Do Atlântico ao Índico e Oceânia. O Desafio Logístico das 17508 Ilhas!

pedroconceicao

pedroconceicaoDo Atlântico ao Índico e Oceânia. O Desafio Logístico das 17508 Ilhas!

Paulo Conceição, Nokia Solutions and Networks

Quando em 2011 me convidaram para gerir o Supply Chain da NSN na Indonésia, pensei em Bali e nas Ilhas paradisíacas que a minha mulher e eu teríamos a oportunidade de conhecer. Efectivamente assim foi. Indonésia é um país cheio de recantos incríveis. Desde praias, vulcões, templos, fauna e flora e pessoas incrivelmente simpáticas que te sorriem e cumprimentam todos os dias com um: Selamat Pagi Mister!

Mas, e como fornecemos e damos acesso à rede de telecomunicações móveis a todas estas ilhas onde habitam mais de 240 milhões de pessoas?

Quando deixei Lisboa em 2008 para ir para Madrid e gerir a Península, passei da gestão de uma equipa de 10 pessoas e dois armazéns para uma equipa de mais de 50 pessoas e mais de 10 armazéns, aproximadamente 20.000m2. Sete anos depois, os números são totalmente diferentes. Falamos de uma equipa que chegou a ser de 150 pessoas (2011) e mais de 150.000m2, em armazéns espalhados pelas principais ilhas – Java, Sumatra, Sulawesi, Kalimantan, Bali e Papua. Os números não são assustadores, mas são um desafio diário, bastante enriquecedor para a minha experiência e carreira profissional. De facto, a dimensão deste país e a sua geografia inspiram-te a dares o melhor de ti todos os dias!

O desafio da distribuição prende-se com o facto de grande parte das “Deliveries” serem multimodais. Desde a saída do armazém central de Jakarta em camião, até chegar as Gili Island via barco e posteriormente ao site em burro e carroça. Sim, isso mesmo, não existe carros ou estradas nas Gili Island em Lombok.
Todos os dias temos de ultrapassar as barreiras existentes e garantir as entregas dentro dos SLA acordados e KPI definidos com os clientes e parceiros logísticos. O sucesso das entregas em tempo e sem custos adicionais fazem a diferença.

Custos adicionais? Sim! Também neste campo o desafio é enorme. Muito dos sites não são como na Europa no topo de um prédio ou ao lado de uma auto-estrada e de fácil acesso. Por exemplo, se um site fica numa das aldeias remotas de Sumatra, há que pagar ao chefe da aldeia o chamado “Community costs”. Quanto? Isso dependerá de quanto remota for a aldeia e dos cbm da entrega… Para dar uma ideia, poderá ser entre 200.000 rupias e 10.000.000 rupias, algo entre 15 e 600 euros… Fica à prova a tua perseverança e capacidade negocial. Se, por exemplo, o site se encontra em Kalimantan, provavelmente, teremos de utilizar uma barca de madeira para passar um dos muitos rios e riachos da Ilha. Este “charter boat” custará em função da quantidade de barcos disponíveis (lei da oferta e procura), distância e volume. E não, não existe uma tabela de preços. Tudo é adhoc e com muita paciência…

Um mundo à parte que me tem ensinado a trabalhar com mais disciplina e planeamento. É impossível o JIT e as entregas urgentes para ontem. Apenas com muita comunicação e trabalho em equipa constante entre Account Managers, Project Managers, Network Planners, Financial and Controler e nos Supply Chain é possível planear as entregas com, pelo menos, dois meses de antecedência e ultrapassar com êxito muitas das barreiras que diariamente se te colocam e que ao final do dia te dão a sensação de satisfação e missão cumprida.

Paulo Conceição
Head of Supply Chain Management Indonesia
GOPS APAC Region
Nokia Solutions and Networks

Written by