O mercado de equipamentos de movimentação de carga tem registado no último ano um crescimento positivo. Fortalecido em parte pela retoma económica e recuperação da confiança dos consumidores e do consumo, mas também pela aposta contínua em inovação, este setor apresenta um “grande” dinamismo, com as principais marcas a darem cartas.
Sobre a evolução do setor no mercado português, Jaime Gener Bover, diretor-gerente da Linde Material Handling Ibérica avança que: «apresenta um crescimento sustentado de dois dígitos durante os últimos 5 anos, sendo que no exercício de 2017, o crescimento foi superior a 30% situando-se num volume de quase 4.100 unidades, graças fundamentalmente à grande procura de equipamentos da gama de interior ou armazenamento».
Os resultados da Jungheinrich Portugal confirmam este crescimento, ao atingir no exercício anterior um aumento de 16% ao nível da faturação e uma subida superior a 35% das encomendas, em unidades, conforme adianta Mark Wender, managing diretor da empresa.
Para 2018 as expetativas também são favoráveis, prevendo-se um aumento do volume de vendas. Apesar de estar a ser «um ano de crescimento mais lento, a expectativa de crescimento mantém-se ao nível do mercado e da quota do Grupo Tima, em particular», explica João Camilo Alves, Regional Sales Manager do grupo Tima.
Manuel Lúcio, diretor comercial da Euroleva diz que apesar dos clientes «estarem a decidir a compra mais lentamente do que em anos anteriores», as vendas aumentaram face a 2017, com «a Mitsubishi a crescer no mercado». Num cenário económico equivalente ao atual «perspetivamos que o volume de faturação seja superior ao do ano anterior», diz o responsável.
Também Rui Cunha, diretor comercial da Empizinhos, acredita que «10 anos após o início da crise mundial que tanto prejudicou a nossa economia, este será o ano da consolidação do crescimento e de rutura com a incerteza constante dos mercados».
Desafios da logística 4.0
A logística 4.0 veio agitar o mercado ao trazer novos contornos, nomeadamente as novas tendências: digitalização; conetividade; inteligência artificial e automatização. A aposta recai no desenvolvimento de soluções sustentáveis e rentáveis, ajustadas às necessidades dos clientes que se deparam com novas realidades, como é o exemplo do e-commerce. O objetivo é transversal e passa por otimizar os fluxos de materiais e os processos logísticos, com recurso às tecnologias emergentes como IoT (Internet of Things), Big Data, etc.
A otimização digital de processos permite obter ganhos efetivos de produtividade, bem como assegurar a eficiência e reduzir os custos. A interligação em rede das várias informações cria novas soluções que tornam os processos mais eficazes e aumenta segurança no armazém.
Segundo Mark Wender «mais empresas visam a interligação dos fluxos de materiais e processos de trabalho na área de logística como meta para otimização de soluções tecnológicas. Neste caso a Jungheinrich desenvolveu toda uma gama de soluções de rede e sistemas de assistência inteligentes». Já Rui Cunha considera que o principal desafio da logística 4.0 «é conseguir acompanhar a crescente evolução dos vários equipamentos que, em cada gama, introduzem novos desenvolvimentos tecnológicos».
«Centros de distribuição mais inteligentes, stock zero, informação em tempo real e alta conectividade», são alguns dos desafios apontados por Ana Paula Soares, responsável de Marketing & Formação Vendas da Toyota Material Handling, que salienta a importância do «desenvolvimento de soluções que sejam capazes de ir ao encontro das necessidades dos clientes». Do portefólio da marca, a responsável fala na sua Solução de Gestão de Frotas I_Site que conecta atualmente 60.000 empilhadores a nível mundial, todos eles com um dispositivo telemático, que comunica através da rede de telecomunicações para um servidor web, fornecendo informações ao cliente sobre desempenho e performance da sua frota.
