As potencialidades da aplicação desta tecnologia para uma indústria mais inteligente. O sistema de identificação RFID como plataforma de rastreamento e ferramenta de suporte.
Tudo conectado: pessoas, embalagens, equipamentos. Uma fábrica inteligente, em que tudo comunica com tudo e não há falhas de informação nem desvios de stock – porque tudo o que existe está ligado ao sistema. Parece um futuro distante? Não é – é a ideia por detrás da Indústria 4.0.
Mas o que é afinal a tecnologia RFID? A RFID (Radio Frequency Identification) é um método para a identificação de objetos através de “interrogação” à distância. Um sistema de identificação RFID consiste em três elementos: Etiqueta RFID, Leitor e Antena RFID e Middleware, que processa os dados recolhidos pelo leitor e envia-os para outros sistemas, para posterior utilização.
Exemplos práticos desta tecnologia são o sistema de portagens “Via Verde”, etiqueta RFID no vestuário, ou os mais recentes cartões contact less. Mas não se ficam por aqui. Cada vez é mais apelativa a integração desta tecnologia na indústria, pela capacidade que tem de suprir problemáticas associadas à cadeia de abastecimento como a previsão de necessidades de consumo, processos de abastecimentos otimizados e digitalização do fluxo de matéria-prima dentro e fora da fábrica.
A aplicação desta tecnologia na indústria nos dias de hoje é possível graças à transposição de várias barreiras. A primeira dessas barreiras que podemos identificar era a falta de standards internacionais que regessem a comunicação por rádio frequência. Hoje, a GS1 e EPCGlobal assumem um papel importante enquanto organizações-chave no que diz respeito a estes standards. Outra das barreiras prende-se com a existência de materiais cujas propriedades manipulam, diminuem ou até eliminam a propagação das ondas de radio frequência. Esta última tem particular interesse, dado que na produção de equipamento eletrónico é importante proteger a matéria-prima e o produto acabado de descargas electroestáticas (ESD). Esta necessidade de proteção requer a utilização de caixas cujo material dificulta a leitura de etiquetas RFID, o que é um dos principais desafios na aplicação desta tecnologia.
As potencialidades do uso desta tecnologia são imensas e por isso mesmo na Bosch está a ser utilizada com um propósito bem definido: o de solucionar os problemas de erros de alocação. A necessidade de saber em tempo real onde se encontra uma determinada caixa e a procura de um método de controlo de inventário mais apelativo leva a que se aposte ainda mais nesta tecnologia que, além da sua implementação na área de logística, é pensada para aplicação em outras áreas, como controlo de qualidade, manutenção de equipamentos e na produção em si.
As embalagens ganham vida através da etiqueta RFID – este passa a ser o seu “ADN” que as identifica como única onde quer que elas estejam. E como sabemos onde ela está? Através da conjugação do sistema de identificação RFID com a plataforma de rastreamento de embalagem, criada na Bosch, é possível ver em tempo real onde a embalagem está. Estes pontos de controlo diferem entre si na tipologia de hardware utilizado. Desde um único leitor com antena integrada a servir como ponto de picagem de caixas; pórticos equipados com múltiplas antenas de longo alcance para registo do fluxo de caixas que seguem para a produção e vice-versa; ou até mesmo pulseiras que permitem uma leitura “mãos livres” enquanto o operador executa tarefas para o abastecimento das linhas de produção. A escolha de equipamento tão heterogéneo prende-se unicamente com o objetivo de otimizar o processo de abastecimento de matéria-prima à produção, ao mesmo tempo que a rastreabilidade dos materiais é assegurada.
São múltiplas as aplicações do RFID e as vantagens que podem aportar nos mais diversas áreas de negócio, seja produção, transporte, logística, comércio, entre outras. Com todas estas possibilidades, o RFID abre caminhos para várias aplicações de controlo, localização de objetos em lugares inacessíveis ou em movimento, prevenção de roubos, falsificação de conteúdos, deteção anomalias e envio de sinais de alarme, melhorias de processos com redução do tempo e mão-de-obra. Todas estas possibilidades, e em particular aquelas que de uma forma mais direta envolvem a redução do envolvimento de mão-de-obra, trazem por vezes alguma desconfiança sobre se a Indústria 4.0 está ou não a contribuir para a redução de postos de trabalho. Existe um complexo associado à questão da substituição das pessoas pelas máquinas e tudo o que está associado a esta questão é muito sensível dentro das organizações. Contudo, no caso concreto do RFID, mesmo sendo uma tecnologia associada a este movimento de digitalização das empresas, acaba por assumir mais um papel de desbloqueador. As pessoas veem neste tipo de tecnologia uma ajuda preciosa ao seu trabalho. A inclusão do RFID em tarefas de registo ou de contagem e inserção de materiais numa cadeia de produção é uma tarefa sujeita a erros ou falhas. Se por um lado a introdução deste processo digital substitui a pessoa em 10% da sua tarefa, por outro é um garante de que esse percentual está isento de erro e nesse sentido dá-lhe mais segurança para a execução do restante trabalho. Ele sabe com 100% de certeza que o material é contabilizado e que durante a cadeia de produção já não existirá qualquer falha na contagem e, por sua vez, há uma perceção mais exata da utilização dos produtos, do estado e localização. O RFID é por isso uma ferramenta de suporte e não uma forma de substituição direta da pessoa.
Pedro Silva Vaz
Coordenador da equipa da Inovação na Logística da divisão Car Multimédia da Bosch