Em Portugal, em 2018, 49% da população portuguesa que usa a Internet efetuou algum tipo de compra online (segundo o “Ecommerce Europe”), contribuindo para um total de cerca de 5 mil milhões de euros de bens transacionados.
Parece muito, mas, na realidade, de acordo com o mesmo relatório, somos claramente um dos mercados com menor volume de compras no domínio digital. Basta comparar com Espanha, onde, em 2019, a previsão de vendas online rondava os 33 mil milhões de euros. Já no Reino Unido, o comércio eletrónico ultrapassava os 200 mil milhões de euros em transações.
É legítimo alegarmos que, com o acesso que temos ao retalho tradicional – shoppings com horários alargados e um dos maiores valores de metro quadrado de retalho per capita –, os portugueses simplesmente não necessitam de lojas online para efetuar as suas compras.
Existe, no entanto, um outro detalhe que molda a realidade do nosso mercado: 80% das compras que os cidadãos lusos efetuam via web são provenientes de outros países, sendo a China uma das maiores exportadoras para o nosso País.
Se, por um lado, o fator preço influencia diretamente a nossa decisão de compra, por outro, é importante realçar a capacidade produtiva do mercado nacional, que sempre se destacou como um destino para o qual as grandes marcas internacionais deslocavam a sua produção, e não um País de origem de grandes marcas.
Uma (grande) oportunidade chamada… internacionalização
Sendo isto verdade, qual a oportunidade das marcas nacionais no que diz respeito ao ecommerce?
A resposta é: a internacionalização. Há um fator fundamental, porém, que está a atrasar a oportunidade de internacionalização dos negócios portugueses através do comércio eletrónico: a capacidade logística e os custos referentes aos transportes e à logística inversa.
A loja online, onde o cliente navega, adiciona produtos ao carrinho e efetua a sua compra, é apenas a ponta do iceberg de um projeto bastante mais complexo e que envolve múltiplos intervenientes. Logística e transportes são claramente dois pontos essenciais de um negócio digital que se dedique à promoção e venda de produtos físicos.
Para a cobertura das necessidades Business to Business (B2B) existe bastante oferta em território nacional, devemos assumi-lo. Existem empresas com muita experiência técnica e capacidade de armazenamento.
Devemos também assumir que o negócio B2B liberta maiores margens e facilita a organização dos armazéns (permitindo armazenagem em palete e altura). Portanto, a matemática é simples: desenvolver projetos de logística para B2B permitem menores riscos para os players nacionais.
Players e propostas de valor – precisam-se!
O grande crescimento das lojas online, todavia, acontece nos negócios Business to Consumer (B2C) e Direct to Consumer (D2C) – o que envolve uma organização de armazém ao Stock Keeping Unit (SKU), obrigando a uma manutenção de stock em real time, com menor economia de escala, picking à unidade, uma embalagem diferenciada e personalizada por cada projeto e, ainda, a documentação ou merchandising exclusivo de cada negócio.
Dada a reduzida oferta neste setor, até hoje, nunca conseguimos desenvolver um projeto em que a logística fosse externa ao próprio projeto de ecommerce. Os valores praticados no mercado não são competitivos quando comparados com este tipo de serviços noutros mercados da Europa e, claro, nos Estados Unidos da América, onde este serviço é prestado por variadíssimos players. Onde se inclui a Amazon, que se assume como a maior empresa de logística ao nível mundial, com mais de 175 entrepostos logísticos em todo o mundo e a servir negócios que vendem diretamente no seu Marketplace, ou que usam a estrutura logística Amazon para servir os clientes do seu próprio ecommerce.
Além da logística, temos de destacar os custos de transporte. Dentro do território nacional, os preços praticados são competitivos para todos os intervenientes no processo de venda online, obviamente. Mas, quando o objetivo do negócio é a internacionalização, se o produto em questão não libertar a margem certa e o custo for totalmente imputado ao consumidor final, as marcas portuguesas ficam a perder oportunidades de exportação, quando comparadas com negócios do centro da Europa.
A solução para as empresas portuguesas passa por desenvolver marcas de elevado valor percebido pelo seu cliente, de forma a que consigam incorporar todos os custos no preço do produto, sem cobrar os custos de envio ao cliente, ou absorvendo parte desse custo na sua margem.
O sucesso dos negócios online depende de diversos fatores. Entre eles, a logística e os transportes representam uma percentagem significativa.
Ora, este é o momento dos players em Portugal apresentarem novas propostas de valor, por forma a não só potenciar a internacionalização dos nossos negócios, como também captar grandes protagonistas internacionais, que já produzem em Portugal e poderiam usar a estrutura logística e de transportes do nosso País, em vez de deslocarem as suas produções e serviços logísticos para destinos do centro ou do norte da Europa.
Vera Maia, CEO e fundadora do Tudo sobre eCommerce*
* Plataforma de consultoria e formação de referência em Portugal, o Tudo sobre eCommerce organiza todos os anos a Conferência com o mesmo nome. A 3.ª edição decorre em 17 de outubro próximo, no Auditório da Ordem dos Contabilistas Certificados, no Porto