O ano de 2021 não foi um ano fácil para a logística nem para as empresas portuguesas, e ainda menos para aquelas cujo negócios assentam em processos de importação e de exportação. Os desequilíbrios globais nos fluxos logísticos, as alterações nos padrões de consumo, as dificuldades de circulação induzidas pela pandemia, às quais se juntaram a menor disponibilidade de navios e de contentores e a falta generalizada de mão-de-obra em áreas chave traduziram-se num desafio grande para quem tentava fazer chegar os produtos aos seus consumidores.
Como todas as crises, também a pandémica teve o seu lado “solar”, ao acelerar a corrida ao desenvolvimento tecnológico. Processos de evolução que se anunciavam há muito, mas que estavam congelados nos últimos anos, ganharam uma nova impulsão em 2021, que permite que já este ano comecemos a beneficiar deste boost tecnológico.
Por outro lado, também, a velocidade com que o mundo se adaptou, ganhando uma nova forma de comunicar e de gerir cadeias de abastecimento remotamente, foi um dos pontos positivos a retirar da situação. A otimização de processos, em alguns casos através da sua simplificação, e a capacidade para melhor monitorizar, à distância, as várias cadeias logísticas –algo que em 2019 era impensável – tornou-se uma realidade e não uma projeção futura.
Agora, é necessário que todos estejamos conscientes e ajustados a este novo contexto e que os profissionais do setor ganhem a capacidade de interpretar e analisar a enorme quantidade de dados que estão ao nosso dispor, mas, também, de executar análises que serão geradas pelos sistemas e, mais importante ainda, que consigam tomar decisões com base nelas.
Há ainda um tema que não poderíamos deixar de fora, o dos compromissos que a supply chain tem com o ambiente. A pegada ecológica da logística é amplamente conhecida e, em 2022, será impensável existirem empresas que não estejam comprometidas com o objetivo de criar um amanhã mais verde.
Otimizar fluxos, garantir a ocupação máxima dos veículos, reduzindo a quantidade de meios em circulação, reinventar redes de abastecimento, reutilizar energias e muitas outras soluções criativas devem ser implementadas para mantermos o pulmão logístico deste mundo mais saudável daqui em diante.
Nos próximos meses, teremos muitos desafios na cadeia de abastecimento global, mas acreditamos que em Portugal é importante focarmo-nos em superar os seguintes:
1. Retomar os fluxos
A redução global do consumo e de trocas comerciais, nos momentos mais duros da pandemia, resultaram num ajuste em baixa da oferta, em termos de meios e pessoas. A alteração de fluxos de importação e de exportação, à medida em que diferentes zonas do globo interrompiam ou retomavam capacidades produtivas, geraram desequilíbrios que tardarão a ser recuperados. No marítimo, esperamos que os fluxos de contentores retomem progressivamente a normalidade, que a oferta de transporte aumente e que os preços voltem à normalidade. Contudo, no imediato, ainda vamos viver meses com entropia nas cadeias logísticas, e com desafios árduos para as nossas empresas.
2. Falta de Pessoas
A falta de mão de obra vai continuar, não só nas cadeias logísticas, mas em todos os sectores, sendo os transportes rodoviários e os portos dos mais afetados. Adicionalmente, o custo do trabalho vai aumentar nos próximos anos. Paga-se mais pelo mesmo. E não podemos deixar de referir o impacto do aumento do preço do combustível nos custos logísticos. Tudo isto conduz a uma solução única: a busca por ganhos de produtividade e eficiência, que permitam manter ou melhorar a rentabilidade operacional.
3. Tecnologia
A pandemia trouxe, como já referimos, a oportunidade de dar o salto tecnológico, mas isso também traz custos mais elevados para as empresas. Os sobreviventes da pandemia não podem ficar à margem da automatização, da rastreabilidade de cargas, do track and trace online e ontime, do seguimento de processo em armazém em tempo real, entre outros. Contudo, este cenário focado na tecnologia, em que sublinhamos, todos saem beneficiados, implicará, inevitavelmente, investimentos não só na tecnologia, mas, também, na formação ou recrutamento de colaboradores mais classificados.
2022 será o ano da endemia. Assim o esperamos. Mas estaremos ainda a viver num mundo em que os efeitos da pandemia na cadeia logística global se mantêm intensos. Mais que nunca, têm que ser repensados os modelos logísticos que suportam cada atividade.
Quem se mantiver assente no mesmo modelo e soluções do passado, numa época em que tudo mudou, muito provavelmente estará a suportar custos logísticos desajustados, seja em termos económicos, seja em termos de qualidade de serviço.
Por outro lado, quem conseguir afetar tempo e recursos a reavaliar o modelo logístico que suporta o seu negócio poderá encontrar oportunidades que permitam, não só anular o impacto negativo da pandemia em termos logísticos, como também ganhar uma vantagem competitiva face à concorrência, que podia não ter antes de 2020.
Sara Monte e Freitas e Vasco Monte e Freitas, partners da Expense Reduction Analysts