«Momento complexo, mas ao mesmo tempo apaixonante», é assim que Jaime Gener Bover carateriza este período. A Linde lançou uma nova área de negócio, a “Linde Intralogistics Solutions”, uma consultoria integral que proporciona desde a análise inicial, ao desenvolvimento do projeto e à entrega chave-na-mão. «Este negócio tem o compromisso de fazer com que os nossos clientes continuem a ser competitivos», explica o responsável, salientando que: «Um grande valor acrescentado desta nova linha de negócio, é o facto de o cliente ter apenas um único interlocutor, e este ser um especialista, com comprovada experiência.»
Equipamentos autónomos são uma realidade
Também a automatização é já uma realidade e vem em linha com as novidades apresentadas no mercado ao nível dos equipamentos de movimentação de carga.
Para o responsável ibérico da Linde, detentora da Linde Robotics, as máquinas autónomas «incluem um conjunto de vantagens que se traduzem numa maior transparência de processos, aumento da produtividade e redução de custos por otimização dos recursos operacionais, já para não mencionar a sua adaptabilidade aos ambientes e a sua segurança».
Mark Wender enfatiza a importância da automatização, pois «cada vez mais são necessários equipamentos que garantam processos de transporte eficientes e seguros e que permitam uma utilização otimizada de recursos.» A Jungheinrich tem vindo a desenvolver equipamentos de transporte sem condutor, como é o exemplo do EKS 215ª, cuja navegação dá-se através de controlo por laser. «Acima de tudo, trata-se de uma máquina muito segura, equipada com scanners de proteção de pessoas», conclui.
Já Rui Cunha considera que as máquinas autónomas são «viáveis apenas para uma percentagem das empresas, pois é necessário considerar vários fatores para verificar a viabilidade na utilização desta tecnologia». Mas independentemente da «procura moderada», acredita que será um mercado crescente e, no qual, «a Empizinhos terá as suas próprias soluções AGV, além das soluções que já dispomos para comercialização, como sistemas logísticos completos ou sistemas autónomos de armazenamento».
A aposta em máquinas autónomas ganha novos contornos ao potenciar parcerias e aquisições. É o exemplo da Toyota que recorreu, por exemplo, a uma parceria com a Microsoft e à aquisição da Vanderlande.» Também a Mitsubishi entrou nas tecnologias para fabrico de AGV (Automated Guided Vehicles) e LGV (Laser Guided Veicles), desde a aquisição da Rocla, há 15 anos atrás. «O recurso a equipamentos AGV e/ou LGV permite a movimentação de cargas de forma autónoma pelos próprios equipamentos graças à visão artificial que possuem, constituída por diversos sensores, e à sua capacidade auto-suficiente de tomada de decisões», explica Manuel Lúcio.
Ana Paula Soares explica o conceito apresentado na CeMAT pela Toyota que «sugere a abordagem do futuro transporte horizontal, prevendo a maneira como podem comunicar diretamente com máquinas de alto nível usando inteligência artificial. Todo o movimento deve ser otimizado, afetando o tipo certo de máquinas a cada tarefa, e passando as cargas entre máquinas conforme for sendo necessário.»
A inteligência artificial baseada em milhões de cálculos a cada segundo vai permitir que os equipamentos identifiquem a melhor rota. Este tipo de comunicação direta, vai simplificar os sistemas centrais tradicionais de gestão de armazém. «Este conceito reflete a filosofia lean da Toyota para a logística, baseada no Sistema de Produção Toyota, em que um dos princípios fundamentais é a eliminação do desperdício e a otimização extrema dos recursos», explica a responsável.
Empresas apostam nas baterias de iões de lítio
A eficiência energética é um dos temas-chave do setor da intralogística. Com as restrições impostas pela União Europeia relativamente ao consumo de energia e ao menor impacto ambiental, as empresas deparam-se com um negócio mais desafiante.
Atualmente, a maior parte das marcas já disponibilizarem máquinas com baterias de iões de lítio, em substituição das baterias convencionais de chumbo-ácido. Esta tecnologia tem benefícios económicos e ecológicos, com tempos de carregamento rápidos, sem necessidade de manutenção e com uma longa vida útil. Contribui ainda para a redução das emissões de CO2 em comparação com todos os outros acumuladores de energia e proporciona um manuseamento mais seguro.
