Em menos de um mês, a perturbação do mercado imobiliário, causada pela pandemia da Covid-19, atingiu quase todos os cantos do mundo. A análise é da Savills que diz que os ocupantes, «ajustando de forma dramática o seu comportamento a novas formas de viver e trabalhar, alteraram os fundamentos do mercado». Os investidores fizeram uma pausa para fazer um balanço das condições e os volumes de negócios caíram.
Para Alexandra Portugal Gomes, Associate do Departamento de Research da Savills Portugal: «São tempos sem precedentes e de muita incerteza. Ainda assim, após sensivelmente mais de um mês de lockdown, podemos afirmar que o mercado de investimento imobiliário demonstra sinais de abrandamento, que deverão permanecer até ao final do 1º semestre de 2020. Os players adoptam agora uma estratégia de wait and see, aguardando que o mercado emita os primeiros sinais de movimentação. No entanto, é muito importante ressalvar que as intenções de investimento se mantêm firmes, muito sustentadas pelo elevado nível de liquidez que abunda no mercado e também, ao contrário do que assistimos na crise de 2008, o mercado financeiro é hoje muito mais forte, mais bem preparado e consciente das medidas que devem ser tomadas.
Relativamente a outros congéneres europeus, «Portugal goza da vantagem de ter tomado medidas numa fase inicial da disseminação do vírus, o que nos coloca também em melhor posição para sair rapidamente e retomar a actividade».
Porém, nem todos os sectores e regiões foram impactados de forma igual e o mercado já está a planear uma recuperação. De acordo com a pesquisa feita com os directores de Research da Savills de 24 mercados globais «a actividade transaccional tem sido uma das vítimas mais imediatas da perturbação causada pela Covid-19, registando uma quebra de 62% em todos os mercados. Compradores e vendedores estão a avaliar e a aguardar uma maior clareza do estado do mercado». No entanto, existem transacções em curso, principalmente aquelas que já decorriam antes da pandemia.
As quedas mais acentuadas foram observadas no retalho, com uma queda de actividade descrita em 82% dos países analisados.
O impacto no valor do capital ainda não se verificou na mesma escala, com os preços firmes em 51% em todos os sectores do mundo. O número de países que comunicaram valores de escritórios, logística e habitação não sofreu alterações, tendo-se mantido inalterado em relação ao seu valor. O retalho, «um sector já enfraquecido devido a mudanças estruturais anteriores à Covid-19», registou quedas nos valores de capital: 82% dos mercados. Apenas na China, Malásia, Vietname e Portugal se mantiveram inalterados.
A logística é um ponto positivo, com 57% dos mercados a não registar nenhuma mudança ou aumento na actividade de transacção, contra 43% que assistem a quedas.
A procura de imóveis pelos ocupantes está a mudar devido à pandemia. Enquanto muitas empresas em todo o mundo trabalham a partir de casa, a procura por espaços para escritórios não foi tão afectada. 70% dos países registaram uma queda moderada na procura e apenas 13% registaram uma queda acentuada.
O sector do retalho foi um dos mais prejudicados, com 74% dos países a sofrer quedas acentuadas. A logística contraria a tendência, ao beneficiar do aumento da procura dos retalhistas de alimentos.
O impacto desta mudança na procura ainda não está totalmente concretizado nos valores de arrendamento que foram relatados como inalterados em 51% dos países/sectores. As excepções são o retalho e a hotelaria, onde 30% e 63% dos países relataram que os valores de arrendamento caíram acentuadamente, respectivamente.
Esta mudança de sentimento traduziu-se em termos favoráveis para os inquilinos, especialmente no sector de retalho, relatados em 86% dos países. Pouco mais de 50% dos países relataram condições favoráveis para os ocupantes de escritórios e 23% no sector de logística.
A perturbação associada à Covid-19 está a ter um impacto profundo nos mercados imobiliários globais. No geral, 67% dos países relatam um impacto moderadamente negativo no mercado atribuído directamente à Covid-19, enquanto 29% citam um impacto severamente negativo.
A nível sectorial, a área da logística é actualmente um dos mais resilientes na procura de ocupantes e na actividade de investimento, sustentado pelo aumento da procura por retalho online.