Não há dúvida que a atual conjuntura internacional altamente desfavorável e que acumula dois conflitos de grande dimensão e com grande impacto na economia europeia, exige grande preocupação até porque algumas empresas começam já a sentir abrandamento na procura, e a subida das taxas de juro para controlar a inflação não ajuda. Aliás, a comparação homóloga da performance da indústria transformadora deve fazer-nos tirar conclusões e provocar uma resposta atempada e proativa. Além disso, a crise na Alemanha, um dos nossos principais mercados de exportação, terá seguramente consequências negativas nas nossas empresas.
A continuidade dos cenários de guerra na Ucrânia e em Gaza poderá acentuar problemas nas cadeias de abastecimento, e a realidade será agravada pela atual crise política nacional, acentuando a tónica na preocupação relativamente à evolução socioeconómica do país.
Por esse motivo, acredito que em 2024 o grande desafio (e potencialmente o grande constrangimento, dependendo da solução que vier a ser encontrada) será sem dúvida o rumo que tomará a resolução da crise política nacional, numa altura em que o contexto socioeconómico está marcado por uma desaceleração do crescimento, inflação, diminuição do rendimento disponível das famílias e aumento da pobreza. É fundamental chegar-se a um equilíbrio de governação capaz de evitar a continuidade de políticas erráticas que comprometem em muito a competitividade da economia nacional.
Quanto às empresas do METAL PORTUGAL, continuam as mesmas a resistir e, apesar de um segundo semestre mais complicado, tendo em conta o desempenho altamente positivo nos primeiros sete meses do ano, acreditamos que em 2023 o setor irá alcançar um novo recorde nas exportações batendo a barreira dos 24 mil milhões de euros. Ainda assim, apesar de sabermos que as empresas já se habituaram a ter de viver e crescer independentemente dos governos, sabemos que o ano de 2024 vai ser especialmente desafiante.
No entanto, não podemos esquecer que juntamente com a gestão da conjuntura externa e da crise política nacional, acentua-se a exigência da dupla transição. Nomeadamente, no que se refere à descarbonização, os desafios são diversos e significativos, desde a escala da transformação económica que uma transição “net-zero” implica à dificuldade de equilibrar os riscos substanciais a curto prazo de uma ação mal preparada ou descoordenada com os riscos a longo prazo de uma ação insuficiente ou atrasada.
Não há dúvida de que a exigência é grande e, hoje, não restam dúvidas de que o setor metalúrgico e metalomecânico tem um grande contributo potencial em matéria de sustentabilidade e descarbonização, quer a nível nacional, quer a nível europeu, até porque a sua tipologia de investimentos tem um perfil de retorno muito positivo no que à descarbonização se refere.
Com efeito, os dados disponíveis indicam que em 2021 o grau de transformação das empresas do METAL PORTUGAL foi superior ao da média da Indústria Transformadora e da EU. Entre 2014 e 2020 o METAL PORTUGAL reduziu 1,4% as emissões poluentes, e no contexto europeu, o METAL PORTUGAL tem muito bom posicionamento, não pertencendo ao TOP 10 de países com maiores emissões nesse setor, e estando já a adotar modelos de negócio adaptados à nova realidade.
Na verdade, o setor metalúrgico e metalomecânico em Portugal apresenta grande oportunidade de redução dos GEE e intensidade de emissões poluentes, estando bem posicionado face à média da UE. O setor engloba as empresas mais agressivas no combate à poluição e mais dinâmicas na apresentação de novas soluções integradas para a preservação do meio ambiente, oferecendo ao mercado, mais do que produtos ou soluções para necessidades dos seres humanos, novas formas de estar no planeta (como por exemplo a potencial revolução resultante das viaturas elétricas).
É um setor que aposta na reutilização e na reciclagem, até porque a sua principal matéria-prima, o metal, é eterno, oferecendo um potencial de reutilização e de aproveitamento de estratégias de ecodesign, sem igual. O investimento em ecodesign é há muito uma realidade e permite aumentar substancialmente a vida útil dos produtos e equipamentos produzidos.
Além disso, é neste setor que nascem as tecnologias de produção, que absorvem hoje uma importante fatia do investimento do setor, tornando-se cada vez menos poluentes e energeticamente mais eficientes. Esta importante externalidade positiva, é depois exportada para todos os outros setores, levando a um efeito de arrastamento muito virtuoso para toda a economia.
As evidências são muitas e assertivas: no processo de transformação “Net Zero”, o METAL PORTUGAL é um excelente exemplo de que a Indústria é a solução e um veículo privilegiado para a disseminação da descarbonização.
Mafalda Gramaxo
Diretora-Geral da AIMMAP