Ó AMIGOS, QUE ANO DE PERIGOS

Este ano foi mesmo para esquecer, ou não?

Este ano foi mesmo para esquecer, ou sim?

Depende sempre do ponto de vista e da perspetiva de cada um de nós. Entre a subida escandalosa dos preços e a descida indecorosa da qualidade dos serviços prestados, muitos de nós se interrogaram – procuro outro caminho? – ou espero por 2022? Mas o que é que 2022 me vai trazer?

Procurar outros rumos é desistir e não está no ADN dos Transitários, não é solução para nós. Pois nós habituamo-nos foi a abrir novos caminhos e a procurar mundos. Fazemos parte de um povo de paixões, com muita alma e temperamentos, mais ou menos doces, mais ou menos complicados, já fizemos revoluções com “flores”, mas sempre muito arrebatadores em todos os projectos que concebemos, com igual generosidade e muita nobreza.

Até somos obstinados com nossa disponibilidade para “desenrascar” e até para alguma desordem, pois admitimos ver as coisas com alguma criatividade e até vê-las sob outros prismas.

Mas hoje nem nós conseguimos percecionar como se vai ordenar todo este caos logístico em que vivemos, nem tão pouco antevemos, se agora temos o CAOS para depois termos a ORDEM logística.

Todos, de forma unânime sabemos, comentamos e referimos que isto não aguenta muito mais tempo, mas o facto é que já anda assim há quase dois anos, com ataques de todos os lados, com taxas e taxinhas a surgirem diariamente e, sempre a adicionar a uma conta que pende só para um dos lados, com interpelações aos clientes, com proibições no acesso a condições comerciais, com tentativas de substituição na prestação de alguns serviços à conta da chamada integração vertical, mas esperança na resolução, essa, não se vislumbra.

Os efeitos têm sido devastadores em algumas economias, inclusivamente nas chamadas mais “fortes”, já há países com inflação na casa dos quase dois dígitos e a subir e, Portugal nos quase 3%. Há dois desenvolvimentos em simultâneo que “baralham isto tudo” a escalada da inflação e “abrandamento” da retoma (para os alguns economistas) . No entanto parece que temos uma forte retoma (para os operadores marítimos), ou pelo menos aparente, por outro lado, temos incerteza. E esta incerteza resulta também dos preços da energia e os constrangimentos na oferta.

É nesta aparente, ou não, forte retoma que “vivem” os Transitários, atualmente diria antes “sobrevivem”, com intuito de manter esta cadeia de abastecimento a funcionar. Quando ouvimos falar nesta retoma forte do consumo, o que sabemos é que existem dificuldades nos fornecimentos de contentores, na falta de navios, nos lucros multibilionários das companhias marítimas, na falta de matérias-primas, nas interrupções de fornecimentos, nos preços imorais e indecentes que se praticam, em resumo, na disrupção da cadeia logística.

Como seria se a procura fosse igual ao pré-Covid?

Para além disso e porque não há transportes fiáveis… (e agora temos a certeza)
… se não houver uma entidade que, na sua origem e/ou no seu destino, seja capaz de planificar, conceber, controlar e coordenar todas as operações e trâmites necessários à movimentação física das mercadorias. É nestas situações que a maior parte dos carregadores se lembra do Transitário, pois percebe agora que o denominador comum para resolver problemas e dificuldades, seja no transporte, seja nas autoridades competentes, seja muitas vezes na melhor escolha para a internacionalização, esse denominador comum, é o Transitário.

Começam a surgir os chamados transitários digitais onde aparentemente tudo fica à distância de um clique, que até é verdade. Mas quando acontecer a disrupção do “seu” processo?, mas quando a carga, se tornar numa “carga” de trabalhos?, a quem vai ligar?, quem vai lá estar para ouvir, perceber, entender e começar a “desenhar” os procedimentos necessários ao desembaraço do “embaraço” em que se encontra a carga?. provavelmente é melhor continuar a pensar na necessidade do Transitário “natural”.

Depois falaremos da descarbonização e do Fit for 55, o que significa, o não abrandamento da escalada dos preços e acima de tudo de mais e maiores dificuldades.

Em suma, 2022 deve reflectir alguma da melhoria da situação externa e alguma normalização em alguns sectores como o da Saúde, por mor da diminuição do impacto da Covid-19. Persistem, no entanto, desafios sociais complicados, nomeadamente a falta de mão de obra, falta de pessoas com elevadas competências, nomeadamente na área do digital. Por outro lado, alguma esperança no crescimento do PIB no médio prazo, alavancado por economias mais robustas, na modernização da administração pública e maior investimento privado e público na infraestrutura.

Resilientes como somos, estamos algo optimistas com 2022 apesar de antevermos muitas “disrupções”.

António Nabo Martins

Presidente Executivo da APAT

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