Sobre a sua tecnologia de iões de lítio, a Jungheinrich diz ser distinta. «Somos nós que fabricamos as nossas baterias, mas também os carregadores e ainda o sistema de gestão da bateria, o que propícia um aumento de eficiência», menciona Mark Wender. «Com o desenvolvimento desta tecnologia, a Jungheinrich criou uma nova geração de empilhadores. A potência de iões de lítio integrada garante um desempenho superior no armazém, para além de um design de equipamento revolucionário: melhor ergonomia; facilidade de manobra; maior eficiência energética e maior visibilidade e segurança».
Também o grupo Toyota optou recentemente por uma solução de baterias de iões de lítio de produção própria, com uma configuração modular. «Isto significa que os clientes podem obter a dimensão ideal da bateria compatível com as suas necessidades», explica Ana Paula Soares. «Esta solução garante um retorno rápido do investimento, tornando-a interessante para uso em todos os tipos de aplicações, nomeadamente em operações de pequena e média dimensão, eliminando todas as desvantagens habituais na utilização de baterias de acido-chumbo. Para esta solução a Toyota oferece uma garantia extensa de 7 anos».
Segundo Jaime Gener Bover, a Linde «não utiliza uma solução standard» mas uma tecnologia sLFP (Super Lítio-ferrofosfato) que «proporciona segurança, rentabilidade e fiabilidade. «Com o aproveitamento de 90% da energia, as baterias de iões de lítio da Linde dispõem de um sistema patenteado BMS, (Battery Manager System), que indica num display o estado de carga da bateria, informando do estado exato de carga em horas ou minutos e permite, entre outras vantagens, que o equipamento e a bateria estejam em constante comunicação reajustando os parâmetros para obter o máximo rendimento e segurança.»
O custo «elevado» é ainda um problema. «Cremos que em termos prospetivos o benefício da utilização das baterias de iões será mais vantajoso, à medida que o custo desta tecnologia for diminuindo, permitindo também abarcar uma parcela de mercado mais abrangente daquela que o procura atualmente», refere Rui Cunha, indicando que :«Desde 2016 que dispomos de empilhadores Heli equipados com esta tecnologia, mas como referido, os custos desta tecnologia apenas seduzem uma fração do mercado português a adquirir equipamentos com lítio, sendo quase exclusivamente empresas com 2 ou 3 turnos diários de laboração».
Máquinas elétricas em alta
Também em linha com as preocupações ambientais e com o desenvolvimento tecnológico e ergonómico, nos últimos anos tem-se verificado um crescimento da aquisição de equipamentos elétricos em comparação com os de combustão. «O crescimento do mercado de equipamentos elétricos mantém-se como uma realidade clara, onde a constante inovação das tecnologias elétricas vai, cada vez mais, cavando uma distância considerável contra as mais onerosas (a cada vez mais curto prazo) tecnologias diesel/gás”, adianta João Camilo Alves.
Sobre o decréscimo das máquinas de combustão, Jaime Gener Bover avança que «apenas 16% dos equipamentos que anualmente entram no mercado são equipamentos diesel/gás».
Para Rui Cunha, a razão da subida dos empilhadores elétricos «prende-se com a exigência para muitas realidades empresariais na utilização de equipamentos sem exaustão de fumos para operar no interior das instalações». Esta tendência será para continuar, pois «a preocupação com as condições de trabalho dos colaboradores e do ambiente está cada vez mais patente, pelo que a evolução dos equipamentos também pende nesse sentido», conclui.
Mark Wender aponta a «evolução da tecnologia e de soluções energeticamente mais eficientes e com uma autonomia maior», como uma das principais causas para as indústrias onde as máquinas térmicas eram a primeira opção começarem agora a olhar para as máquinas elétricas.
