A gestão da cadeia de abastecimento é um grande desafio para qualquer organização. É também uma das operações mais cruciais de qualquer atividade comercial, e todas as empresas querem certificar-se de que continua a ser tão eficiente e produtiva quanto possível.
Acontece que a gestão da cadeia de abastecimento é também uma das áreas mais voláteis e imprevisíveis de qualquer negócio.
A pandemia COVID-19 e a Guerra na Ucrânia e os subsequentes constrangimentos provocados pela escassez de semicondutores e outros componentes mostra que é essencial uma aproximação das cadeias de abastecimento.
É consensual a identificação do sector automóvel como um dos mais competitivos, com uma fortíssima concorrência a nível global.
A capacidade instalada é consideravelmente superior à procura, o que provoca um ambiente de negócio de grande competição, naturalmente extensivo ao sector de fabricação de componentes.
Com esta caracterização como pano de fundo, torna-se imperioso que todos os fatores de custo com reflexo direto na competitividade das empresas sejam mantidos debaixo de controlo rigoroso.
Um desses fatores é o custo logístico, particularmente sensível no caso de Portugal devido à sua localização periférica em relação à União Europeia, seu principal mercado. Os custos de transporte de mercadorias acentuam o efeito de Portugal como país limítrofe e por isso afetam a sua competitividade e atratividade das nossas empresas. Os custos de logística (combustíveis, portagens, fretes portuários) em Portugal são maioritariamente mais elevados do que noutros países nossos concorrentes. Os elevados custos logísticos oneram de forma desigual a indústria nacional tanto na importação de matérias-primas, quanto na subcontratação dentro do país e sobretudo na exportação de produtos acabados.
A esmagadora maioria das nossas importações e exportações têm como origem/destino países europeus, com a Espanha em primeiro lugar destacado. Para o movimento destas suas cargas dentro da Europa, as empresas utilizam hoje em mais de 90% a via rodoviária e em reduzida escala as vias marítima e aérea. O volume transportado por via ferroviária é insignificante ou mesmo nulo, não sendo hoje uma opção real, devido à total imprevisibilidade de prazos (particularmente crítica nos fornecimentos à indústria automóvel), mas também devido às baixas velocidades, reduzida frequência de circulação, preços pouco competitivos, transbordos com elevados custos e demoras.
O transporte rodoviário, do qual hoje dependemos quase em exclusivo, verá os seus custos agravarem-se fortemente a curto prazo, quer por aumentos de preço dos combustíveis fósseis quer pela introdução de taxas ou impostos verdes tendentes a contrariar a sua utilização. O inevitável crescimento dos custos de transporte terrestre de e para a Europa afetará as empresas sediadas em Portugal duplamente: na importação e na exportação, pondo em risco a sua competitividade.
Em contrapartida, perspetiva-se que a vantagem de custo dos transportes ferroviários venha a crescer continuamente, sobretudo se otimizados através de soluções de intermodalidade (transporte de camiões e atrelados sobre vagões, centros de consolidação logística, etc.). O transporte por ferrovia apresenta no médio/longo prazo um potencial de economia de custos que para as empresas do sector automóvel representaria um ganho de competitividade dificilmente quantificável mas seguramente de extrema relevância.
Assim é fundamental a existência de boas ligações ferroviárias a Espanha e ultra-Pirinéus, de preferência com bitolas que não obriguem a transbordos. Tem que haver uma estratégia inequívoca concertada com Espanha e integrada na Rede Transeuropeia de Transportes e na política dos Corredores Europeus definida pela União Europeia.
Apesar de todas as vicissitudes a Indústria Portuguesa de Componentes Automóveis tem revelado um desempenho acima da produção automóvel na Europa. Entre 2015-2022 cresceu a uma taxa de +4,6% ao ano, o que compara com um decréscimo médio anual de -3,6% da produção automóvel na Europa.
Esta performance, demonstra um aumento de penetração e ganho de quota de mercado dos componentes portugueses. Tal desempenho só é possível ser conseguido pela resiliência, competência e fiabilidade continuadamente demonstradas pela indústria junto dos clientes internacionais. Refira-se que 98% dos carros produzidos na Europa têm pelo menos um componente fabricado em Portugal. A indústria portuguesa de componentes para automóveis oferece soluções para dar forma à mobilidade do futuro, inteligente e com baixas emissões de carbono.
Adão Ferreira
Secretário-Geral AFIA