A importância do 5G para uma presença portuária competitiva

Portugal é um país marítimo, cuja história se fez na conquista dos mares, possuindo uma das maiores Zona Económica Exclusiva do mundo.
Os portos que se encontram um pouco por todo o território nacional são estratégicos para o desenvolvimento económico do país. Muito se fala na necessidade de aproveitar a nossa localização, enquanto porta de entrada de muitos dos bens que chegam à Europa através do Atlântico.
O 5G passa a ter um papel nessa missão nacional, uma vez que a modernização dos portos é crucial para que estes sejam competitivos num quadro internacional onde a inovação é palavra de ordem. Não tenhamos dúvidas, a aplicação desta nova geração móvel, trará competitividade e sustentabilidade à atividade portuária, potenciando o atingimento de novos patamares de eficiência.
Recentemente, num evento que juntou vários players do setor portuário, foi interessante verificar o crescente interesse por parte dos decisores em desenvolver portos sustentáveis, com base na digitalização e descarbonização. Foram ainda apontados investimentos para o efeito, na ordem das dezenas de milhões de Euros nomeadamente nos Portos da Figueira da Foz e Aveiro, até 2023.
Os portos são infraestruturas dinâmicas, em constante movimento, com um ambiente altamente metálico com contentores, gruas e diversa maquinaria, onde o uso de cabos ou fibra ótica para comunicações se torna difícil e caro. O uso de algumas tecnologias, como o Wifi provou igualmente não ser o mais adequado, devido a limitações de latência e largura de banda, assim como o facto de nestas infraestruturas a segurança ser uma absoluta prioridade para pessoas e bens.
As características do 5G, por via de maior segurança, fiabilidade, baixa latência e alta velocidade de transferência de dados, são fundamentais, mas, para que tal seja uma realidade, implica, antes de mais, ter garantias de total fiabilidade por parte de um vasto número de novas aplicações à nossa disposição. Para isso, é fundamental testar o 5G em conjunto com todas estas aplicações de um modo End to End e nas condições mais próximas do dia a dia numa estrutura portuária.
E, como fazê-lo?
Infelizmente, apesar da importância do mar para a Economia nacional, sem redes 5G ficamos limitados para avançar com testes e trials em território português. Focamo-nos, pois, na aprendizagem com os inúmeros casos de uso de utilização das redes de nova geração que se verificam um pouco por todo o mundo ao nível da indústria. Exemplos que nos permitem aferir quanto aos ganhos efetivos, quer em termos de eficiência, produtividade e custos, quer também de sustentabilidade e competitividade.
Tenhamos, como exemplo, o Porto de Qingdao, na China, o 7º maior do mundo. Completamente automatizado, regista elevados ganhos de eficiência, com poupanças operacionais que podem chegar aos 70%.
Mas olhemos mais atentamente para o que se está a verificar no Porto de Livorno, um dos maiores portos comerciais Italianos e mediterrânicos, capaz de comportar 60.000 TEU de carga e empregar mais de 15 mil pessoas. No âmbito do projeto tecnológico Corealis, uma iniciativa da UE que visa promover a transformação digital no setor portuário, pretende-se aportar “inteligência” ao Porto. Isto para fazer face a exigências tão amplas como o desenvolvimento sustentável, da eficiência de custos, proteção do ambiente e benefícios sociais através do 5G. De modo a que estes desafios sejam devidamente ultrapassados, foram introduzidas tecnologias inovadoras, como a IoT, realidade aumentada ou data analytics.
A experiência mostra como a digitalização é um “facilitador” no que respeita ao alcance dos objetivos propostos. O 5G terá o condão de realizar operações remotas de gruas através de vídeo de alta definição ou permitir a circulação de veículos autónomos que transportem contentores. A gestão mais eficiente do tempo de permanência dos navios, por exemplo, permitirá reduzir o impacto negativo no ambiente.
Com resultado deste caso de sucesso, em Livorno os custos anuais podem ser reduzidos em cerca de 2,5 milhões de euros, enquanto a produtividade segue caminho inverso, com um aumento entre 20% e 25% por via da automação. Com a ajuda do 5G foi possível perceber que a tecnologia tem a capacidade para reduzir em cerca de 8,2% as emissões de CO2 por operação e terminal. Todos estas eficiências estão em linha com vários dos objetivos das Nações Unidas conhecidos como SDG (Sustainable Development Goals)
Importa salientar, esta Transformação faz-se com as pessoas, não para lá das pessoas. Ou seja, requer uma requalificação do tecido humano que constitui estas infraestruturas de elevada envergadura, no sentido de dar valências que lhe permita operar estas tecnologias.
Em suma, quando se fala numa estratégia de recuperação que se centra na Digitalização e na Economia Verde, sem esquecer os objetivos neutralidade carbónica de Portugal em 2050, é um facto que essa recuperação passa em larga medida pelo 5G.

 

Nuno Roso, Head of Digital Services da Ericsson Portugal
https://www.ericsson.com/en/5g/5g-for-business

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