MODELOS DE LOGÍSTICA COLABORATIVA

Neste mundo de economia global, em que a integração das cadeias de abastecimento nunca atingiu níveis tão elevados, constatamos ainda hoje, falhas e quebras, que afetam não só a produção e a distribuição mas também os próprios consumidores.
Na verdade, grande parte dos custos comerciais advêm de “estrangulamentos” logísticos. Estes obstáculos podem ser lacunas físicas, burocracia ou escassez de serviços ou lacunas de interoperabilidade entre os diferentes intervenientes. Por outro lado, a competitividade logística está, frequentemente, dependente também da competitividade logística da área geográfica em que se está a operar. Diferentes regiões têm diferentes problemas logísticos, as regiões com menos densidade populacional e com menores acessibilidades tendem a ter maiores estrangulamentos logísticos e, consequentemente, em manterem-se menos competitivos.
Ora, o retalho como atividade de intermediação entre a oferta e a procura, tem como funções na Gestão da cadeia de Abastecimento, agregar a oferta e provocar o encontro com a procura, conferindo transparência ao mercado, apresentando produtos de diferentes concorrentes e potencializando a reestruturação da própria cadeia de abastecimento. Desta forma, às funções clássicas do retalho de constituir sortidos, de operar logística e de proporcionar aconselhamento e informação, devemos hoje acrescentar as funções da conectividade e da interatividade numa base de cooptição.

Por sua vez, para os consumidores é importante a facilidade de acesso/conveniência, os produtos/serviços oferecidos, o aconselhamento/informação prestada e, sempre que possível, a ausência de intermediação no processo de compra. E a crescente sensibilização do consumidor, aliada ao uso generalizado das redes sociais e à preocupação da comunidade global com a sustentabilidade segundo múltiplas dimensões de análise (ambiental, social, regiões geográficas, etc.) vem reforçar a necessidade de soluções que possam responder a essas preocupações sociais, criando oportunidades para a dinamização do empreendedorismo social com modelos de negócio disruptivos face à logística de entrega, tal como a conhecemos, na medida em que hoje é cada vez mais importante a diferenciação por via da oferta de serviços adicionais, como entregas mais rápidas e a disponibilização de serviços inteligentes capazes de automatizar o processo de encomenda e entrega dos produtos no local e momento pretendido pelo consumidor.

Os modelos de logística colaborativa pretendem revolucionar o ciclo do pedido (pedido-entrega); otimizar os processos visando a redução de custos, a melhoria do nível de serviços, e gerando sinergias entre fornecedores e clientes e, assim permitir, a descentralização física com centralização informacional através da Inovação disruptiva, isto é, uma força positiva que torna os produtos e serviços mais acessíveis e baratos tornando-os disponíveis a um número maior de pessoas; de uma logística disruptiva que assume como premissa desenvolver os canais de abastecimento aproveitando as ferramentas tecnológicas para gerar valor acrescentado às empresas e consumidores e usando tecnologia disruptiva na medida em que revoluciona de forma significativa as soluções anteriormente existentes criando novos mercados, produtos ou serviços.

Desta forma, os modelos de logística colaborativa proporcionam uma aproximação sistémica à visão da cadeia de abastecimento digital, como um sistema de integração vertical, decorrendo desta visão que o output logístico é maior do que o mero somatório das diferentes atividades que o constituem e aspirando ao melhor destas três realidades: sortidos largos e variados, redução dos fatores perturbadores da produção e baixos stocks, isto é, oferecendo assim um serviço total e completo com baixos custos.
Cada vez mais, a logística significa hoje para uma empresa a capacidade de gestão do trinómio tempo-custo-qualidade, de forma a obter respostas satisfatórias por parte do mercado que serve. A logística tem hoje implícita a ideia de que, para atingir uma gestão que sirva o mercado, se torna necessário um pensamento mais processual e menos hierarquizado, mais centrado no capital humano como potencial diferenciador de um projeto e não como um custo, e, finalmente, enquadrado por sistemas e tecnologias de informação e comunicação que garantam que possa ser possível uma união entre o mundo real e o mundo digital.

Há um aspeto, porém, que se tem tornado neste contexto deveras importante e que assenta na gestão e no domínio do tempo de resposta. Mas, como se pode chegar a uma resposta de tempo curto e máxima fiabilidade? Este é um desafio logístico a vencer, em termos futuros, até porque envolve trade-offs não desprezíveis. Como atrás referi, ao diminuir-se o tempo é natural que se diminua a qualidade da resposta e se aumente o custo. É aqui que a logística, e a gestão da cadeia de abastecimento, ou da rede, se revela mais uma arte do que uma ciência, de utilizar o tempo como variável de diferenciação e de estudar e perceber a importância do tempo no negócio desde o tempo de decisão até ao tempo de resposta ao mercado.
Deve-se apostar claramente nas aproximações através de parcerias, em que fornecedores, prestadores de serviços e clientes adotam posições de negociação cooperantes, com posturas do tipo jogo de soma não nula, para serviço ao mercado e para fomentarem respostas mais rápidas e eficazes, imbuindo o processo da necessária eficiência, naquilo a que vulgarmente se chamam parcerias win-win-win.
Se assim for, criar-se-ão verdadeiras Comunidades de Distribuição, assentes num efetivo e inovador modelo colaborativo multi-direcional, fornecendo todas as potencialidades para acelerar a gestão dos processos e para a partilha eficiente de dados, informações, transações, pedidos permanentes ou temporários, das quais sairá uma maior e melhor integração de todos os participantes da cadeia de valor.

José António Rousseau, PhD
Consultor e docente universitário
www.rousseau.com.pt

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