A crise gerada pelo COVID-19 trouxe alterações de consumo a nível global, verificando-se alguns casos de “açambarcamento” de produtos considerados essenciais. Depois do conhecido caso do papel higiénico, foi a vez dos lineares de farinha de uso culinário ficarem vazios. Tornou-se evidente o reajustamento das operações dos fornecedores, que tiveram de implementar medidas para continuarem a laborar e darem resposta a este aumento de procura, como explicou António Trigueiros de Aragão, CEO das Fábricas Lusitana, à revista Logística Moderna.
Logística Moderna – Em período de pandemia e apesar de não se esperar rupturas de stock, o certo é que se tem verificado algum “açambarcamento” de farinhas de uso culinário nas lojas, nestas últimas semanas. Que análise é que fazem desta situação?
António Trigueiros de Aragão – Em circunstâncias de isolamento e incerteza, era expectável que as pessoas quisessem acautelar os seus aprovisionamentos de bens essenciais. Por outro lado, o ambiente de isolamento leva a mudanças nos hábitos de consumo e, o facto de estarem famílias inteiras em casa e com mais tempo disponível, potencia o convívio e a partilha de experiências entre pais e crianças, na preparação de receitas de bolos de família, bolachas, tartes, etc.
O aumento do consumo doméstico, implicou uma transferência na tipologia da embalagem.
Que medidas é que foram tomadas para fazer face a este período inesperado e que permitissem que a vossa unidade de produção continuasse a laboral? Qual a capacidade de produção instalada?
A fábrica encontra-se em laboração a 2 turnos, com as equipas a trabalharem em horários desfasados e suportadas por medidas excepcionais de segurança e higiene. Suspendemos as produções que envolvem mais mão-de-obra, libertando-a para a produção dos artigos essenciais e mais procurados pelas famílias portuguesas.
Produzimos em dois turnos a 100% da capacidade máxima, o que ronda as 140ton diárias.
Conseguem dar resposta a este pico de aumento de consumo e abastecer as lojas de acordo com as necessidades?
Nenhuma empresa está preparada para que, de uma semana para a outra, a procura por artigos de uma determinada gama dispare.
Conscientes da nossa responsabilidade social, temos feito o que está ao nosso alcance para manter a cadeia de abastecimento ágil e eficiente.
Mantemos a nossa laboração no máximo da capacidade, não obstante os constrangimentos decorrentes do reforço das normas de segurança, garantindo a manutenção dos habituais padrões de qualidade e serviço prestado.
Não tem sido uma tarefa fácil, há dias em que não conseguimos satisfazer todas as encomendas recebidas, havendo necessidade de reagendamentos, mas os nossos Clientes estão plenamente conscientes da nossa cooperação e do nosso empenho.
Fornecedores «têm conseguido dar resposta»
Quais os desafios com que se deparam a montante e a jusante da cadeia de abastecimento? Têm tido problemas com o abastecimento de matéria-prima?
Felizmente temos conseguido trabalhar sem grandes constrangimentos, graças à disponibilidade dos nossos fornecedores de matérias-primas, materiais de embalagem, transportadores e outros relevantes para a execução das produções e, com quem nos encontramos em permanente contacto. A entrega dos profissionais das empresas de logística e transportadores, tem sido total, atitude que não podemos deixar de louvar. As estreitas relações que mantemos com os nossos parceiros têm sido uma mais valia nesta fase difícil.
Obviamente que, para além deste apoio, contamos com o incrível empenho e dedicação de toda a Equipa Lusitana.
Para além destas farinhas, também se dedicam à produção de outros produtos como reparados para bolos, gelatinas, mousses, pudins, etc. Também aqui verificaram um aumento do consumo?
Sim, sobretudo na gama de preparados para bolos. Aqui, mais uma vez, potenciado pela maior disponibilidade das famílias para a preparação de alimentos de conforto e que permitem a partilha na confecção.
Como estão a funcionar os canais habituais, em particular o retalho? Têm algum canal suplementar aos habituais a funcionar?
A atitude e capacidade de adaptação que o retalho demonstrou foi brilhante, criando condições de organização, higiene e segurança suplementares, de forma a dar resposta à procura dos consumidores em tempo de crise.
Assistimos também ao aumento do tráfego nas lojas de proximidade, canal onde nos temos focado nos últimos anos e, nas vendas online através do nosso site e-mercearia, cujas vendas cresceram exponencialmente.