A Euroleva vai mais longe e Manuel Lúcio fala «no design robusto, e até à prova de água em alguns modelos», que associado a um conjunto de vantagens tornam esta opção mais interessante. «O facto de trabalharem em diversas condições climatéricas, os custos de manutenção serem mais baixos e com assistências mais espaçadas em número de horas, o silêncio com que operam, a maior autonomia das baterias e o rápido carregamento das mesmas, contribuem para uma redução dos custos com os equipamentos e um aumento da produtividade, para além da contribuição para o ambiente por ausência de poluição.»
Segurança é prioridade no setor
Na União Europeia morrem todos os anos cerca de 5500 pessoas em acidentes no local de trabalho, dos quais cerca de um terço está relacionado com acidentes de transporte. Os dados são da Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho que aponta como principais causas o atropelamento por veículos em movimento, quedas de material ou capotamento de veículos.
Segundo a entidade europeia, os empilhadores estão envolvidos em inúmeros acidentes no local de trabalho, sobretudo quando efetuam manobras de marcha atrás e de inversão de marcha. De salientar, que os acidentes têm maior incidência nas pequenas e médias empresas (PME) com menos de 50 empregados.
Para diminuir os riscos é necessário implementar medidas eficazes de gestão e de prevenção, que vão desde a conceção segura do espaço, formação dos condutores, sinalização de aviso adequada, manutenção correta dos equipamentos, iluminação e visibilidade suficientes.
O setor está comprometido com a segurança, através de investimentos com enfoque na ergonomia das máquinas, tecnologia e em soluções adicionais. As propostas são diversas, com um objetivo comum: ««É nosso objetivo proteger as pessoas, o equipamento, o armazém e a mercadoria. Mais segurança significa para os nossos clientes também mais proteção do investimento e melhor controlo de custos», conforme adianta Mark Wender. «No caso da Jungheinrich, disponibilizamos uma oferta alargada de sistemas como câmaras de bordo inteligentes e sistemas de gestão de frota, como o ISM Online.»
A Toyota continua a apostar, entre outros, «no sistema SAS Sistema Ativo de Estabilidade que proporciona uma segurança extra para o operador e para a carga» e em sistemas de aviso, como o SpotMe que evita acidentes com os peões. Também para a Euroleva, a segurança é um fator primordial «na conceção de qualquer equipamento Mitsubishi», pelo que os seus equipamentos são concebidos em parceria com um departamento da Universidade de Helsínquia «onde é testada a performance e é analisada a segurança dos mesmos», explica o seu responsável.
Do seu leque de soluções, a Linde destaca «os sistemas de assistência ao operador», como o Controlo Dinâmico do Mastro (DMC), que reduz as oscilações do mastro durante o empilhamento em grandes alturas, e o Linde Safety Pilot, um sistema anticapotamento. Este ano irá ainda lançar o sistema de aviso de colisão, o Linde Safety Guard. Os feixes de luzes são outra opção. É o exemplo do Truck Spot da Linde, um sistema que desenha no solo um triângulo e o sinal do empilhador, o VertiLight, que ilumina a área de trabalho desde o solo até à parte superior da estante, e o Linde LED Stripes, umas faixas que «oferecem uma iluminação de curto alcance otimizada.»
Apesar do recurso à tecnologia, «é inegável que o fator humano é o principal agente nos incidentes com equipamentos», quem o diz é Rui Cunha que justifica que: «A correlação entre acidentes e distração do operador, cansaço ou má utilização, acabam por involuntariamente dar crédito ao princípio que os equipamentos AGV vão certamente reduzir o número de incidentes verificados».
Para João Camilo Alves, «a aposta na segurança é uma prioridade de todas as marcas, e os resultados continuam a ser globalmente positivos, aparecendo todos os anos novidades nesta área», sem, contudo, não esquecer «a importância de fazer crescer, paralelamente, todos os termos ligados à formação dos operadores, que continuam a estar relacionados a uma grande percentagem dos acidentes que se verificam anualmente».
Pode ler o artigo na íntegra na edição de Maio/Junho 2018 da revista Logística Moderna
