Depois de um ano aparentemente bom para a economia dos EUA em 2018, 2019 parece trazer novidades para as quatro modalidades de frete, mas em graus variados.
De facto, analistas do Cass Freight Index explicam que históricamente o sector dos transportes contraiu-se sempre antes da economia (e não depois), Isto com base em dados viáveis que passaram a estar disponíveis logo após a Segunda Guerra Mundial.
No seu relatório de Novembro, os analistas da Cass escreveram: “Os dados concretos do fluxo de bens físicos, que não são influenciados pela emoção humana, confirmam que as pessoas ainda estão a fabricar bens, a transportar bens e a comprar / consumir bens”.
Ainda assim, o índice começou a recomendar cautela e atenção às forças que podem alterar os bons momentos recentes. A Cass menciona a guerra comercial em curso que lança uma sombra de incerteza sobre grande parte do comércio exterior dos EUA e pode “estrangular” os volumes em algumas áreas-chave, como as exportações agrícolas.
Segundo a Cass embora a situação não seja dramática para os EUA, acham que vêem mais algumas nuvens de tempestade no horizonte para modos de frete específicos.
Transporte rodoviário: o arrefecimento
Depois de se terem batido recordes em 2017 e 2018, o transporte rodoviário vai certamente sofrer um abrandamento. Entre um ressurgimento no retalho e uma guerra comercial que atrasa as decisões, os transportadores provavelmente estão ansiosos e desejosos de um ambiente menos competitivo.
A taxa de desemprego extremamente baixa significa que a escassez de motoristas provavelmente veio para ficar, mesmo tendo em consideração que foram colocadas ordens de compra de novos camiões recorde em 2018 a serem cumpridas em 2019.
Transportadores e retalhistas estão a tentar encontrar soluções criativas que ajudem a manter os motoristas atrás do volante, mas essas soluções são caras..
O índice Cass não prevê inflação nos preços, mas até agora parece que os transportadores terão que gastar mais para continuar a operar como têm feito, este factor pode anular qualquer pressão negativa sobre os preços que a oferta e a procura possam causar.
Transporte marítimo: A IMO 2020 cria águas mais agitadas
As empresas de navegação têm uma tempestade no horizonte em 2019. Os níveis aceitáveis de emissões de enxofre dos navios têm de diminuir para 0,5% no dia 1 de janeiro de 2020, de acordo com os regulamentos da Organização Marítima Internacional.
Para os armadores, isso significa algumas decisões difíceis relacionadas com a modernização dos navios: utilizarem novas fontes de combustível; equipados com depuradores para filtrar as emissões e o abate de navios. Independentemente da escolha, tal trará aumento de preços.
As taxas de frete oceânico podem subir de 5% a 10% no início do ano. Neste momento, a tarifa para enviar um contentor da China / Ásia Oriental subiu para US $ 2.003 por TEU na Costa ocidental dos EUA, quando anteriormente era de US $ 1.722 e para $ 3.137 para a Costa Leste dos EUA, anteriormente deUS $ 2.779. De referir que os preços em Dezembro de 2018 ja eram considerados altos.
Analistas de A.T. Kearney afirmaram que: “Dado o baixo nível de prontidão para cumprir com as novas regras, a indústria global de transporte marítimo passará por uma transição desordenada e disruptiva na transição do novo quadro regulatório 2019. As implicações vão muito além da indústria naval”, de acordo com o relatório “Year-Ahead Predictions 2019” da A.T. Kearney Global Business Council “Estimativas Antecipadas de 2019” do Kearney Global Business Council.
Transporte Ferroviário: mudanças criam oportunidade
A área de crescimento mais significativa para a ferrovia nos últimos anos tem sido o transporte intermodal, e este pode ser afetados pelas mudanças no comércio, como já o foram nos fretes agrícolas ou de outras mercadorias a granel.
Na realidade o que vai acontecer em 2019, dependerá de como a economia americana e global se vão aguentar e dos impactos das políticas – particularmente monetárias e comerciais – emandas dos poderes legislativo e/ou executivo.
No entanto a falta de transferências modais significativas do transporte rodoviário, apesar dos problemas que os transportadores rodoviários enfrentam, continua a ser um problema potencial a longo prazo.
O que não está claro é como empresas ferroviárias poderão reagir a qualquer tipo de redução no volume. Os CEO’s da Canadian Pacific, Union Pacific e Norfolk Southern estão a implementar ou já implementaram novas soluções tecnológicas, que vão premitir horários mais precisos e o track&trace das mercadorias, permitindo que os clientes tenham uma melhor visibilidade da cadeia de abstecimento, estamos perante uma mudança de atitude, pois trata-se de informações que tradicionalmente as empresas ferroviárias guardavam para si.
Transporte aéreo: guerra de palavras e pouco mais
Uma coisa que provavelmente não passará das palavras em 2019 é a batalha pela supremacia do transporte aéreo. A Amazon tem vindo a entrar no transporte aéreo nos últimos anos, dando origem a especulações de que a UPS e a FedEx têem de começar a acautelar os seus negócios.
No início de dezembro passado , analistas do Morgan Stanley escreveram: “Acreditamos que o mercado está a ignorar o o risco que a Amazon Air representa para o crescimento da UPS / FDX”, projetando uma perda potencial de 10% de receita para UPS e FedEx até 2025.
A Amazon está de fato a construir um hub de US $ 1,5 mil milhões na zona de Cincinnati, que vai estar operacional em 2020 e terminado cinco a sete anos depois. Uma vez construído, o hub será capaz de acomodar 100 aviões e 200 voos diários. No final de dezembro, a Amazon Air adquiriu em leasing mais 10 Boeing 767, passando a dispor de 40 aviões.
Para se ter uma perspectiva, a UPS tem mais de 550 aeronaves em todo o mundo e faz mais de 2.200 voos domésticos e internacionais.
Em termos de infraestrutura de serviços aéreos, a Amazon está anos atrás da UPS ou da FedEx e embora alguns cenários de “invasão” tenham sido descartados por analistas, tanto a UPS quanto a FedEx parecem confiantes de que a Amazon Air não deve perturbar o status quo no sector da carga aérea.