A “logística” anda de comboio ou no comboio?
António Nabo Martins, CP Carga, SA
Observamos que a DB AG definiu como principal estratégia para o crescimento, um processo de aquisições e de integração de cadeias logísticas, tanto que nos últimos anos, a sua subsidiária DB Schenker revelou-se bem-sucedida, pois permite-lhe controlar o transporte de qualquer tipo de carga da origem ao destino.
A logística, ainda hoje é o parente pobre da ferrovia. Apesar dos grandes operadores ferroviários Europeus terem apostado definitivamente na “logística”, para superarem as dificuldades trazidas pela simples actividade ferroviária, a grande maioria continua na senda do simples transportador (carrier) da mercadoria que lhe é apresentada.
Vejamos então, porquê apostar na logística ferroviária? Os operadores ferroviários pela necessidade de aumentar a quota de mercado, os clientes pela necessidade de transportar de forma sustentável e competitiva e o mercado porque requer soluções mais eficazes e eficientes.
A globalização alterou o paradigma da produção e consumo. Hoje produz-se e consome-se de forma mais pulverizada mas também mais feroz, ou seja, as quantidades são muito mais, mas a dividir por muitos mais. Ora, se a ferrovia é eminentemente uma solução para grandes distâncias, cargas e volumes e se é verdade, a pulverização da produção e do consumo, então como agregar estas cargas, sem uma verdadeira integração logística dos vários agentes? Quer-me parecer que não é possível. Esta integração revela-se nomeadamente quando é necessário decidir sobre o que é mais sustentável, competitivo, eficaz e mais barato.
Ser sustentável está normalmente associado a três dimensões – social, económica e ambiental. Ser competitivo e eficaz está normalmente associado a ser melhor que os outros e o mais barato, à realidade Portuguesa. Ninguém em Portugal compra pelos três factores aqui exibidos, mas apenas e só pelo último. No entanto, quando a ferrovia consegue desenhar cadeias logísticas em cooperação e à medida do seu cliente, quando este define bem, o que tem e o que quer, quando este sabe como e para onde quer ir e chegar, tudo é mais simples. A experiência diz-me que estas soluções são eficazes porque perduram no tempo de forma sustentável e competitiva.
Estamos à espera do quê? É fundamental referir que o caminho-de-ferro não é um pronto-a-vestir. É uma alfaiataria que desenha, produz e confecciona um “produto” à medida do seu cliente.
Apesar de já ter sido igualmente assumido pelo Governo a necessidade de criar um novo modelo para o sector ferroviário, para que possa introduzir mais concorrência, inovação e eficiência e mais gestão, em momento algum se percepciona como será. Será a privatização? Será a concessão? Talvez…
António Nabo Martins
Responsável pela área de Transporte Combinado e Internacional da CP Carga, SA