RESIDIR NO ESTRANGEIRO
A necessidade de Planeamento
Carmen Belo, Project Leader Logistics Cluj
Após 35 anos a viver e a trabalhar em Portugal, resolvi aceitar o convite de integrar um projeto deveras aliciante através da minha empresa e aventurei-me a residir no estrangeiro. Iniciei assim o ano em Ansbach, uma simpática cidade de 40.000 habitantes na Baviera.
Apesar de já ter migrado de Lisboa para Braga há 7 anos, desta vez os “relocation services” fizeram a diferença vencendo alguns obstáculos que, verdade seja dita, muito passam pela barreira linguística. Os próprios alemães são os primeiros a dizer, em tom de piada, que, devido aos inúmeros dialetos, a língua estrangeira mais falada no seu país é o alemão!
As principais diferenças sentidas ao chegar foram o clima, a alimentação, a rede de ciclovias e a preservação da natureza. Foi com surpresa que me deparei com uma rede de ligação à internet menos desenvolvida, tendo trocado a fibra (30 Mb/s) por 12Mb/s e também a rede bancária não é tão abrangente como o nosso Multibanco. Ao emigrar há um conjunto de pequenas coisas que tem de se reaprender. Não se trata somente de uma língua nova, mas também de diferentes formas de interação e organização pessoal. Em geral, o povo alemão guarda uma boa impressão de Portugal e dos portugueses, mas tendem a restringir o contacto à esfera profissional, enquanto o círculo de novos amigos, que gradualmente se forma, abrange todo um grupo multinacional de ex-patriados (americanos, ucranianos, romenos, espanhóis, chineses, australianos, húngaros), o que torna a experiência muito enriquecedora e divertida.
Fazendo uma comparação mais macro, a Alemanha orgulha-se de deter uma rede social bastante abrangente e é notório o quanto preza a sua independência financeira. Actualmente, discute-se a definição do salário mínimo garantido, pois um em cada 10 alemães (*) mantém um segundo emprego como “mini-job”, que é a designação para trabalho a tempo parcial auferindo diretamente 450€/mês sem descontos. O sistema educativo é dual com intermitência entre estágios e aulas, o que favorece as empresas pois gozam desta reserva de mão-de-obra e integram júniores pré-selecionados com experiência prévia. O tecido empresarial está muito mais distribuído, pois qualquer pequena povoação pode ter uma indústria de dimensão mundial. Constata-se que em geral estas empresas têm uma relação muito forte de apoio à comunidade local.
Do ponto de vista logístico, a rede ferroviária é mais desenvolvida e o tráfego de camiões é incrível, uma vez que a Alemanha contitui uma passagem de Leste ao resto da Europa. A seguir à Finlândia, a Alemanha detém o Logistics Performance Index mais desenvolvido da Europa, com 4,03 (**), o que reflete a perceção da Logística deste país baseada na eficiência dos processos, qualidade da infraestruturas, indicadores como Track&Trace e On-Time Delivery e facilidade em obter preços competitivos.
Bom, em jeito de conclusão, uma coisa é certa, para uma mudança bem sucedida é necessário planeamento, o que não só é um fator fundamental da Logística, mas também do mindset alemão!
(*) Fonte: Spiegel online 12.08.2013
(**) Fonte: últimos dados disponibilizados online pelo Banco Mundial, referentes a 2012
Carmen Belo
Project Leader Logistics Cluj
6 Dezembro 2013
