Os desafios da cadeia de abastecimento estão longe de ter terminado e em 2022 as empresas terão de enfrentar vários problemas. “Devido a este momento sem precedentes, a cadeia de abastecimento está prestes a ter um ano de make-or-break e os problemas que a afectam têm de estar no topo das prioridades das administrações”, afirmou Susan Taylor Martin, CEO, da BSI. Estas declarações têm como base um estudo recente da empresa intitulado “Supply Chain Risk Insights” que prevê várias ameaças.
Criminalidade
O relatório observa que, no ano passado, “um número significativo de organizações criminosas tentou infiltrar-se na cadeia logística de abastecimento, disfarçando-se de empresas legítimas que trabalham em áreas como o armazenamento, transporte e distribuição”. O estudo chamou também à atenção para o problema das transportadoras falsas que têm aparecido num número crescente de países.
Como os preços globais aumentaram devido ao congestionamento e atrasos verificados no transporte terrestre, isto forçou algumas empresas a recorrerem ao transporte aéreo. O estudo nota que os cartéis criminosos estão a tirar partido das vulnerabilidades que estão a afectar estas novas cadeias nos EUA. Paralelamente à mudança para o transporte aéreo de carga, houve um aumento de organizações criminosas que introduziram drogas ilegais no transporte aéreo de carga, um aumento de 20% em Fevereiro de 2021 para 33,3% em Junho do ano passado.
Para evitar estas situações, a BSI aconselha as empresas a empreenderem a devida diligência ao entregarem as cargas nos seus fornecedores. Para além disso, aconselham a que seja feita uma avaliação de risco ao longo de toda a cadeia de abastecimento da empresa, para mitigar os riscos que são inerentes ao estabelecimento de parcerias com empresas situadas em vários pontos do globo.
Clima
As empresas procuram simultaneamente proteger as suas cadeias de abastecimento dos efeitos das alterações climáticas e garantir que conseguem cumprir as suas obrigações para contribuírem para um futuro mais verde. Por exemplo, a BSI observou que em 2021, pelo menos 18 empresas – em vários sectores de actividade – foram identificadas como fornecedoras de produtos originários de empresas que contribuem para a desflorestação na Amazónia. “Este tipo de associação pode potencialmente causar danos significativos à reputação dessas empresas e pode, em última análise, resultar numa queda das receitas”, afirma o estudo.
As alterações climáticas estão também a aumentar a frequência das catástrofes naturais. Por exemplo, o furacão Ida, em Agosto nos EUA, e o tufão Chanthu, em Setembro na China, causaram cumulativamente vários atrasos na expedição de mercadorias, que chegam assim a um ritmo desajustado ao seu destino na Califórnia. Isto tem contribuído para um aumento do stress nos portos de Los Angeles e Long Beach, que representam cerca de um terço de todas as importações dos EUA.
Interdependência
Outra ameaça às cadeias de abastecimento é a incapacidade das empresas para compreenderem como políticas que têm como objectivo a continuidade do negócio, a sustentabilidade, responsabilidade social e a segurança estão inter-relacionadas. As ameaças à continuidade das empresas podem levar a ameaças à segurança e vice-versa.
A escassez global de semicondutores exemplifica esta interdependência. Taiwan detém cerca de 90% da capacidade mundial de produção de chips semicondutores, uma concentração excessiva que contribuiu para a escassez global destes componentes. Além disso, factores como secas e surtos de COVID em Taiwan entre Abril e Julho de 2021 tiveram impacto na capacidade operacional, agravando a escassez global destes componentes. Esta escassez também criou problemas de segurança devido ao alto valor que estes passaram a atingir; por exemplo, um grupo de criminosos atacou um motorista de camião quando este transportava uma carga de alto valor de chips semicondutores em Hong Kong, roubando mercadorias no valor de 650 mil dólares.
Outro risco de alto nível – entre segurança cibernética e segurança física – fez manchetes internacionais em Abril de 2021. Nos EUA, hackers conseguiram ganhar acesso ao Colonial Pipeline, através de uma conta de uma rede privada virtual, que se destinava a permitir que os colaboradores da empresa (em teletrabalho) pudessem aceder remotamente à rede informática da empresa. O ataque conseguiu paralisar um dos maiores gasodutos dos Estados Unidos da América e levou à escassez de gás em toda a Costa Leste – devido a uma única palavra-passe que ficou comprometida.
Os problemas causados pela interdependência podem ser mitigados pelas empresas investindo mais na colaboração, assegurando que todas as partes da empresa e os seus parceiros compreendam que as ameaças que podem surgir da integração dos vários elos de uma cadeia de abastecimento e garantir que as várias equipas trabalhem em conjunto de forma a enfrentá-los.
