O NOVO PARADIGMA DOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO

Em menos de cem anos, a Logística passou de um mero processo de aprovisionamento e distribuição física de produtos, para um processo integrado e complexo, quase um fio condutor da economia de influência transversal e de forte impacto, na qualidade de produtos e na rentabilidade das empresas. Hoje, há que possuir da logística uma visão atual, expandida e holística, encarando-a como uma filosofia, uma atividade e um processo de gestão da oferta e da procura ao longo de toda a cadeia de abastecimento, ou melhor, da rede de abastecimento.
Na verdade, de um processo relativamente simples no passado, a evolução entretanto ocorrida acrescentou-lhe novos factores de complexidade, tais como, o ambiente e a sustentabilidade, as novas tecnologias, a competitividade, a integração e a compressão dos custos. Nestas condições, os próprios operadores logísticos tiveram de acompanhar esta evolução passando dos serviços básicos de transporte e armazenamento para os serviços avançados e de valor acrescentado, como a gestão de stocks, embalagem e assemblagem e caminha agora para as soluções globais.
Por sua vez, o espectro de factores que exigem a logística inversa é múltiplo e variado, indo desde as devoluções provenientes de produtos avariados ou danificados, de inventários sazonais, de excessos de stock, de retiradas de produtos do mercado ou de vendas à consignação até à recolha para reutilização de materiais de transporte tais como paletes, caixas ou contentores. E, na fronteira ou no cruzamento com a logística verde, podemos incluir ainda na logística inversa, a recolha de resíduos de embalagem, de resíduos perigosos, de produtos eléctricos e electrónicos obsoletos ou de subprodutos de origem animal. De facto, o impacto da logística inversa e da logística verde nas empresas, como facilmente se percebe, é brutal e incide sobre importantes áreas da atividade empresarial, nomeadamente, a económica ou financeira, a tecnológica/inovação, o marketing, a sustentabilidade e a responsabilidade social.

Mas, o sector da logística está a reformular-se intensamente e inovações potencialmente disruptivas estão a começar a fazer o seu caminho. Ideias e conceitos em evolução estão a colocar novos desafios surpreendentes e, muitas vezes, colocam em causa o compromisso tradicional do progresso incremental. Por outro lado, muitas novas tecnologias estão a emergir, cada uma delas colocando aos operadores logísticos novas e interessantes oportunidades de negócio.
Uma tendência desta evolução consistirá em oferecer serviços modulares, flexíveis e configuráveis, criando uma nova geração de modelos de negócio que afectarão todo o mercado logístico através da integração de fluxos “cross-border”, serviços premium e na gestão e coordenação de operadores regionais e locais (coopetição), formando grandes redes globais.
A logística urbana ou capilar será outro grande desafio por força da crescente densidade populacional, de tráfego e seu impacto ambiental, tais factores, combinados com a crescente relevância do comércio electrónico e da entrega domiciliária, exigem novas abordagens à logística urbana, tanto do ponto de vista da eficiência, como da sustentabilidade. Por outro lado, num contexto de globalização e de crescimento dos estilos de vida digital, os marketplaces logísticos irão criar oportunidades para novos serviços que podem ultrapassar a segmentação geográfica e funcional, melhorando significativamente a eficiência dos custos logísticos e a utilização da capacidade instalada. À medida que o comércio electrónico crescer, assim também a integração do valor acrescentado digital na logística se tornará fundamental, uma vez que os clientes esperam que a logística esteja ao mesmo nível de toda a experiência on-line.

Por sua vez, também as redes sociais irão cada vez mais oferecer oportunidades de negócio para os operadores logísticos, incluindo-se aqui atividades de primeira e última milha de “crowdsourcing”, por exemplo. A nova cultura de partilha, troca e revenda de artigos pessoais conduzirá ao incremento das atividades entre consumidores, especialmente a nível local, regional e nacional pelo que às empresas logísticas irá pedir-se que respondam a estas necessidades, oferecendo serviços simples e flexíveis de primeira e última milha, que respondam a estas novas necessidades dos clientes. Tais necessidades exigirão métodos inovadores de transporte, soluções de embalagem inteligente e monitorização da cadeia de abastecimento em tempo real, através da utilização de redes standard, já existentes, para transportar produtos diferenciados.
Incontornáveis, no futuro, serão também as tecnologias de robótica e automação que irão contribuir para processos logísticos eficientes e permitir novos níveis de produtividade, oferecendo sérias alternativas à movimentação manual. As melhorias na performance dos robots, a sua velocidade e rigor repetitivo e uma melhor relação entre o custo e a performance, conduzirão a uma utilização mais intensiva destas tecnologias em diferentes áreas operacionais.
Outra grande tendência passará pela informação em tempo real sobre os envios, permitindo novas solução para a gestão dinâmica de rotas e serviços de valor acrescentado tais como entregas flexíveis que respondam aos desafios dos novos desenvolvimentos demográficos e urbanos. Navegação dinâmica, controle de tráfego e optimização de rotas facilitarão a gestão de situações mais complexas ou de exceção como por exemplo, entregas canceladas, condições ambientais alteradas, avisos de emergência. Por outro lado, a adopção de tecnologias de realidade aumentada está a expandir-se em vários sectores nomeadamente em pontos de venda e entrepostos, proporcionando benefícios significativos ao nível do planeamento logístico, operações e produção, modelação dinâmica de armazéns, simulações de fluxos, execução de operações de armazenagem, pick-by-vision por exemplo, reduzindo erros e tempos de processamento.

Em jeito de conclusão diria que a fasquia está cada vez mais alta. Os consumidores querem tudo e para ontem, envios mais rápidos e mais baratos, melhores devoluções, melhor serviço ao cliente pelo que os retalhistas e seus operadores logísticos terão de conseguir responder a estas exigências e saber gerar um efetivo valor acrescentado nas suas operações, considerando-se este como a diferença entre aquilo que os consumidores pagam nas lojas e os custos que o sector assume, com os seus fornecedores e com os processos que implementa, para oferecer mais vantagens e benefícios aos consumidores.
Desta forma, serão geradores de valor acrescentado todas as ações implementadas pelos distribuidores e operadores logísticos atrás referidas que incidam sobre produtos, processos e pessoas, que melhorem a relação de proximidade com o consumidor, que assentem em mais informação e inovação, que contribuam para o desenvolvimento logístico e racionalidade de processos, que utilizem novas tecnologias e facilitem a integração da cadeia de valor, uma vez que, como nos estamos a aperceber neste contexto da crise pandémica provocada pelo novo Coronavírus, o futuro exigirá uma verdadeira mudança de paradigma ao nível da concepção e desenho dos canais de distribuição.

José António Rousseau, PhD
Consultor e professor universitário
www.rousseau,com.pt

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