Realizou-se na quarta feira, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, a primeira conferência subordinada ao tema “As cidades e a logística” organizada pela Aplog. Embora a temática da logística urbana, seja por todos considerada muito importante e coloque muitos desafios a todos os intervenientes, sejam entidades públicas, retalhistas e operadores logísticos a verdade, segundo Raul Magalhães é que estes temas são discutidos de forma avulsa inseridos noutras conferências, mas não tinham um fórum próprio especializado.
No painel liderado e coordenado pela Accenture e subordinado ao tema “Os novos desafios da logística urbana”, que contou com a presença de Manuela Vaz, da Accenture, Ana Leandro da Auchan, João Gaspar da Silva dos CTT, Jorge Oliveira da DHL Parcel Portugal e Maria Teresa Castro da Sonae. Todos os intervenientes concordaram que o comércio electrónico tem aumentado o problema da logística urbana, ao multiplicar o número de entregas dentro das cidades, uma vez que já era uma operação difícil face ao congestionamento das mesmas. Este facto coloca problemas de sustentabilidade, da própria cidade (qualidade do ar, mobilidade, ruído, etc.), mas também dos modelos de negócio.
A exigência dos consumidores por entregas cada vez mais rápidas, obrigam à introdução de alterações na supply chain (centros de distribuição pequenos dentro da cidade, lojas mais pequenas capazes de fazer entregas no próprio dia em casa do consumidor). Por outro lado, há a dificuldade sentida pelos operadores logísticos em realizar as entregas, porque a maioria dos consumidores opta pela entrega em casa, mesmo sabendo que não vai estar presente para as recepcionar. Trata-se de um problema que só pode ser resolvido através de incentivos aos consumidores para tentar que estes optem por entrega em cacifos, service points ou entregas no emprego.
José Raimundo, da Lactogal, lembrou que o Estado e as Câmaras Municipais são uma parte muito importante desta equação, não sendo possível resolver muitos dos problemas sem a sua participação. Por sua vez Joaquim Vale, da Santos e Vale, declarou que embora não haja “soluções miraculosas”, pode dar-se pequenos passos que ajudariam a resolver os problemas no curto prazo, como permitir que os transportadores públicos de mercadorias, pudessem usar as faixas bus, que durante a maior parte do tempo estão vazias.
O painel “Energias – Que Alternativas e infra-estruturas”, coordenado pelo Inegi e presidido por Alcibíades Soares Guedes, contou com a participação de Vasco Granadeiro da Effacec, Jorge Pinto da CaetanoBus, Nuno Moreira da Dourogás e Stephan Herbst da Toyota Motor Europe. Os intervenientes concordaram que estamos numa fase de transição energética e que é difícil fazer apostas 100% seguras quanto ao momento actual. Mas concordaram que em termos básicos tudo o que é actualmente movido a gasolina no futuro, provavelmente, será movido a electricidade e o que é a diesel sê-lo-à por veículos com células de hidrogénio. O GNL é um combustível de transição que embora não seja livre de carbono, reduz as emissões consideravelmente, mas acima de tudo resolve o problema do ar nas cidades, um dos grandes problemas da actualidade. Este combustível é também muito importante na industria marítima, pois quando comparado com os actuais combustíveis não refinados, tem indices de carbonização «muito mais baixos».
Qualquer das actuais soluções têm os seus problemas. Os carros eléctricos têm problemas de autonomia e do tempo de abastecimento, as células de hidrogénio é uma tecnologia que «não está madura, são muito caros», havendo ainda o problema da infra-estrutura para os abastecer, que é reduzida e tem uma taxa de utilizadores «extremamente baixa». De facto, neste momento, o GNL parece surgir como a grande opção, principalmente no transporte rodoviário de pesados e sector marítimo, como aliás é apontado pela UE, pois os custos são razoáveis e podem descer rapidamente, a infra estrutura está parcialmente montada e a crescer rapidamente. Por outro lado, a utilização dos postos de abastecimento tem duplicado anualmente na Península Ibérica.
Miguel Castro Neto, da Universidade Nova, fez uma apresentação subordinada ao tema “A evolução das cidades”. Chamou a atenção para a importância da tecnologia na gestão das mesma e para o facto de muitas empresas e o próprio Estado, gerarem dados que são abertos e podem ser utilizados por qualquer pessoa. Dados esses que podem ser integrados em novas aplicações e ajudar a resolver problemas de gestão que são complicados. Também as redes sociais servem de base a muitas possibilidades, utilizado o modelo de crowdfunding. Discute-se por exemplo a viabilidade do crowdshipping, em que alguém que vai fazer uma viagem leva uma encomenda para outra pessoa.
O último painel, “Tornar a logística urbana uma realidade”, painel com coordenação da Deloitte e moderado por Diogo Santos, contou com a participação de Gustavo Duarte da Antram, João Carvalho da AMT, Miguel Bandeira da Câmara Municipal de Braga e Sofia Taborda da Emel. Foi referido que para tornar a logística urbana uma realidade são necessários cinco pontos básicos: infra-estruturas; Frota; tecnologia; regulação e funcionamento em ecossistema. Diogo Santos, referiu que o transporte aéreo é um excelente exemplo de funcionamento em ecossistema, pois todos os seus intervenientes criam um conjunto de regras que todos acatam. Por exemplo, o código de um aeroporto é igual em todo o mundo, como também o é um código de uma companhia aérea e o conjunto de regras são iguais acatados por todos. Salientou-se ainda que o congestionamento das cidades é um problema difícil, desde a mobilidade até aos espaços para realizar operações logísticas, tendo por exemplo sido sugerido pela Antram que através da regulação este tipo de operações pudesse ser atribuído aos transportadores públicos de mercadorias. Ainda no campo da regulação, foi admitido, que muita vezes os regulamentos são reactivos, mas reconheceu-se que a realidade cria novas situações e só depois de estas se materializarem é que é possível analisar o problema e resolver o mesmo.