda prime (Alverca-Azambuja) é de 4,25€/m2).
As profundas alterações macroeconómicas e geopolíticas não travaram o mercado imobiliário português, que deverá terminar 2022 com mais de €34.000 milhões transacionados, de acordo com as estimativas da JLL. Este montante não só apresenta um crescimento na ordem dos 14% face aos 30.000 milhões de euros de imóveis vendidos em 2021, como estabelece um novo teto de mercado. As transações incluem imobiliário residencial e comercial, adquirido quer por particulares quer por empresas e institucionais.
Pedro Lancastre, CEO da JLL Portugal, explica que “iniciámos 2022 a pensar que seria um ano marcado pela recuperação pós-covid, mas o panorama mudou com um clima de guerra na Europa, inflação em níveis que não são vistos há 30 anos e taxas de juro a aumentar depois de anos negativas. Estas novas realidades têm, obviamente, impactos, incluindo a redução do poder de compra das famílias e das empresas e aumento dos custos de financiamento. Mas o facto é que o imobiliário português volta a ter um desempenho surpreendente numa conjuntura adversa. Destaco a absorção de habitação e de escritórios, mas também um ano recorde com volume de transações tanto a nível residencial como no imobiliário comercial”.
Para o responsável da JLL, “este desempenho foi possível porque, por um lado, Portugal está no centro do radar para os investidores (privados e institucionais), e por outro, porque o mercado imobiliário português sofre de escassez estrutural de oferta. No entanto, a adversidade macroeconómica e a incerteza geopolítica começam já a afetar a dinâmica do mercado imobiliário, notando-se nos últimos meses do ano, que tradicionalmente são mais fortes, sinais de algum abrandamento”.