Na última década o percurso dos portos nacionais tem sido verdadeiramente notável.
Num período em que a economia como um todo sofreu grande instabilidade, os portos nacionais conseguiram manter um ritmo de crescimento elevado, cerca de 4,5% tem sido a taxa de crescimento média do movimento da carga nos portos do Continente.
Muitos são os fatores que explicam este elevado crescimento da movimentação da carga em porto e, sem dúvida que, os carregadores, os donos da carga, a indústria transformadora, o setor primário e o setor energético, entre outros setores, contribuíram em muito para a performance conseguida. Uma boa parte do crescimento resulta da reação da indústria nacional que, num cenário de redução da procura interna, procurou novas encomendas e novos mercados fora do país aumentando as exportações.
Outro fator extremamente relevante que esteve na base do crescimento da carga em porto foi o consistente trabalho de melhoria contínua e de cooperação que todos os players do setor têm vindo a realizar, desde há vários anos, no sentido de melhorar toda a logística relacionada com os portos, que fez com que o sistema portuário nacional esteja mais competente, mais eficiente e mais capaz de entregar valor à economia nacional. Foram várias as entidades que cooperaram e contribuíram para esta dinâmica e movimento que permanentemente deteta e sugere pontos de melhoria no processo logístico-portuário. Desde logo as administrações portuárias, mas também os agentes de navegação, as alfândegas, a autoridade marítima, o capital humano que trabalha nos portos foram, entre outros agentes e entidades que contribuíram decisivamente para uma melhor performance do setor.
Quando se olha para a evolução dos tempos, percebemos que a tecnologia digital tem aumentado muito de importância nas nossas vidas, de tal forma que é uma das megatendências à escala global. A PwC efetuou um inquérito sobre o impacto da revolução digital na economia do mar tendo sido possível concluir que a grande maioria (90%) dos 50 líderes de entidades da economia do mar inquiridos consideram que a revolução digital terá um grande impacto na economia do mar e, em particular, no setor dos transportes marítimos, portos e logística.
Este processo de intensificação das tecnologias nas nossas vidas está também associado ao facto das invenções tecnologias num tempo cada vez mais curto se tornarem tecnologias acessíveis a todos, tecnologias de massa. Esta mudança constante de tecnologia está a moldar a economia gerando mudanças com grande intensidade.
Os portos não estão imunes a este fenómeno da tecnologia e da economia digital e estando a preparar-se para um futuro cada vez mais digital, criando a Janela Única Portuária que evolui para a Janela Única Logística, têm a consciência de que as alterações tecnológicas são uma constante, não permitindo estabilizar no processo inovador.
Estima-se que em 2020 cerca de 50 mil milhões de aparelhos, em todo o mundo, estejam ligados à internet. Talvez um terço sejam computadores, smartphones, tablets e televisões. Os restantes dois terços serão sensores que analisam, controlam e otimizam processos em todo o mundo. Acredita-se que a Internet das Coisas (ou até a Internet de tudo), incorporando o cloud Computing, data analytics e mobile communications, represente um salto tecnológico semelhante à introdução do computador.
Os portos portugueses posicionaram-se muito bem na era do digital, através da dinamização de projetos de referência internacional. Este bom posicionamento tecnológico deve ser capitalizado e a “digitalização” do setor portuário e logístico deve ser acelerada, na medida em que não basta ter uma estratégia para o digital, no futuro será necessário ter uma estratégia completamente alinhada com a nova era digital. Caso os portos de Portugal consigam continuar a estar na vanguarda deste processo poderão ambicionar estar no grupo restrito de países que liderarão a mudança de paradigma que está neste momento em curso.
Sabendo que a performance do setor da logística está fortemente relacionada com a fiabilidade das cadeias de abastecimento, que são cada vez mais complexas e vitais para a competitividade do país, e com a previsibilidade dos serviços de expedição para produtores e exportadores, o sucesso futuro dos portos depende de reformas abrangentes e de compromissos de longo prazo por parte de todos os players do setor. Portugal tem de fazer uma abordagem pragmática à sua logística e aos seus portos, executando os projetos que elencou para o desenvolvimento das suas infraestruturas, fazendo o benchmarking contínuo com referências internacionais, adotando, assim, as melhores práticas e medindo e acompanhando a nossa evolução. Este caminho é um caminho de investimento na otimização do hinterland através do desenvolvimento de plataformas logísticas estrategicamente localizadas, criação de ligações ferroviárias eficientes que otimizam a capacidade de carga do equipamento e uma malha ferroviária mais densa, nomeadamente nas ligações aos corredores das redes transeuropeias, otimização do transporte rodoviário internacional e articulação com o transporte aéreo.
O crescimento dos portos portugueses registado nos últimos anos é, sem dúvida, um caso de sucesso que deve ser sublinhado no contexto nacional. Muitas entidades contribuíram, ao longo do tempo, para este êxito. Para que o crescimento registado no passado se mantenha no futuro é fundamental continuar o espírito de cooperação entre todos os players e associações envolvidas no processo logístico portuário marítimo. Só a manutenção de um elevado espírito de cooperação entre todos os players que se relacionam com os portos permitirá a criação de pontes de comunicação entre todos, fundamentais para garantir a agilidade do sistema portuário que, num mundo em constante mudança, estará na base do sucesso futuro!
Miguel Marques, Partner PwC