O financiamento total para startups na área das tecnologias para a cadeia de abastecimento de 2020 a 2022 atingiu 124 mil milhões de dólares, quase o dobro do montante combinado obtido nos três anos anteriores, segundo dados da empresa de estudos de mercado PitchBook. Estes valores incluem as quatro grandes áreas de tecnologia: enterprise supply chain management; freight tech; warehousing tech e last-mile delivery.
A razão para esta aposta é de que o sector do transporte de mercadorias está atrasado para a “Uber-ização”. Mas como a Bloomberg relatou na passada segunda-feira, essa comparação simplifica excessivamente os desafios futuros. “Coordenar camiões não é como chamar táxis”.
Seis meses após a pandemia, a Uber concordou em vender o seu negócio europeu de camiões à Sennder Technologies, uma empresa com sede em Berlim que desenvolve ferramentas digitais para fazer “casar” expedidores com transportadores. O negócio que foi realizado de forma integral por meio de ações atribuiu um valor à empresa de 900 milhões de euros.
“O modelo americano não funcionou na Europa”, afirmou à Bloomberg David Nothacker, o co-fundador e CEO de 35 anos da Sennder, que afirma que “no transporte rodoviário de mercadorias, vamos ver campeões continentais”.
A digitalização do transporte rodoviário continua na ordem do dia. Na China, o líder nesta área é a empresa Full Truck Alliance. A Uber e a Convoy estão a lutar pela primeiro lugar nos EUA. Mas o caminho não tem sido fácil. Segundo informações que circulam no mercado norte americano, é possível que a Uber se esteja a preparar para vender ou cotar em bolsa de forma autónoma a sua divisão de carga e logística, embora para já a Uber não comenta o que designa por rumores.
A Sennder tem sofrido com as dores de crescimento que são reflexo da indisciplina de uma indústria regionalizada. Apesar de ter conseguido angariar mais de 320 milhões de euros o que fez com que a sua avaliação ultrapassasse os mil milhões de dólares, a empresa também teve de enfrentar a Brexit, a guerra na Ucrânia, para além da fragmentação do mercado.
Mas David Nothacker vê a sobrevivência de Sennder como um sinal de que está no caminho certo. “O nosso modelo de negócio é resistente a crises”, afirma, sublinhando que as pessoas precisam mais do que nunca dos seus bens entregues nos tempos difíceis. “Pelo menos nas crises que temos visto”.