Investimento tecnológico não pode esperar mais

O setor logístico é fundamental para a economia mundial, com a globalização das cadeias de abastecimento. E ganhou maior protagonismo com as quebras e interrupções sentidas mais recentemente, com uma amplitude sem precedentes, primeiro com a pandemia de COVID-19, depois com a guerra na Ucrânia e, mais recentemente, com o conflito entre Israel e o Hamas, que veio trazer ainda mais instabilidade ao cenário internacional.

Tal como noutras áreas, a tecnologia e a inovação desempenham um papel crucial no desenvolvimento e crescimento do setor de logística. Sendo que as soluções devem ser dimensionadas, permitindo uma resposta eficaz aos principais problemas. Senão, veja-se:

  • Portugal enfrenta desafios de infraestrutura -> A IoT (internet of things) está a ser usada para melhorar o transporte público, como é o caso da utilização de sensores para monitorizar o tráfego e informar os utilizadores dos atrasos. A adopção de Sistemas de Gestão de Transporte (TMS) pode otimizar rotas e o agendamento de transporte, aliviando os problemas das infraestrutura;
  • A gestão de stocks ineficaz -> A Inteligência Artificial está a ser usada para prever a procura e otimizar os níveis de stocks. Soluções de software de gestão de stocks podem também reduzir custos e melhorar o controle de stocks;
  • Reduzir a pegada de carbono -> A transição para veículos elétricos ou híbridos, aliada à otimização de rotas, está a reduzir as emissões de carbono;
  • Rastreabilidade -> Adoção de sistemas de rastreabilidade, utilizando IoT e Blockchain. Permite a história de um produto, desde a matéria-prima até à prateleira, garantindo aos consumidores informações precisas, desde a sua pegada social e ambiental à redução do risco de compra de produtos ilegais, antiéticos ou contrafeitos;
  • Lidar com várias regulamentações e idiomas pode complicar as operações logísticas -> Utilização de plataformas de tradução automática e software de gestão de pedidos;
  • E-commerce -> Uso de algoritmos para otimizar as entregas de última milha (entrega ao domicílio a um cliente) e reduzir custos, bem como de drones para realizar as entregas;
  • Incerteza global, desastres naturais e interrupções -> A análise de dados está a ser usada para prever e mitigar estes riscos;
  • Os custos são um desafio constante -> A automação está a ser usada para reduzir os custos de mão-de-obra.

Portugal: Transformação digital no setor logístico
Sendo a logística essencial para o desenvolvimento económico, Portugal tem vindo a apostar na adoção de ferramentas tecnológicas de ponta para enfrentar os desafios com que este setor se confonta. E os exemplos de estudos de caso que mostram a forma como a transformação digital está a revolucionar esta atividade estão a multiplicam-se. Eis alguns casos:

  • JUP – Janela Única Portuária: simplifica o relacionamento entre entidades oficiais e agentes económicos no porto; permite a entrega automática e eficiente de informações eletrónicas, melhorando a eficiência e reduzindo a duplicação de esforços;
  • Uso de Drones com 5G nos Portos: a Administração dos Portos de Douro e Leixões apresentou um estudo de caso no EVOLVE – que a APDC organizou a 11 outubro, que demonstra como a tecnologia 5G e a utilização de drones podem melhorar a logística portuária. Os drones são utilizados desde a segurança do perímetro até à assistência na navegação dos navios e na inspeção de infraestruturas.
  • Gestão de Carga com 5G nos Portos: mais um caso apresentado no EVOLVE, em que o Porto de Aveiro está a implementar uma rede 5G da Vodafone para monitorizar e gerir cargas em tempo real. Com a solução, os operadores portuários têm agora maior visibilidade e controlo sobre as operações.

Estes são apenas alguns exemplos do compromisso de Portugal com a transformação digital no setor logístico. Destaque ainda para a automatização e a inclusão de inteligência artificial nos armazéns – o coração da cadeia de abastecimento. São desenvolvimentos que permitem eliminar tarefas repetitivas, melhorar a produtividade, aumentar a capacidade de resposta, reduzir tempos, otimizar o espaço físico, prever as necessidades de armazenamento, reduzir erros de execução e até personalizar o relacionamento com fornecedores e clientes.
Ter uma cadeia de abastecimento eficiente depende cada vez mais da IoT (Internet of Things), que, impulsionada pelo 5G, permite seguir cada etapa dos processos. Tecnologias como sensores, scanners ou sistemas de armazenamento de informação na nuvem (cloud) permitem a ligação entre armazéns, mercadorias, fornecedores e clientes e, consequentemente, monitorizar o estado do produto, localização, entre outros, até à entrega final.

Na logística, o conceito de última milha refere-se ao último trecho da entrega de uma carga/mercadoria, entre o centro de distribuição e o cliente final. Esta é também a fase mais complexa, pois envolve um conjunto de variáveis relacionadas com a eficiência e os custos da operação e, mais crucial, impacta diretamente na relação com o cliente. E, muitas vezes, é a que regista mais lentidão e ineficiência, tendo como consequência que muitas pessoas não voltam a comprar a uma empresa que falhou na entrega. Assim, é essencial garantir a maior precisão e personalização, pelo que o setor logístico tem vindo a desenvolver meios alternativos de entrega, como os Smart Lockers, Crowdshipping, Drones e até Robots.

A logística interna, que diz respeito ao conjunto de fluxos de informação dentro das fronteiras da empresa/armazém, é fundamental para o sucesso, pois permite otimizar processos, agregar valor a produtos e serviços, reduzir custos e aumentar a produtividade. Para ajudar neste fluxo, é essencial investir na implementação de Software de Gestão, por exemplo, para permitir gerir toda a informação relacionada com a logística da empresa.

Finalmente, terá de haver ainda um compromisso da logística com o ambiente. Implementar soluções que respeitem elevados padrões éticos para o planeta é essencial para o sucesso do setor, que, aliás, tem uma pegada de carbono relevante. Optar por uma frota menos poluente, otimizar e reinventar os fluxos de circulação e entrega e investir em edifícios autossustentáveis são algumas das possibilidades.

Temas como a automatização, IoT, IA ou drones estão hoje na ordem do dia do setor e a serem já utilizados por alguns dos players do mercado. Mas é inevitável que, no futuro, o acesso a estas soluções se democratize, estendendo-se a todo o tecido empresarial do setor. Esta é uma atividade que nos próximos anos passará momentos críticos para o seu desenvolvimento e quem não se adaptar rapidamente corre o risco de não sobreviver. O investimento em tecnologias digitais é, por isso, essencial para enfrentar os desafios atuais e futuros.

Sandra Fazenda de Almeida, Diretora Executiva da APDC

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