Luís Albuquerque, Assessor de Direcção do Serviço de Logística e Stocks, Centro Hospitalar Lisboa Norte
O processo logístico hospitalar tem sofrido nos últimos anos em geral, mas em Portugal particularmente, um avanço muito significativo em diferentes aspectos da cadeia de abastecimento, e muitos deles, já sobejamente conhecidos, reconhecidos e até premiados.
Persiste, no entanto, uma lacuna na cadeia que ao contrário de outras áreas não tem tido ainda a merecida atenção, o investimento (de tempo e vontade) e desenvolvimento desejável: o processo de recall.
Bem sei que falar de recall, é falar de erros e defeitos, (quer detectados pelos próprios fabricantes quer identificados pelas entidades reguladoras e/ou hospitais), da assunção dos mesmos publicamente, (quem não se recorda ainda do escândalo dos implantes mamários?) e todos compreendemos que só por isto, já não seria um tema de fácil abordagem, muito menos na área da saúde.
Agora, convenhamos, não pode ser esse o motivo, para se continuar a adiar a introdução de um verdadeiro Plano Nacional de Recalls de Dispositivos Médicos (PNRDM), que permita tornar o circuito mais rápido, eficaz, fiável, e acima de tudo, mais seguro para o paciente num circuito tão complexo, como vital. Bem sei que hoje já dispomos de informação (lote; validade; referência; CDM), em tempo real de alguns dos dispositivos implantáveis, o que em muito melhorou a rastreabilidade dos mesmos, e o processo em si.
Ainda assim, se comparados, será uma ínfima percentagem face aos restantes dispositivos cuja informação continua quase inacessível, manual e (demasiado) lenta. Importa, contudo, perceber que a génese deste problema não é unívoca, (a maior complexidade dos dispositivos disponíveis actualmente, a pressão do mercado e a procura e desenvolvimento diferenciado de dispositivos, a utilização de avançado software, redução de custos em estudos e controlos de qualidade, problemas na esterilização de dispositivos, e tantos outros..), logo também não existem soluções milagrosas ou isoladas para um problema desta dimensão. Existem sim, oportunidades de melhorar este circuito que não devemos desperdiçar ou adiar.
Portugal tem hoje uma entidade reguladora atenta aos problemas do sector, e com vontade de os resolver. Tem instituições de saúde, públicas e privadas, com Serviços logísticos inovadores, atentos e ávidos de melhorias nos processos. Tem fornecedores, que querem ser parceiros activos nas mudanças pretendidas para o sector.
Se temos esta congregação de vontades e factores favoráveis, se temos um problema identificado e que precisa ser enfrentado descomplexadamente e urgentemente, a questão não é se esse PNRDM existirá, mas quando. Esperemos que esse quando, surja preventivamente e a tempo de ser testado e melhorado, e não apressada e reactivamente a uma qualquer fatalidade.
Luís Albuquerque
Assessor de Direcção do Serviço de Logística e Stocks
Centro Hospitalar Lisboa Norte